São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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carreira

mudança de hábito

Decepcionados com cursos ou com mercado de trabalho, jovens não se intimidam e mudam de área

Raimundo Pacco/Folha Imagem
Mariana, que largou ciências sociais para trabalhar com cinema


LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para muitas pessoas, o momento de marcar o "x" na faculdade em que vai se inscrever no vestibular é de verdadeiro pânico.
Dúvidas em relação ao curso e à carreira podem a atormentar os jovens vestibulandos, principalmente aqueles que fazem o processo de seleção imediatamente após o colegial.
Muitas vezes, as respostas só chegam com algum tempo de faculdade ou até de experiência profissional. Mas quando alguma delas é negativa e o aluno percebe que não leva jeito para a coisa, há sempre a possibilidade de mudar de área.
Foi o que fez a estudante Ana Paula Souza, 19. Depois de um ano estudando biomedicina, ela decidiu voltar para o cursinho e fazer vestibular novamente, desta vez para a faculdade de medicina.
"Achei o curso muito básico e percebi que a carreira do biomédico tem muita análise clínica, trabalho de laboratório. Eu gosto de ter contato com as pessoas, quero ter acesso aos pacientes", diz a estudante.
Ana confessa que sentiu um pouco de medo de largar o curso após o primeiro ano. "Voltar para o cursinho é muito cansativo, tem muita pressão. Mas é a única maneira de eu fazer o que gosto", conta.
Trajetória semelhante tem Tiago Kohl, 20. Ele fez três meses de relações internacionais em Buenos Aires, depois cursou um ano de publicidade no Mackenzie, em SP, desistiu e agora vai prestar faculdade de moda. "Fiz estágio em uma agência e percebi que não era a minha praia. Quero trabalhar com criação, ser estilista. Não quero ficar o dia inteiro trancado em um escritório", diz.
A família, conta Tiago, não gostou muito da segunda mudança de curso. "Eles queriam que eu terminasse publicidade, mas eu falei que não adiantava nada eu passar mais três anos estudando algo de que não gosto, principalmente quando eu sei o que quero", diz o garoto que, após um mês de argumentações, convenceu os pais a aceitarem o novo vestibular.
A fotógrafa Juliana Manara, 25, hoje tem um estúdio fotográfico e faz trabalhos como freelancer, mas também já teve que tomar a dificil decisão de abandonar um curso após um ano "pagando mensalidade". Ela cursou arquitetura mas, logo no começo, percebeu que queria fazer jornalismo.
"Não foi uma decisão fácil, mas valeu a pena", diz a garota. A primeira faculdade também lhe rendeu frutos na carreira de fotógrafa. "O curso dá uma noção de estética importante. Já tive que fazer fotos de arquitetura e as aulas da faculdade ajudaram bastante."

Depois de formados
Nem sempre é necessário largar uma faculdade e começar outra para mudar de área de atuação.
A cientista social Mariana Maurer, por exemplo, nunca chegou a exercer a profissão para a qual estudou e abraçou o cinema como carreira.
"Durante a faculdade, tive aulas de sociologia da arte e estudei cinema. Foi aí que eu percebi que gostaria de trabalhar com isso", conta.
Para Mariana, a carreira acadêmica, a mais usual entre os cientistas sociais, é um tanto "parada": exige muitas horas de biblioteca, leituras e reflexão.
"Sou agitada, preciso de um trabalho mais dinâmico, por isso fui para a área de produção", diz a garota, que já fez estágio nos longas "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, "É Proibido Fumar", de Anna Muylaert, e agora trabalha no filme "Eu e Meu Guarda-Chuva", de Toni Vanzolini.
Além disso, ela dirige uma mostra de curtas em Campinas (SP), sua cidade natal.
O namorado de Mariana, Mateus Loner, 26, acompanhou os passos da garota.
Ele se formou em filosofia na Unicamp, mas também enveredou pelo audiovisual e pretende seguir carreira como fotógrafo de cinema.
Mesmo assim, não trocaria a faculdade de filosofia por uma de cinema. "O curso de filosofia cria um senso crítico e uma visão histórica abrangente. Ele te dá traquejo, ensina a aprender. Quem estuda filosofia tem mais facilidade para entender as coisas", defende Mateus.
Aos 26 anos, ele tem sete curtas-metragens no currículo e já fez estágio em dois longas. Agora, para complementar a formação, planeja fazer cursos livres ou até uma pós-graduação em cinema.
Formada em engenharia, Tatiana Kawano, 24, percebeu que não queria trabalhar na área ainda na faculdade, depois de fazer alguns estágios. Mesmo assim, não desistiu do curso.
Em um processo de seleção para uma grande empresa, arriscou a área de marketing. Conseguiu uma vaga na equipe de inteligência de marketing e nunca mais quis mudar.
"A engenharia é um curso amplo. Você pode trabalhar tanto na área técnica quanto na administrativa. Tive uma matéria optativa de marketing no meu curso que já serviu como base", diz Tatiana, que pretende agora fazer uma especialização em marketing.


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