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GRAFITE
Mangá sai dos quadrinhos e espalha-se pelos muros
MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um estilo diferente de fazer grafite, até
então pouco explorado pelos brasileiros, começa a ganhar as paredes de São
Paulo. É o mangá, nome dado em referência ao estilo do traço dos desenhos
das histórias em quadrinhos japonesas.
Personagens com olhos grandes, braços e pernas mais compridos do que o
normal e cabelos coloridos estão se espalhando por alguns bairros da capital, como Liberdade (centro), reduto da comunidade oriental, e São Mateus, na zona
leste, onde os orientais não têm tanta
participação na vida cultural da região.
A explicação dos grafiteiros é que tanto
quem conhece as tradições orientais
quanto aqueles que não fazem idéia do
que seja uma cerimônia do chá acompanham os desenhos japoneses do Pokémon, Dragon Ball e Digimon.
E é a forma dada aos próprios personagens desses desenhos que inspiram os
grafites de artistas como os do estudante
Bruno Mota da Silva, 18. Ele vive em São
Mateus e foi um dos pioneiros no estilo
mangá da região.
"Faço grafite mangá porque o estilo
permite que o artista consiga colocar
mais expressão no desenho", diz. Ele
afirma que os olhos grandes e os cabelos
coloridos dos personagens que grafita
chocam as pessoas pela expressividade.
Segundo Bruno, há três anos, quando
ensaiou seus primeiros grafites mangá
pela região onde vive, não era compreendido pelos moradores.
"As pessoas tinham muito preconceito
devido à falta de informação. Com a popularização dos seriados de TV japoneses, o preconceito foi diminuindo", diz.
Os trabalhos também vêm carregados
de mensagens. Em um de seus desenhos,
Bruno mostra, por exemplo, um garoto
parecido com o Ash, do Pokémon, com
o rosto amarelo segurando uma lata de
cerveja onde está desenhada uma maçã
mordida. Segundo Bruno, a mensagem
desse trabalho é um alerta de que o vício
leva à doença.
Segundo o artista plástico e professor
de grafite Celso Gitahy, 33, a adaptação
do mangá à arte de rua permite ao grafiteiro deixar uma marca personalizada.
"O grafite, assim, passa a ser reconhecido cada vez mais como uma arte plástica
e não apenas como uma forma de protesto marginal", diz.
Nem todos os grafiteiros que adotaram
o traço mangá, entretanto, entraram em
contato com o estilo a partir dos seriados
de TV.
Os veteranos afirmam que foram influenciados pelo mangá moderno em
sua versão original, como HQs, que começou a se popularizar no Japão na década de 50 com os desenhos de Osamu
Tezuka, segundo o professor de desenho
mangá Claudio Imamura, 31.
O grafiteiro Hamilton Yokota, 27, conhecido como Titi, trabalhou como ilustrador de HQs e passou a fazer grafite
mangá como passatempo.
Ele é da mesma geração do grafiteiro
Fábio Ribeiro, 30. Binho, como assina,
aprimorou seus conhecimentos de mangá no Japão, onde viveu por nove meses.
Os traços definidos do mangá, segundo
ele, criam uma identificação com a arte
de rua. "O mangá é tão agressivo quanto
o grafite em si", afirma.
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