São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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MALABARISMO

Jovens malabaristas discutem se devem ou não se apresentar nos faróis de trânsito: para alguns, essa prática desvaloriza o trabalho; para outros, sua arte deve ser democratizada

Polêmica no farol

DA REPORTAGEM LOCAL

Com a crise econômica na Argentina em 2001, muitos artistas de rua do país vizinho vieram tentar a sorte no Brasil. Na época, ainda era raro ver malabaristas nos faróis de trânsito, e esses argentinos faziam algum dinheiro. Aos poucos, o malabarismo foi se popularizando e conquistou muitos adeptos entre jovens da classe média no Brasil. Hoje em dia, esses artistas dividem o espaço com meninos de rua, que viram na atividade uma forma de obter alguma renda.
O local onde o malabarismo deve ser praticado virou uma polêmica entre os jovens que o praticam. Os artistas questionam se essas apresentações nos faróis banalizam ou não o que consideram uma arte.
A espanhola Celia Roig, 22, que aprendeu recentemente a jogar bolinhas e namora um malabarista profissional, acha que o trabalho no farol desvaloriza a atividade. "Na rua, cobra-se pouco por um trabalho que vale muito. Isso desvaloriza o cachê. Depois, não vão querer pagar por algo que está na rua de graça."
Segundo ela, há diferença entre a apresentação em praças e em faróis de trânsito. "Na Europa, há muita arte nas praças e parques, isso alegra a cidade. Mas no sinal não dá para transmitir sentimentos, a única coisa que transmite é que a pessoa precisa de dinheiro. Acho que sinal é para os meninos de rua, que precisam desse dinheiro."
Thiago Augusto Roque, 22, que pratica malabarismo apenas por lazer, concorda. "Na praça, o artista comanda o tempo e sabe que quem vê se interessa pela arte. No farol, o motorista é obrigado a assistir ao que nem sempre lhe interessa." Sobre os meninos de rua, ele acha que os malabaristas deveriam ajudá-los, "esclarecendo sobre os caminhos das artes circenses".
Já para o malabarista Otávio Fantinato Bordin, 23, quem condena as apresentações em farol é "meio egoísta". "Acho que a arte tem que ser divulgada, não elitizada, e o farol é mais um local para isso. É bobagem falar que desvaloriza, às vezes ganho mais em farol do que em eventos."
Segundo ele, a diferença entre os meninos de rua e os artistas é que os primeiros passam de carro em carro pedindo contribuições, enquanto os malabaristas apenas passam o chapéu, sem bater nos vidros. "Para os meninos de rua, é uma necessidade, uma contribuição assistencial."
O malabarista Igor Lagos, 21, condena a participação dos meninos de rua. "Criança no farol é uma forma de exploração infantil. Mas, se você for artista e tiver o que mostrar no farol, é bom para a população."
Kelly Regina David, 23, também não vê problemas nas apresentações nas ruas. "Desvaloriza um pouco, mas divulga e possibilita que todo mundo veja o que é bom e bonito. No farol, muitas vezes as pessoas estão estressadas e depois da apresentação a cara delas muda."
(ALESSANDRA KORMANN)

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