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MALABARISMO
Jovens malabaristas discutem se devem ou não se apresentar nos faróis de trânsito: para alguns, essa prática desvaloriza o trabalho; para outros, sua arte deve ser democratizada
Polêmica no farol
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a crise econômica na Argentina
em 2001, muitos artistas de rua do
país vizinho vieram tentar a sorte no
Brasil. Na época, ainda era raro ver malabaristas nos faróis de trânsito, e esses argentinos faziam algum dinheiro. Aos poucos, o
malabarismo foi se popularizando e conquistou muitos adeptos entre jovens da
classe média no Brasil. Hoje em dia, esses
artistas dividem o espaço com meninos de
rua, que viram na atividade uma forma de
obter alguma renda.
O local onde o malabarismo deve ser praticado virou uma polêmica entre os jovens
que o praticam. Os artistas questionam se
essas apresentações nos faróis banalizam
ou não o que consideram uma arte.
A espanhola Celia Roig, 22, que aprendeu
recentemente a jogar bolinhas e namora
um malabarista profissional, acha que o
trabalho no farol desvaloriza a atividade.
"Na rua, cobra-se pouco por um trabalho
que vale muito. Isso desvaloriza o cachê.
Depois, não vão querer pagar por algo que
está na rua de graça."
Segundo ela, há diferença entre a apresentação em praças e em faróis de trânsito.
"Na Europa, há muita arte nas praças e parques, isso alegra a cidade. Mas no sinal não
dá para transmitir sentimentos, a única
coisa que transmite é que a pessoa precisa
de dinheiro. Acho que sinal é para os meninos de rua, que precisam desse dinheiro."
Thiago Augusto Roque, 22, que pratica
malabarismo apenas por lazer, concorda.
"Na praça, o artista comanda o tempo e sabe que quem vê se interessa pela arte. No farol, o motorista é obrigado a assistir ao que
nem sempre lhe interessa." Sobre os meninos de rua, ele acha que os malabaristas deveriam ajudá-los, "esclarecendo sobre os
caminhos das artes circenses".
Já para o malabarista Otávio Fantinato
Bordin, 23, quem condena as apresentações em farol é "meio egoísta". "Acho que a
arte tem que ser divulgada, não elitizada, e
o farol é mais um local para isso. É bobagem falar que desvaloriza, às vezes ganho
mais em farol do que em eventos."
Segundo ele, a diferença entre os meninos de rua e os artistas é que os primeiros
passam de carro em carro pedindo contribuições, enquanto os malabaristas apenas
passam o chapéu, sem bater nos vidros.
"Para os meninos de rua, é uma necessidade, uma contribuição assistencial."
O malabarista Igor Lagos, 21, condena a
participação dos meninos de rua. "Criança
no farol é uma forma de exploração infantil. Mas, se você for artista e tiver o que mostrar no farol, é bom para a população."
Kelly Regina David, 23, também não vê
problemas nas apresentações nas ruas.
"Desvaloriza um pouco, mas divulga e possibilita que todo mundo veja o que é bom e bonito. No farol, muitas vezes as pessoas
estão estressadas e depois da apresentação
a cara delas muda."
(ALESSANDRA KORMANN)
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