da Reportagem Local

No meio do caminho entre Racionais MC's e Gabriel o Pensador, a dupla mineira P.MC e DJ Deco Murphy mescla raps tradicionais com músicas mais suingadas.
Alterna sons pesados e sociais com músicas de letras leves, procurando fazer um trabalho mais acessível, sem perder a atitude rapper.
Em "Identidade", lançado no começo do mês pela Virgin, P. e Deco apresentam suas influências. "W/Brasil", de Jorge Benjor, é sampleada na faixa "Alô Brasil". Em "Vamo Falá!", o refrão traz parte da música "Deixa Isso pra Lá", famosa na voz de Jair Rodrigues: "Deixa que diga, que pense, que fale, deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem...".
Além desses, a dupla cita como grande influência James Brown e Dr. Dre e ainda o funk dos anos 70.
Para chegar nessa fórmula mais moderada, P.MC conta que teve dificuldades. "O Deco tinha a cabeça mais aberta e me influenciou. Eu vim para São Paulo e caí direto no hip hop, enquanto ele via as coisas de fora."
"Acho que o resultado é bom, porque não ofendemos o meio black e não fomos tachados de comédia", diz DJ Deco.
Como todo bom grupo de rap, a dupla tem suas preocupações sociais e não abre mão de falar delas. Melhores condições de vida, fim da repressão policial, respeito dos moradores da periferia por eles mesmos e fim da desigualdade social são os temas enumerados pelo rapper P.MC, em entrevista a Folha.
Os assuntos aparecem claramente em algumas faixas do CD. Em "Luz Vermelha" e "A Caçada Continua", o medo da polícia na periferia é o mote. A revolta com a desigualdade surge em "Isso Aqui Também É Nosso". Já "Carta para os Manos" denuncia a falta de união no movimento.
Mas "Identidade", primeiro de um contrato de três discos, traz também músicas leves, que falam, por exemplo, da infância na periferia ("Não Queria Crescer"), de bailes black ("Vibrações Positivas") e de amor ("Minha Companheira").
Procurando incentivar a união no movimento rapper, a dupla recebe no disco muitos convidados. A banda Charlie Brown Jr., por exemplo, tem participação especial na faixa "Vai Pirar". "Logo que conheci o Chorão (vocalista do Charlie Brown) rolou uma integração. Ele gosta de rap, e resolvemos nos juntar", conta P.MC.
Na música "Não Queria Crescer", a "canja" fica por conta do Fat Family. Já a banda Muamba participa de "Minha Companheira". Na faixa-título, a dupla conta com a presença do grupo Calibre Verbal.
Em "Isso Aqui Também É Nosso", faixa com 6m44, participam, entre outros, MV Bill e as bandas Visão de Rua -formada por mulheres- e Câmbio Negro.
"Gostaríamos de deixar claro que incentivamos as mulheres no rap", diz P.MC. "As meninas da Visão de Rua têm muita atitude. São mais do que muito homem, principalmente cantando."
Quanto à contextualização do grupo entre os Racionais MC's e Gabriel o Pensador, P.MC diz: "Respeitamos a postura e o radicalismo dos Racionais e a versatilidade e a inteligência de Gabriel". "Queremos conquistar o público em geral, mas sem perder o da periferia", completa Deco.
Mineira de Juiz de Fora, a dupla conheceu o movimento hip hop em 88. Nessa época, o hip hop de rua chegava a juntar até 800 pessoas no calçadão da rua Halfeld, um dos "points" da cidade.
A 200 km do Rio de Janeiro, Juiz de Fora é um pouco maior que Campinas (SP) e também tem seus problemas sociais. "A cidade mudou muito de uns anos pra cá", diz Deco, que ainda mora lá. "Tem gente morrendo até por causa de bala perdida."
(BRUNA MONTEIRO DE BARROS)