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Mulatas de biquíni versus um piloto boçal
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
...e lá vem um piloto americano, xucro
e boçal, daqueles que devem achar
que o México é um Estado dos EUA e que
se referem ao país onde nasceram como
"mundo", aprontar com a Polícia Federal
do Brasil, mostrar o dedo, dar risadinhas e
fazer renascer a chama do antiamericanismo gratuito em nosso país pobre com sede
de vingança.
É por causa de gente desse tipo -como
esse piloto, Dale Hersh, 53 anos de pura estupidez, ou como o
presidente Bush e
seus asseclas- que
o coeficiente de ódio
dirigido aos EUA
aumenta exponencialmente no planeta.
O comandante do
avião da texana
American Airlines
comportou-se como todo americano caipira e
ignorante quando sai de seu país: como se estivesse na casa da mãe Joana, livre das regras
draconianas que regem o convívio social nos
EUA. Resumindo: acha que pode fazer o que
bem entender e fica tudo certo.
Mas, como culpar esse piloto, que no limite
é um cidadão comum no pleno exercício de
sua cretinice, se o presidente do país dele chama os gregos de "grecianos", diz em Roma
que acha espantoso como americanos e italianos usam palavras em comum (exemplo que
ele deu: "fórum") e pergunta ao então presidente Fernando Henrique Cardoso se "o Brasil também tem negros"?
É assustador como o governo Bush resume
e reflete o que de pior existe no espírito americano. Na semana passada, vi no canal Fox
News uma coletiva de Donald Rumsfeld, o
homem-forte do governo Bush, em que ele
disparava ofensas e ironias contra Paul
O'Neill, um ex-secretário do Tesouro de
George W. que acaba de publicar suas memórias, bastante críticas em relação à atual administração americana.
Pois bem: a agressividade de Rumsfeld ao
responder aos jornalistas faria um daqueles
ataques de ira de Antonio Carlos Magalhães
parecer uma sessão de meditação com Mahatma Gandhi...
Em oposição a tudo isso, à truculência americana, temos o quê?
Sim, temos a manemolência carioca, as mulatas de biquíni recebendo com ginga os turistas sonados que pousam no aeroporto do Galeão!
É festa, é alegria, chope e Carnaval! Tudo se
resolve na base do carinho, do improviso, da
bagunça e do talento, que beleza, olê-olá, alalaô, u-hu! E que ninguém se atreva a mexer
com nossa pátria verde-amarela, que a gente
vira bicho.
Entre o Texas bronco de Bush e a malandragem plastificada do aeroporto internacional
do Rio, acho que vou pegar o próximo avião
para Buenos Aires. O aeroporto de lá tem um
açougue dentro do free-shop, é verdade, mas,
pelo menos, quando estive ali no final de
2003, ninguém me recebeu dançando em trajes típicos, nem me fizeram deixar as impressões digitais.
Hasta la vista, baby.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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