São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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Mulatas de biquíni versus um piloto boçal

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

COLUNISTA DA FOLHA

...e lá vem um piloto americano, xucro e boçal, daqueles que devem achar que o México é um Estado dos EUA e que se referem ao país onde nasceram como "mundo", aprontar com a Polícia Federal do Brasil, mostrar o dedo, dar risadinhas e fazer renascer a chama do antiamericanismo gratuito em nosso país pobre com sede de vingança.
É por causa de gente desse tipo -como esse piloto, Dale Hersh, 53 anos de pura estupidez, ou como o presidente Bush e seus asseclas- que o coeficiente de ódio dirigido aos EUA aumenta exponencialmente no planeta.
O comandante do avião da texana American Airlines comportou-se como todo americano caipira e ignorante quando sai de seu país: como se estivesse na casa da mãe Joana, livre das regras draconianas que regem o convívio social nos EUA. Resumindo: acha que pode fazer o que bem entender e fica tudo certo.
Mas, como culpar esse piloto, que no limite é um cidadão comum no pleno exercício de sua cretinice, se o presidente do país dele chama os gregos de "grecianos", diz em Roma que acha espantoso como americanos e italianos usam palavras em comum (exemplo que ele deu: "fórum") e pergunta ao então presidente Fernando Henrique Cardoso se "o Brasil também tem negros"?
É assustador como o governo Bush resume e reflete o que de pior existe no espírito americano. Na semana passada, vi no canal Fox News uma coletiva de Donald Rumsfeld, o homem-forte do governo Bush, em que ele disparava ofensas e ironias contra Paul O'Neill, um ex-secretário do Tesouro de George W. que acaba de publicar suas memórias, bastante críticas em relação à atual administração americana.
Pois bem: a agressividade de Rumsfeld ao responder aos jornalistas faria um daqueles ataques de ira de Antonio Carlos Magalhães parecer uma sessão de meditação com Mahatma Gandhi...
Em oposição a tudo isso, à truculência americana, temos o quê?
Sim, temos a manemolência carioca, as mulatas de biquíni recebendo com ginga os turistas sonados que pousam no aeroporto do Galeão!
É festa, é alegria, chope e Carnaval! Tudo se resolve na base do carinho, do improviso, da bagunça e do talento, que beleza, olê-olá, alalaô, u-hu! E que ninguém se atreva a mexer com nossa pátria verde-amarela, que a gente vira bicho.
Entre o Texas bronco de Bush e a malandragem plastificada do aeroporto internacional do Rio, acho que vou pegar o próximo avião para Buenos Aires. O aeroporto de lá tem um açougue dentro do free-shop, é verdade, mas, pelo menos, quando estive ali no final de 2003, ninguém me recebeu dançando em trajes típicos, nem me fizeram deixar as impressões digitais.
Hasta la vista, baby.


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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