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Roda-viva
Flávio Florido/Folha Imagem
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Looks do desfile da Depeyre no Amni Hot Spot,em São Paulo |
Desfiles de jovens estilistas servem de trampolim para as "new faces", ninfetas que alimentam o circo da moda
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
"Moda é simplesmente uma forma de
feiúra tão insuportável que nós somos obrigados a mudá-la a cada seis meses." Essa frase mal-humorada torna-se
engraçada quando se sabe que seu autor,
o dândi irlandês Oscar Wilde (1854-1900), foi precursor do que se convencionou chamar de "vítimas da moda".
Se, por um lado, a sede por novidades a
cada seis meses não muda desde a Inglaterra vitoriana (1837-1901) de Wilde, por
outro, na ditadura da imagem de hoje,
não são só as roupas que precisam de renovação periódica. Os rostos também.
Assim, o circo da moda que se instalou
em São Paulo desde a semana passada
com os dois maiores celeiros de novos
estilistas -a sexta edição do Amni Hot
Spot e a 15ª Semana de Moda Casa dos
Criadores-, apresenta também uma
boa amostra das "new faces", as modelos
que prometem dar o que falar nesta e nas
próximas temporadas.
Em três dias, o Amni Hot Spot mostrou as coleções de inverno 2004 de 15
marcas de jovens estilistas. Nos bastidores do primeiro dia de desfiles, na última
quarta-feira, mais do que as novíssimas
criações penduradas nas araras à espera
de ganhar corpos na passarela, chamava
a atenção a infinidade de garotas e garotos pouco conhecidos, que, maquiados e
penteados, esperavam, um tanto nervosos, a sua vez de aparecer.
Eles sabem que é nos desfiles dos novos
criadores que está a chave para deslanchar na carreira e conseguir visibilidade
para dar o passo seguinte: desfilar na SP
Fashion Week, que acontece de 28 de janeiro a 3 de fevereiro.
Ainda começando a carreira, Lucy
Horn, 14, deixou a cidade de Estrela, no
Rio Grande do Sul, para desfilar para Erica Ikezili no Hot Spot.
"Antes deste desfile, tinha vindo só
quatro vezes a São Paulo. Desta vez, também fiz vários castings [testes de seleção]
para o SP Fashion Week e espero conseguir entrar nos desfiles", conta a gaúcha,
que planeja mudar para São Paulo no
ano que vem, depois de terminar a oitava
série.
Aline Thielke, 13, de Condor, também
no Rio Grande do Sul, compartilha a
mesma vontade de vir para São Paulo no
próximo ano. Depois de fazer o desfile
que considerou o "mais importante" de
sua carreira na quarta, ela já pensa no futuro com uma certa apreensão. "Não sei
se eu vou agüentar ficar longe da família", sofre por antecipação.
As duas dão uma boa amostra de uma
obsessão no mercado de modelos: as
ninfetas. Para Renato Júnior, 35, booker
da agência Elite, o interesse dos estilistas
por garotas novas se dá porque elas ainda não têm uma personalidade definida.
"Eles gostam porque o que aparece mais
é a roupa. Ninguém fica reparando em
como ela está andando, como a roupa ficou nela, essas coisas", diz.
O stylist (produtor) Rogério S., 38, responsável por dois desfiles para a Fashion
Rio, vai além: "A obsessão do mercado
existe porque, quando elas são novinhas,
têm um corpo incrível e um frescor. Mas
acho que as ninfetas ficam melhores
quando amadurecem, quando começam
a transar", arrisca. "Eu também identifico uma tendência no mercado de querer
mulher com cara de mulher, não de menina", completa.
A coordenadora do departamento fashion da agência Mega, Laura Vieira, 29,
concorda que as modelos melhoram depois que crescem. "Mas o mercado gira
dessa forma, as novinhas são lindas, e é
essa a hora de começar a formá-las."
Com jeito de mulher e dona de uma beleza clássica, Barbara Berger, 18, que
abriu o desfile de Fabia Bercsek no Amni
Hot Spot, é uma das apostas do mundo
da moda para este ano.
Na última temporada, ela desfilou em
Milão, Paris e Nova York e é quase certa a
sua presença tanto no SP Fashion Week
quanto no Fashion Rio, que acontece de
21 a 24 de janeiro no Rio. Sua receita para
brilhar na passarela vai além da beleza e
da técnica: "Você tem de se sentir na roupa", diz.
Barbara é modelo desde os 14 anos e,
até estar pronta para aparecer, teve de
construir um visual, o que nem sempre é
fácil. "Sempre quis ser modelo, mas,
quando tinha 14 anos, o pessoal da agência em que eu trabalhava quis cortar meu
cabelo, que era comprido. Nessa hora, eu
quase desisti", conta.
Saldão de beleza
O aparecimento do novos rostos faz girar a indústria da moda, mas explorar a
novidade é apenas um dos aspectos dessa
operação de reciclagem sem fim.
"A importância das novas meninas é
que, com elas, a gente consegue equilibrar o orçamento. A questão da grana é
fundamental. É claro que um desfile tem
de ter as tops, mas não é possível fazer
um desfile só com elas", afirma Rogério
S.. "A mesma coisa acontece lá fora, as
modelos brasileiras começam a se dar
bem porque são opções que pesam menos no orçamento", completa.
Para a estilista Rita Wainer, que irá
apresentar a nova coleção da Theodora
amanhã na Semana de Moda Casa dos
Criadores, que começou no sábado, o
casting de modelos tem tudo a ver com o
dinheiro que se tem para produzir o desfile. "A gente não tem acesso às modelos
que estão bombando", diz.
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