São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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comportamento

Armada antipirataria

Pasme, ainda há gente que vive sem comprar discos piratas nem baixar músicas e seriados

DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Qual foi a última vez em que você baixou uma música, um filme ou o episódio de uma série pela internet? Ou tirou da carteira algumas poucas moedas e levou para casa um game ou DVD pirata? Talvez tenha sido ontem, ou no ano passado, já que ainda é início de 2009 -e hoje em dia é quase impossível ter menos de 30 anos e seguir a lei, que bane a pirataria e os downloads ilegais. Mas há gente, pasme, que consegue.
"Sou contra a pirataria, nunca comprei um CD ou DVD pirata. Nunca baixei um filme, só vejo no cinema ou quando chegam à locadora", conta a estudante de administração Marcela Lima Carneiro, 20.
Ela sabe que é "ave rara" no ninho. "O pessoal fala pra mim: "Que besteira", porque eu acho mancada, sacanagem com quem ralou para fazer um filme ou um CD. Fui até expulsa da classe uma vez, porque o professor de inglês era a favor da pirataria e eu discuti com ele."
Flávia Elinelek Oliveira, 16, recusa-se a comprar ou mesmo ver um filme pirata. "Sou radicalmente contra tudo isso porque o autor, o cantor, fez um trabalho honesto, como qualquer outro, e desse jeito não recebe nada por ele. As pessoas não têm o direito de se aproveitar do trabalho dos outros", diz.

Na contramão
"Sei que estou na contramão da minha geração, mas não baixo nada na internet nem compro nada pirata. Agora, quem só aprecia música e cinema vai procurar ter acesso a eles do jeito mais confortável, sem gastar dinheiro, independentemente de isso ser legal ou ilegal", diz a estudante de cinema Amanda Natalie Oliveira, 23, para quem a pirataria atrapalha muita gente, "não só os poderosos da indústria artística".
Ex-saxofonista de uma banda de forró universitário do interior de São Paulo, Amanda sentiu na pele o lado ruim da pirataria. Sua banda gravou um CD demo, que foi parar nas bancas de camelôs de São José dos Campos e virou sucesso.
"Em cada lugar, as músicas tinham um nome diferente, porque quem pegou o CD não sabia os títulos corretos, e eu vi várias capas diferentes também. Por um lado, como custava R$ 5, as pessoas compravam e nossos shows em festas de faculdade ficavam lotados", diz.
"Por outro, a gente não ganhou um centavo com essas vendas, pessoas que a gente nem conhecia lucravam com o nosso trabalho, e a gente ralou muito, pagou muito dinheiro pelas horas de estúdio, para gravar, mixar", conta ela.

Mudança de conceito
Amanda acha que o próprio conceito da pirataria ganhou novos sentidos, devido à demanda de sua geração.
"Atualmente, você mesmo pirateia um disco para os seus amigos, não por dinheiro, mesmo sem ganhar nada em troca. Quem não tem um gravador de CD, de DVD? Eu perdi o CD da minha própria banda, e um amigo copiou e deu pra mim uma cópia", conta.

CD é mais legal
Isadora Werner Goes, 18, uma adepta das estantes repletas de discos originais, tem uma coleção em casa de cerca de 1.500, contando com os dos pais. "É muito mais legal ter o CD que só o arquivo mp3", compara ela, que baixou "In Rainbows" pela internet "porque o Radiohead disponibilizou o disco para os fãs".
Fã de séries americanas como "House", "Lost" e "C.S.I.", Nayane Naamy Carvalho, 15, não usa a internet para matar a vontade de ver seus episódios sem o atraso com que chegam ao Brasil na TV paga -uma temporada pode estrear por aqui meses ou mesmo anos depois de ir ao ar nos EUA. "Prefiro ir à locadora ou à loja. Não fica tão caro, porque cada série tem uma caixa por ano, então eu reservo as minhas favoritas. A internet é um recurso ilimitado, é mais fácil, mas eu não acho confiável nem certo", diz.

Impossível parar
Outra adolescente que nunca comprou um produto pirata e também se recusa a vê-los é a estudante de cinema Bruna Torres, 18. "Por um lado, a internet ajuda muitos artistas jovens, que usam a rede para divulgar o seu trabalho. Mas, no máximo, eu vejo alguns trechos de um filme no YouTube, nunca o filme todo, aos pedaços", diz ela, que admite não ser fácil andar na contramão.
"Eu até baixo músicas na internet... Parece menos errado", conta. "Não estou justificando isso pelos preços altos dos CDs. A minha coleção de DVDs eu estou montando aos poucos; já tenho uns 70 filmes. Mas baixar músicas virou um costume, é impossível parar."


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