DA REPORTAGEM LOCAL

"Estou preso na minha própria casa hoje em dia. Não posso atravessar o túnel. Meu filho não tem ido à escola. Não tenho deixado, porque ele estuda na Gávea e moramos na Barra. Por quê, cara? Porra! Há políticos e política, sabe?"
É assim, nesse clima de pessimismo, que Marcelo Bonfá, 39, ex-baterista da Legião Urbana, lança seu segundo trabalho solo, o CD + DVD "Bonfá + Videotracks".
A declaração dele diz respeito ao verdadeiro campo de batalha que se tornou a favela da Rocinha nos últimos dias, entre a Barra da Tijuca e o bairro da Gávea, na zona sul carioca, onde seu filho mais velho, de 16 anos, estuda. "O disco reflete essa violência toda e também a guerra do Iraque. A música "Balada #9" é uma crítica antiamericana."
Marcelo se refere à seguinte letra, escrita em parceria com Gian Fabra, baixista que acompanhava a Legião Urbana nos shows do grupo: "Esperamos a justiça que virá dos céus/sob as areias brancas mais um ouro negro/toda esta farsa já não é nenhum segredo".
Ele explica seu processo de criação no álbum e na composição das letras: "Trabalhei, primeiro, com a harmonia, a melodia e os timbres. Aí criei a melodia para a voz e depois vou letrar isso junto com o Gian. Ele me mandava o que escrevia por e-mail e eu telefonava para falar minhas idéias. No fundo, tem coisa que nem eu sei o que escrevi nem ele sabe. A gente lembra vagamente quem escreveu o quê".
"Bonfá + Videotracks" é um disco de rock, mas traz interferências de sons da música eletrônica à la Radiohead. "Adoro o trabalho deles e desses artistas que fazem essa mistura, como a cantora Bjork e a dupla Air, cujo último disco ["Talkie Walkie'] tenho ouvido direto."
Feito no estúdio caseiro de Bonfá, o CD traz dez faixas e é acompanhado por um DVD de remixes eletrônicos de sete músicas do disco, com imagens (as "videotracks") feitas por videomakers como Jera Calderon, Luiz Stein e Gustavo Caldas, coordenador do projeto ao lado de Bonfá, autor dos remixes, que não são voltados para os clubes.
"Sempre ouvi Kraftwerk, mas não sou freqüentador de pista. Então pedi para um amigo que curte, e ele me deu um CD com trabalhos de DJs, mas achei muito impessoal. Então resolvi fazer eu mesmo." (LEANDRO FORTINO)