São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
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ELES TECEM O FUTURO
Sexo seguro em Brasília

FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

Pelas largas avenidas de Brasília e cidades vizinhas, circulam quatro jovens quixotes decididos a orientar outros jovens sobre sexualidade, prática do sexo seguro e trabalhos sociais. Eles são integrantes do Grupo Atitude (fundathos@fundathos.org.br).
"Nossa intenção é trabalhar com protagonismo juvenil, ajudar o jovem a ser autor de ações sociais relevantes", diz Edson de Moraes, 19, fundador do grupo, ao lado de Sérgio Nascimento, 21, e dos irmãos André Luis, 16, e Renato Faria de Araújo, 15.
Uma carona foi suficiente para esses jovens descobrirem interesses comuns e darem início a uma cruzada para viabilizar suas intenções. A experiência de Sérgio com a ONG Arco-Íris, que dá assistência a 120 portadores de HIV, os inspirou a escolher o tipo de trabalho: orientação sexual.
"Mesmo com tanta informação, as pessoas continuam contraindo o vírus da Aids, consumindo drogas, então a gente conversa sobre prevenção de doenças, uso do preservativo associado ao prazer, como um momento especial na hora da transa", diz Sérgio. "Falamos também de droga injetável, violência, falta de comunicação com a família", completa Edson.
Mas para chegar a isso, eles foram atrás de parcerias. Da Fundação Athos Bulcão, conseguiram apoio estrutural, uma espécie de sede do grupo. A Arco-Íris ofereceu uma Kombi e material didático para o grupo. No hospital universitário de Brasília, fizeram um curso de capacitação com o pessoal do Projeto Convivência, que trata de portadores do HIV.
Um acordo com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal deu ao grupo garantia de cerca de 5.000 preservativos para serem distribuídos de graça a cada trabalho. Eles começaram, em abril de 98, indo a lugares públicos, como a rodoviária e praças, levando cartazes com os órgãos genitais e seu funcionamento e conversando com as pessoas sobre sexo seguro.
"Fomos até denunciados por atentado ao pudor, houve pessoas que se sentiram agredidas", conta Sérgio. Com a experiência, o grupo começou a oferecer o trabalho para escolas e a participar de outros cursos de capacitação, como de prevenção contra as drogas.
Hoje, são convidados por escolas, instituições e grupos de jovens para dar oficinas. Elas acontecem em quatro ou cinco salas em até cinco encontros, duas vezes por semana. "Há colégios que até bolam eventos, os alunos grafitam as paredes com imagens sobre prevenção e sexo seguro", diz Sérgio.
Para o Atitude, o melhor mesmo é ver outros jovens, que passaram pelas oficinas, criar novos grupos de trabalho. "Apesar de ter de me dividir entre as obrigações do colégio, as reuniões de trabalho e as oficinas, o trabalho me deu crescimento pessoal, consistência social e uma visão mais crítica do mundo", diz Renato.


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