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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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Gênio da matemática entra na faculdade à base de xaveco

Que tal entrar na faculdade, aos 12 anos de idade, na base do xaveco? E mais: aos 20, já ter concluído o doutorado em matemática em uma das universidades mais prestigiosas do mundo? Tudo isso, é bom frisar, sem nunca ter frequentado colégios normais.
Pois essa história sensacional é a vida de Erik Demaine, um fenômeno que completa 22 anos em fevereiro e já é o mais jovem professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o famoso MIT, uma das mais respeitadas instituições de ensino do mundo.
Em entrevista à revista inglesa "New Scientist" (www. newscientist.com), Erik conta que o máximo de tempo que passou em um colégio foi um mês, em Miami (EUA), porque estava a fim de uma menina.
Ele sempre levou vida nômade, viajando com o pai atrás de feiras de artesanato pelos Estados Unidos. Segundo Erik, ele e o pai decidiam passar um tempo mais longo só nos lugares que julgavam interessantes.
Como bons americanos, Erik e o pai estão certos de que todo problema tem uma solução -e que essa solução deve estar em algum livro. Assim, o velho comprou manuais de ensino caseiro para dar aulas para o filho.
Logo o menino notou que, se estudasse sozinho, sem o pai, aprenderia ainda mais.
Erik acha que escolas comuns perdem muito tempo com recreio e intervalos de aula, além de terem muitos alunos na sala. Aprendendo sozinho, lembra ele, dá para dedicar mais horas ao estudo, inclusive no verão, quando os outros jovens estão em férias.
A especialidade de Erik como pesquisador é... origami computacional! Ele estuda a matemática que está por trás das dobraduras japonesas (que partem de um objeto de duas dimensões -o papel- para chegar a figuras tridimensionais). Ainda assim, em seu currículo (theory.lcs.mit.edu/edemaine/), ele lista origami simplesmente como "hobby".
Voltando à infância do menino, um belo dia ele começou a curtir videogames e perguntou ao pai como os jogos eram bolados. O pai respondeu que, para criar jogos, era preciso aprender programação de computador. O velho -é claro!- comprou livros para ensinar o moleque que, mais uma vez, aprendeu rápido e começou a estudar sozinho.
Aos 12 anos, Erik percebeu que já tinha chegado ao máximo de conhecimento que atingiria sozinho. Foi aí que resolveu pedir vaga na universidade Dalhousie, na cidade canadense de Halifax (que aliás produz bandas muito boas, mas isso é outra história).
A faculdade teve de mudar regulamentos, que previam a entrada, apenas, de maiores de 16 anos. Dali para o doutorado foi um passo. Rapidamente, o garoto genial foi identificado pelo MIT, que o contratou como professor-assistente de engenharia elétrica e da computação. Detalhe: o pai foi contratado também, já que agora, quase aos 60 anos, está se especializando em matemática!
A história de Erik não tem a ver com música, tema habitual desta coluna. Mas tem a ver com uma coisa essencial: liberdade. Espero que tenha gostado.


Álvaro Pereira Júnior, 39, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo E-mail: cby2k@uol.com.br



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