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"O rap de protesto acabou", diz DJ Hum
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A forma de divulgar o rap e
toda a produção cultural do hip
hop é motivo de polêmica no
seu próprio meio. Para alguns,
é preciso mudar o discurso,
descartar o tom crítico e politizado e se abrir ao grande público para se tornar um produto
vendável, gerador de lucro,
com o mero objetivo de divertir
as massas.
Os puristas, no entanto, acreditam que desvincular o movimento de seu discurso inicial é
sinal de corrupção ao sistema
que tanto já combateram. Nesse cenário polêmico, figuram
com diferentes posições alguns
ícones da primeira geração do
hip hop nacional.
O MC Thaíde e DJ Hum, que
estrearam juntos em 1988 com
"Corpo Fechado", de batida seca e letra dura e crítica, hoje
desfrutam de forte projeção na
mídia e se vêem cobrados pelos
colegas do underground atual.
Thaíde, 39, saiu da apresentação de um programa da MTV
após cinco anos para ir para a
Globo, a emissora mais combatida por ele no passado, participar da série "Antônia".
"Naquela época, a gente tinha necessidade de martelar
aquilo (as críticas). Hoje eu
acredito em popularizar o hip
hop para fazê-lo dar lucro, para
adquirir bens através do nosso
trabalho. A gente não consegue
isso fechado dentro do nosso
próprio mundo, fazendo música para os amigos... O amigo
sempre fala que está tudo bom
e aí fica difícil melhorar a qualidade para entrar na programação de uma rádio", afirma.
"Muita gente me acusa de
vendido, e as críticas já me incomodaram muito, hoje, não
mais. Eu vou fazer 40 anos, não
posso ter a mesma mentalidade
daquela época."
DJ Hum, 40, tornou-se produtor musical e lançou o projeto Motirô, do hit "Senhorita",
que ganhou as pistas e as rádios
com melodia dançante e letra
sobre amor adolescente. "O rap
de protesto acabou, foi daquela
geração", justifica Hum. "Já relatamos muito a violência, mas
o cotidiano não é só isso, é também casar, ir ao mercado, se divertir. Falar da violência é mais
fácil que vender a paz."
Grafite
Os irmãos Gustavo e Otávio
Pandolfo, os Gêmeos, 32, que
ainda pivetes dançavam break
e grafitavam no largo São Bento, hoje desenvolvem carreira
internacional como artistas
plásticos e se desvincularam do
movimento.
"Quisemos sair fora para não
ficarmos presos em uma cultura só, americanizada, e partir
para uma nossa, do nosso país,
muito mais rica", diz Otávio.
"É normal que aconteça assim quando um movimento se
expande. A galera da São Bento
hoje está casada, com filhos,
mas o trabalho social e a atitude continuam. Nos mantemos
fiéis aos valores difundidos por
Afrika Bambaataa (um dos fundadores do hip hop): paz, união
e diversão", diz Gustavo.
(DB)
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