Clássico de 87, que fez da banda a maior do mundo, é relançado agora aqui

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

É estranho, pra não dizer meio deprê, me ver escrevendo sobre o aniversário de 20 anos (!!!) de um disco que comprei quando tinha 15 aninhos, na saudosa loja Hi-Fi do Shopping Iguatemi.
Além do LP, eu também tinha uma camiseta. Na frente, a foto da capa de "The Joshua Tree", com Bono e sua turma, de caras amarradas, no meio de um deserto, obra do fotógrafo holandês Anton Corbjin.
Nas costas, vinha a letra do hino romântico "With or Without You". Quantos adolescentes dos anos 80 não sonharam sangrar com aquelas imagens? "Numa cama de pregos ela me faz esperar" ou "minhas mãos estão amarradas, meu corpo, machucado"?
O U2 já havia gravado quatro álbuns antes. Mas foi com "Joshua" que sua personalidade se definiu. Os anteriores, principalmente "Boy" e "War", expunham apenas mais uma banda a trilhar pelo pós-punk.
Mas em 1987 os irlandeses foram em busca de um mito para chamar de seu. E o encontraram no coração dos EUA. Num lugar inóspito, "onde as ruas não têm nome" e Bem e Mal vivem em constante peleja, eles acreditaram que uma nova narrativa da história do homem podia ser fundada. Bastava "escalar as mais altas montanhas" ou arrastar-se por terras áridas.
Bono então embarcou na onda anti-imperialista que começava a decolar. A faixa "Bullet the Blue Sky", sobre a intervenção americana na América Central, valeria hoje para criticar a ocupação do Iraque.
Mas reduzir "Joshua" à sua mensagem política seria o mesmo que desprezar a música do U2 hoje só por que Bono virou um pacifista chatérrimo.
Nesse disco, a banda explorou ambientações. Trouxe blues, country e gospel para papear com o rock. Depois, chamaria o metal e a eletrônica.
Eu já não sei onde foi parar aquela minha camiseta. Mas o fato é que as sementes no deserto vingaram. E, por conta delas, o U2 ainda é a maior banda de rock do mundo.