São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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Parem as máquinas, saiu um disco decente no Brasil

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

Saiu um grande disco no Brasil. É "Know Your Enemy", da banda galesa Manic Street Preachers. Longe dos delírios orquestrais e excesso de auto-importância em que o grupo embarcou no passado, este álbum é essencialmente um trabalho de rock contemporâneo, cru, vindo da garagem.
Parece incrível, mas a primeira faixa, "Found That Soul" lembra Motorhead. "Ocean Spray", a seguinte, é daquelas grandes baladas que são especialidade britânica. Em "Intravenous Agnostic", os Manics surgem soando muito parecidos com um finado grupo, também do País de Gales, chamado Th" Faith Healers (que deu origem ao Quickspace). Em "Miss Europa Disco Dancer", eles fazem jus ao nome da canção e se transformam nos Bee Gees. Se você é novo na área, saiba que, em popularidade no Reino Unido, os Manic Street Preachers rivalizam com grupos como Oasis. Lotam arenas, são verdadeiramente cultuados nesse país que vive e respira música pop.
Mas, como vários outros artistas britânicos, os Manics não fazem muito sucesso fora de casa. Há cerca de cinco anos, cheguei a ver um show deles, em San Francisco (Califórnia, EUA), num clube para menos de 300 pessoas. Na mesma época, eles já tocavam para estádios lotados na Inglaterra.
Na formação atual, os Manics são um trio: James Dean Bradfield (guitarra e vocais), Nicky Wire (baixo e vocais) e Sean Moore (bateria e... trompete!). Em 1995, o grupo ficou tristemente famoso pelo sumiço do guitarrista Richey Edwards, ponto culminante de um acelerado processo de destruição psicológica. Ele desapareceu num lugar conhecido como Ponte do Suicídio. O corpo nunca foi encontrado. Até hoje fãs alegam tê-lo visto comprando cerveja na loja da esquina, coisas assim.
Voltando ao último disco, confesso que não acompanhei a recepção da crítica estrangeira. Mas tenho quase certeza de que o grupo deve ter sido acusado de perder o rumo, de sair atirando para todo lado. Prefiro ver "Know Your Enemy" como uma demonstração do domínio que o trio exerce sobre o gênero que pratica -um rock tão moderno quanto angustiado.
No encarte, uma mensagem pretensiosa: "As únicas respostas interessantes são as que destroem as perguntas", atribuída à crítica e romancista Susan Sontag. O lançamento do disco também foi em grande estilo: em fevereiro, em Cuba, porque a banda se diz "socialista"
Mas o ouvinte brasileiro pode atravessar essa carapaça "artística" para se concentrar na música. E, isso, "Know Your Enemy" tem de sobra.
Álavro Peraira Júnior, 38, é jornalista e mora em San Francisco. E-mail: cby2k@uol.com.br



GRINGAS

O enigma Bob Dylan
Os EUA fazem todo tipo de homenagem nos 60 anos de seu ídolo Bob Dylan. Alguns dos críticos mais importantes em atividade, como o californiano Greil Marcus, tratam Dylan como Deus na terra. Não sei se é por causa da barreira da língua, ou por falta de conhecimento mesmo, mas nunca consegui ser um grande fã de Bob Dylan.

Colunista pede ajuda
Nesta minha temporada brasileira, não tenho, infelizmente, acesso a uma conexão decente de Internet, o que dificulta ficar por dentro das novidades sonoras. Por isso, pergunto: alguém aí já ouviu "Put Us In Tune", da banda Thou? Só li falando bem, tipo "parece um Portishead feliz".

O homem-robô
Assim que eu voltar a San Francisco, já tenho uma prioridade: localizar um maluco chamado Jason Vance, que formou uma banda de rock composta por ele e... um monte de robôs! Como Elba Ramalho e Fábio Jr., Vance diz que foi "chipado", nesse caso pelos próprios robôs, que assumiram o controle sobre sua personalidade.

Elogio atrasado
Muito bacana a volta do Man or Astroman? ao Brasil. Os caras perceberam que têm mesmo público aqui. Ótimo. Quem sabe as bandas locais, de tanto verem o MOAM tocar, captem a inteligência interplanetária dos caras. Esta semana eles vêm se apresentar no Rio. "Escuta Aqui" vai conferir. (APJ)


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