São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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ESTANTE

Brasil vive 500 anos de periferia e continua à margem do sistema

Imagine um personagem masculino com as seguintes características: jovem, inteligente, gentil, ilustrado; leitor regular e dono de vasto patrimônio de erudição; espírito antiburocrático, que se ri das convenções e das formalidades a ponto de abandonar um emprego promissor porque era tedioso; dono de um belo humor, que porém pode converter-se em deprê quando se frustra; apaixonado; amigo das crianças, por sua inocência; amante da natureza, impetuoso, ardente; amigo de seus amigos; sensível, verdadeiro, arrebatado.
Fala a verdade: não é um personagem encantador? Não dá a pinta de ser uma espécie de hippie, um sujeito bacana que porém não tem lugar neste mundo tão banalizado, tão desumano e tão mercantilizado?
E é isso mesmo -com o detalhe de que estamos falando de um personagem inventado no século 18, lá na aurora daquilo que depois seria chamado romantismo. Estamos falando de Werther (diga "vérter", simplesmente), clássico absoluto de Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) -o nome completo do romance que o personagem protagoniza é "Os Sofrimentos do Jovem Werther" e foi publicado pela primeira vez em 1774, agora disponível em edição inteligente, com notas históricas muito esclarecedoras.
O romance é imperdível por todos os motivos. Já falamos do personagem, que é uma espécie de síntese breve de todas as qualidades dos grandes personagens do romance (e do cinema, falando nisso) de então em diante. Mas tem mais: toda a história é contada pelo próprio Werther, em forma de cartas a um amigo. Quase toda, para dizer a verdade: quando chega no fim -sim, Werther morre, aliás se suicida, como você já deve ter ouvido falar-, entra em cena um editor, que conta brevemente o que aconteceu depois do desespero.
Faltou dizer de que trata a história: naturalmente, é uma grande história de amor, como metade das histórias da humanidade (a outra metade é história de guerra, de morte). Werther se apaixonou por uma mulher magnífica, que porém já era casada. O marido está envolvido, mas não, não se trata de coisa vulgar feito filme pornô-light como tantos: o que está em jogo é a vida mesmo, que Werther entrega ao amor. E-mail: fischerl@uol.com.br



Quinhentos Anos de Periferia
Autor: Samuel Pinheiro Guimarães
Editora: Contraponto
Quanto: R$ 20, em média




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