|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOM
Krisiun promete renovar o metal
RODRIGO DIONISIO
free-lance para a Folha
"O Sepultura já deu o que tinha
de dar, e nós estamos renovando o
metal nacional", diz Moysés Kolense, guitarrista da banda gaúcha
de death metal Krisiun. O grupo,
criado em 1990, é formado também por Max Kolense (bateria) e
Alex Camargo (baixo e voz).
Em nove anos, os três irmãos
lançaram três discos e fizeram
mais de cem apresentações na Europa e nos EUA. Atualmente, estão
em turnê pelo país, com shows em
Cotia, SP (dia 3/7), e Araxá, MG
(dia 10/7). Na segunda quinzena de
julho, embarcam para os EUA e tocam no Milwaukee Metalfest, uma
das mais importantes reuniões de
bandas pauleiras do mundo.
Moysés conversou com a Folha
durante a passagem da banda por
São Paulo, eles moram aqui, mas
vivem na estrada. O guitarrista falou sobre o cenário metal, a mudança para um selo americano, satanismo e Sepultura.
Folha - Por que Krisiun?
Moysés Kolense - Esse é o nome
do mar mais profundo da Lua. A
palavra é latina e significa mar de
abominações. Escolhemos o nome
porque é diferente, não corremos o
risco de outro grupo usá-lo.
Folha - Como está a cena do metal para as bandas no Brasil?
Kolense - As coisas melhoraram.
Nós estamos fazendo essa turnê
pelo país todo, os shows estão lotados, o CD está vendendo bem, e isso quer dizer que o povo está assimilando a nossa mensagem. Por
mais brutal que a música seja, por
mais antimainstream, o povo vê
uma certa qualidade de vanguarda
no nosso som. Isso tem ajudado a
conquistar mais público.
Folha - E qual é o público do Krisiun?
Kolense - Há os mais radicais,
que só curtem black metal e death
metal, moleque que gosta de Sepultura, Iron Maiden e Metallica,
existe de tudo um pouco. Isso
acontece porque a gente não toca
só barulho. Nós nos preocupamos
em colocar qualidade musical no
som. Na Europa, por exemplo, a
galera que curte gótico, que é mais
lento, mais elaborado, vai aos nossos shows. Lá eu também já encontrei caras de 75 anos e molequinhos de 11 nos shows.
Folha - Vocês vão mudar de selo.
Kolense - Estamos indo do Major
Gun (alemão) para o selo Relapse
(norte-americano). A mudança está acontecendo porque os caras do
Major queriam uns dois sons lentos para o próximo CD, mas não
vamos fazer isso de jeito nenhum.
O problema não é tocar devagar,
mas a pressão para fazer uma coisa
mais comercial é que não é legal. O
Relapse tem tradição com bandas
death metal, e nós achamos que lá
a gente vai estar defendendo melhor o nosso terreno. No ano que
vem, vamos estar com um trabalho
novo na praça, lançado por um selo novo.Já temos seis músicas
prontas e devemos começar a gravar no final do ano.
Folha - Vocês usam o pentagrama invertido como símbolo e, na
capa do último CD ("Apocalyptic
Revelation"), colocaram uma imagem de Cristo crucificado de cabeça para baixo. Qual a relação do
grupo com o satanismo?
Kolense - A gente é anti-religião e
anti-Cristo. Satanismo é liberdade
de espírito, a vontade de não seguir
regras, de não ser padronizado por
uma certa religião. Isso existe antes
de os egípcios cultuarem Osíris,
milhões de anos antes de Cristo. A
idéia de liberdade de espírito foi
cortada por religiões que surgiram
com o tempo. A cristã, principalmente, ilude os homens com a
idéia de salvação eterna para usufruir da Terra e roubar tudo. E isso
acontece principalmente nos países de Terceiro Mundo, onde a
igreja é mais forte e influente.
Folha - Mas a imagem do satanismo no rock é a do Black Sabbath,
da idéia de cultos secretos...
Kolense - Esse é um satanismo
cristão. Esse lance de culto, de matar animal, foi uma criação da Igreja Católica para denegrir o satanismo. Nós não somos praticantes de
missa negra ou qualquer coisa do
gênero. O satanismo é uma ideologia lírica da banda.
Folha - Lá fora, costumam comparar vocês com o Sepultura?
Kolense - É inevitável. A gente é
da mesma terra que eles, e a pergunta é sempre a mesma: "Vocês
querem ser o novo Sepultura?". A
gente quer ser o Krisiun, e não seguir o caminho dos outros. O que
eles fizeram foi positivo, mostraram o metal brasileiro para o mundo, mas a gente não chegou lá fora
por causa do Sepultura. Se fosse assim, ia haver um monte de banda
de metal daqui tocando lá. A gente
está entrando no ano 2000 fazendo
um som cada vez mais rápido e
sem a necessidade de se vender,
sem ter de vender disco e aparecer
na MTV.
Texto Anterior: Programa: Semanona boa, com Charlie Brown Jr., Lobão, Mundo Livre, Mambo Bazar, feijoada no Borracharia e teatro no Sesc! Próximo Texto: Demorou Índice
|