São Paulo, Segunda-feira, 21 de Junho de 1999
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Krisiun promete renovar o metal

RODRIGO DIONISIO
free-lance para a Folha


"O Sepultura já deu o que tinha de dar, e nós estamos renovando o metal nacional", diz Moysés Kolense, guitarrista da banda gaúcha de death metal Krisiun. O grupo, criado em 1990, é formado também por Max Kolense (bateria) e Alex Camargo (baixo e voz).
Em nove anos, os três irmãos lançaram três discos e fizeram mais de cem apresentações na Europa e nos EUA. Atualmente, estão em turnê pelo país, com shows em Cotia, SP (dia 3/7), e Araxá, MG (dia 10/7). Na segunda quinzena de julho, embarcam para os EUA e tocam no Milwaukee Metalfest, uma das mais importantes reuniões de bandas pauleiras do mundo.
Moysés conversou com a Folha durante a passagem da banda por São Paulo, eles moram aqui, mas vivem na estrada. O guitarrista falou sobre o cenário metal, a mudança para um selo americano, satanismo e Sepultura.

Folha - Por que Krisiun?
Moysés Kolense -
Esse é o nome do mar mais profundo da Lua. A palavra é latina e significa mar de abominações. Escolhemos o nome porque é diferente, não corremos o risco de outro grupo usá-lo.

Folha - Como está a cena do metal para as bandas no Brasil?
Kolense -
As coisas melhoraram. Nós estamos fazendo essa turnê pelo país todo, os shows estão lotados, o CD está vendendo bem, e isso quer dizer que o povo está assimilando a nossa mensagem. Por mais brutal que a música seja, por mais antimainstream, o povo vê uma certa qualidade de vanguarda no nosso som. Isso tem ajudado a conquistar mais público.

Folha - E qual é o público do Krisiun?
Kolense -
Há os mais radicais, que só curtem black metal e death metal, moleque que gosta de Sepultura, Iron Maiden e Metallica, existe de tudo um pouco. Isso acontece porque a gente não toca só barulho. Nós nos preocupamos em colocar qualidade musical no som. Na Europa, por exemplo, a galera que curte gótico, que é mais lento, mais elaborado, vai aos nossos shows. Lá eu também já encontrei caras de 75 anos e molequinhos de 11 nos shows.

Folha - Vocês vão mudar de selo.
Kolense -
Estamos indo do Major Gun (alemão) para o selo Relapse (norte-americano). A mudança está acontecendo porque os caras do Major queriam uns dois sons lentos para o próximo CD, mas não vamos fazer isso de jeito nenhum. O problema não é tocar devagar, mas a pressão para fazer uma coisa mais comercial é que não é legal. O Relapse tem tradição com bandas death metal, e nós achamos que lá a gente vai estar defendendo melhor o nosso terreno. No ano que vem, vamos estar com um trabalho novo na praça, lançado por um selo novo.Já temos seis músicas prontas e devemos começar a gravar no final do ano.

Folha - Vocês usam o pentagrama invertido como símbolo e, na capa do último CD ("Apocalyptic Revelation"), colocaram uma imagem de Cristo crucificado de cabeça para baixo. Qual a relação do grupo com o satanismo?
Kolense -
A gente é anti-religião e anti-Cristo. Satanismo é liberdade de espírito, a vontade de não seguir regras, de não ser padronizado por uma certa religião. Isso existe antes de os egípcios cultuarem Osíris, milhões de anos antes de Cristo. A idéia de liberdade de espírito foi cortada por religiões que surgiram com o tempo. A cristã, principalmente, ilude os homens com a idéia de salvação eterna para usufruir da Terra e roubar tudo. E isso acontece principalmente nos países de Terceiro Mundo, onde a igreja é mais forte e influente.

Folha - Mas a imagem do satanismo no rock é a do Black Sabbath, da idéia de cultos secretos...
Kolense -
Esse é um satanismo cristão. Esse lance de culto, de matar animal, foi uma criação da Igreja Católica para denegrir o satanismo. Nós não somos praticantes de missa negra ou qualquer coisa do gênero. O satanismo é uma ideologia lírica da banda.

Folha - Lá fora, costumam comparar vocês com o Sepultura?
Kolense -
É inevitável. A gente é da mesma terra que eles, e a pergunta é sempre a mesma: "Vocês querem ser o novo Sepultura?". A gente quer ser o Krisiun, e não seguir o caminho dos outros. O que eles fizeram foi positivo, mostraram o metal brasileiro para o mundo, mas a gente não chegou lá fora por causa do Sepultura. Se fosse assim, ia haver um monte de banda de metal daqui tocando lá. A gente está entrando no ano 2000 fazendo um som cada vez mais rápido e sem a necessidade de se vender, sem ter de vender disco e aparecer na MTV.



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