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Jovem argentino leu para Borges dos 18 aos 25 anos
da Reportagem Local
Aos 17 anos, o que o argentino
Gregorio Santiago Montes mais
queria na vida era um cavalo para
praticar equitação. Conseguiu o
cavalo, 1 milhão na conta e sete
anos de convivência íntima com o
escritor Jorge Luis Borges.
"Meu pai não
quis me dar, os
amigos dele não
me deram emprego, então eu me
inscrevi para um
programa de perguntas e respostas
da TV, que dava até
1 milhão de pesos
de prêmio para
comprar o cavalo",
conta Montes.
O programa,
"Odol Pregunta",
era um dos mais
populares da televisão argentina.
Montes era de uma
família aristocrata
de Buenos Aires,
estudava numa escola inglesa humanista, e Borges acabara de ser indicado pela primeira
vez ao prêmio Nobel, em 1968, o que
causou o maior rebuliço no país.
Montes se inscreveu para responder
sobre o escritor, ficou duas temporadas no programa e
ganhou o prêmio
máximo, "grosseiramente, cerca de R$ 1 milhão hoje". Mas isso não foi nada. Ele conheceu Borges e acabou participando de um seminário de literatura inglesa que acontecia aos domingos na casa do escritor, na condição de "leitor" convidado.
"Ele era acessível, atendia o telefone, crianças que ligavam para
pedir ajuda com a redação para a
escola", diz Montes, que muitas
vezes procurou livros do escritor
para dar às pessoas que o visitavam em casa e nunca encontrou.
"Quando perguntei a razão disso, ele me disse (humilde), que sabia de si próprio o suficiente para
não ficar com Shakespeare e Schopenhauer na estante."
E mais: Borges
dizia que sentia
prazer em escrever,
não o fazia pelo
produto final. "E
mandava publicar
só para parar de
rascunhar, mexer
nos textos", diz
Montes. Ele afirmava que se, de toda sua obra, ficasse
um verso cadenciado de palavras, estava satisfeito, mas
mesmo assim não
se sentia um autor.
Mesmo sendo sucesso nacional ainda moleque na TV
argentina, Montes
disse que não estudou os livros de
Borges. "Sou um
leitor hedonista, eu
gostava do estilo
dele, "não literário",
no sentido de ser
claro, preciso, curto, e das histórias
fantásticas, cheias
de imaginação."
Além disso, seus
textos tratam de
problemas universais, como o
amor, a morte, a dor do amor, "e os
jovens gostam disso, ler e conviver
com Borges naquela idade foi uma
experiência fortalecedora para
mim", diz Montes, que hoje é professor de patologia na Faculdade
de Medicina da USP.
(FG)
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