São Paulo, Segunda-feira, 21 de Junho de 1999
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RÁDIO
Órfãos da Musical criam Movimento dos Sem Rádio

free-lance para a Folha

"Isso é transitório, amigo, é só até a gente pegar um fôlego", disse Luiz Casali, sócio da L&C Comunicações, empresa detentora da concessão da Musical FM (105,7). A emissora sofreu uma brusca mudança de programação no dia 1º/6: deixou de ser "a rádio 100% MPB" para tocar música gospel.
A L&C alugou a concessão da rádio para as igrejas Assembléia de Deus, do Evangelho Quadrangular e da Comunhão da Graça. O contrato garante ao grupo evangélico definir a programação da Musical durante os próximos quatro anos.
"Não podemos dizer que nunca tocaremos MPB, mas nossa intenção é trabalhar só com gospel. Comercialmente, não interessa misturar", diz João Kalebe Rodrigues, diretor artístico, musical e comercial da nova Musical e também pastor da Assembléia de Deus.
Mas os ouvintes da "rádio MPB" não precisam se desesperar. Muitas emissoras paulistanas aumentaram a programação dedicada à MPB para o público da Musical.
A Eldorado FM (92,9), por exemplo, aumentou de 20% para 50% a participação de MPB na programação. E, a partir de hoje, a rádio transmitirá o programa "Vozes do Brasil" (de segunda a sexta, das 9h às 10h), nos mesmos moldes em que era apresentado na Musical.
E vem mais novidade por aí, só que na Internet. "Nós implantamos na intranet (rede interna) da L&C um projeto de transmissão da Musical da forma como era antes. Queremos lançar isso na Internet em breve", garante Casali.
Com o slogan "Nós Queremos uma Rádio 100% MPB", um grupo de paulistanos organizou o Movimento dos Sem Rádio. "Nós vamos brigar por nossa música e por uma rádio, mesmo que não dê em nada", diz Ronaldo Rateiro, 22, um dos integrantes do movimento.
Uma das atitudes do grupo será tentar convencer rádios "menores" a mudar sua programação para MPB. "A rádio acabou porque era a 20ª no Ibope, e ninguém anuncia produtos para um público pequeno. Mas, para a rádio que é 43ª no ranking, vale a pena adotar os ouvintes da Musical e aumentar a audiência", explica Rateiro.
O movimento também quer mostrar uma cara nova do público da música popular. "MPB não é coisa de velho, os jovens foram os que mais sentiram a perda da rádio", afirma Adriana Jacoto, 19.
"Hoje, nos shows do Paulinho Moska, do Lenine, a maioria do público é jovem. Esses artistas só tocavam lá, e muito jovem vai perder a oportunidade de conhecê-los", diz Juliana Carvalho, 18.
A caçula do movimento também reclama seus direitos. "Eu conhecia MPB porque minha mãe ouvia a Musical. Quando eu estava começando a gostar, a rádio acabou", reclama Mariana Cafasso, 13.
O próximo passo do grupo é fundar uma ONG, cujo nome provisório é MPB Sempre. Objetivo: fortalecer a luta pela música popular brasileira entre empresas de comunicação e artistas.
Se você quiser engrossar o coro do Movimento dos Sem Rádio, acesse o site http://sites. uol.com.br/semradio/. (RD)





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