São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2006

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Música

É hora de mpb


Jorge Ben, um homem discreto, mas nada silencioso


Coletânea dupla "Almanaque Anos 70" é oportunidade de ouro para conhecer clássicos de 28 artistas brasileiros

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

O legal de uma coletânea como essa é que apresenta clássicos bem legais para quem está chegando agora. No caso do duplo "Almanaque Anos 70", são 28 músicas obrigatórias de 28 artistas diferentes. O CD vem na onda do livro de mesmo nome, lançado pela jornalista Ana Maria Bahiana em maio e, desde então, na lista dos mais vendidos. A seguir, algumas pérolas do álbum:

"Apesar de Você"
Chico Buarque (1970)
É um recado à ditadura disfarçado de briga de namorados: "Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão/ (....) Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia". A tiração de sarro embalou muita chopada (sem espuma) nos botecos cariocas em 1970, quando o compacto vendeu 100 mil exemplares de cara. Até que a censura captou a mensagem, proibiu o sambinha, destruiu as cópias e ainda puniu o censor incompetente. Regravada no LP "Chico Buarque", de 1978.

"Na Rua, na Chuva, na Fazenda"
Hyldon (1974)

Com Cassiano e Tim Maia, compõe a tríade sagrada do soul brasileiro. Esse foi seu primeiro compacto e seu maior hit, aquele da casinha de sapê. Recentemente, foi sucesso de novo com o Kid Abelha, mas, se você só conhece essa nova versão, vai se impressionar com o canto minimalista e triste, triste do baiano Hyldon.

"Azul da Cor do Mar" - Tim Maia (1970)
Mas que vozeirão é esse que tomou as rádios do país em 1970? É Tim Maia, finalmente capturando o sucesso.

"Ouro de Tolo"
Raul Seixas (1973)

Raul Seixas canta seus versos como se estivesse de saco bem cheio do mundo: "Sou um dito cidadão respeitável/ E ganho 4.000 cruzeiros por mês/ (...) Eu devia estar feliz/ Porque consegui comprar um Corcel 73". Mas que mundo era aquele, alguém poderia se perguntar hoje. "Mãe, o que são cruzeiros?". "Pai, o que é um Corcel?"

"Chuva, Suor e Cerveja"
Caetano Veloso (1971)

Na onda de "Atrás do Trio Elérico" (1969), cujo sucesso não viu porque estava preso, Caetano compôs e gravou essa outra marcha em seu exílio em Londres. Em seu livro "Verdade Tropical" (1997), ele escreve que, já de volta ao Brasil, ao ouvir "Chuva..." pela primeira vez no Carnaval baiano de 1972, "imediatamente caiu uma chuva forte que durou toda noite". Não deve ser exagero, a julgar pelo nome do livro.

"O Vira"
Secos e Molhados (1973)

Um ano antes do álbum de estréia do Kiss, nossos próprios mascarados estouravam no país vendendo nada menos que 800 mil LPs. O carro-chefe foi essa "O Vira", que fica no meio-termo entre a canção infantil e a malícia de Ney Matogrosso: "Vira, vira, vira homem, vira, vira/ Vira, vira, lobisomem". A frase seguinte é glitter: "Bailam corujas e pirilampos".

"Os Alquimistas Estão Chegando" - Jorge Ben (1974)
Do antológico LP "A Tábua de Esmeralda", de 1974. Como bem resumiu o crítico Pedro Alexandre Sanches, trata-se de um "surrealismo sideral sobre homens discretos e silenciosos que não querem qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido, de temperamento sórdido, de temperamento sórdido". Além disso, é inspiração para o título da página central deste caderno.


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