São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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SAÚDE

A primeira vez ninguém esquece

O dia da menarca (a menstruação inicial) é marcante, às vezes, literalmente; garotas contam como é

Letícia Moreira/Folha Imagem
Verônica Costa, 12, que aprendeu com a mãe a usar o absorvente

DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vinte e sete de junho de 2007. Jackeline de Matos, 14, ainda se lembra em detalhes e em cores do dia de sua primeira menstruação, aos 12 anos. Em especial, se recorda dos tons vermelhos.
Estava em casa, quando aconteceu. "Fiquei assustada, chamei minha mãe e ela me explicou que era normal", conta. Em seguida, saiu para jantar com seus pais -felizes, eles contaram as novas para a garçonete do restaurante.
A partir dali, Jackeline teve de aprender uma nova rotina. A de usar absorvente, por exemplo. No primeiro dia, trocou tantas vezes que gastou cinco pacotes (leia dicas ao lado).
Por mais que conversem com pais, professores e amigas e que aprendam o básico sobre o funcionamento do aparelho sexual, o dia da menarca -a primeira menstruação- costuma pegar as garotas desprevenidas e ainda cheias de dúvidas.
A experiência pode ser mais complicada para as pioneiras, que menstruam mais cedo do que as amigas.
Ísis Rosa, 14, não tinha nem dez anos quando o sangue desceu, enquanto ela estava a caminho da escola.
Envergonhada, foi apenas mais tarde que Ísis criou coragem para conversar com as amigas sobre a mudança pela qual estava passando. "Esperei elas menstruarem também."
É normal que as meninas se sintam deslocadas quando menstruam mais cedo do que suas amigas. "Se as colegas já menstruaram, ela se sente menos constrangida", diz Patricia de Rossi, autora do "Manual de Ginecologia para Consultório".
Outro possível motivo de vexame para a garota é o sangue sujar a roupa. No caso da primeira vez, sem a proteção do absorvente, é pânico certo.
"Foi horrível", diz Júlia Gil, 14. "Eu estava em um ônibus, em um passeio da escola, vestindo uma calça branca. Branca!", conta.
Sem ter para onde fugir, a garota trocou de calça ali mesmo e pediu um absorvente emprestado para uma amiga. "Tentei disfarçar, mas perceberam."
No caso de Rebeca de Barros, 16, não dava para ter mais branco envolvido na história. Era Réveillon. "Mas não amuei, eu sabia que ia acontecer em alguma hora." Tinha 11 anos.

Está chegando...
"Tanto na primeira menstruação quanto nas demais, se houver vazamento de sangue na roupa, é constrangedor para qualquer mulher", afirma a ginecologista Angela Maggio da Fonseca, professora da USP.
Para saber se está chegando a hora de se munir de absorventes na espera pela menarca, a garota deve ficar atenta a alguns sinais, como dores abdominais e o desenvolvimento de mamas (leia mais ao lado).
Mas mesmo quem não tem alguma história de acidente com a primeira vez pode ter outros tipos de problema, como Verônica Costa, 12.
Ela menstruou aos dez anos e não encarou a menarca com tranquilidade. Por vergonha, até hoje não comunicou oficialmente ao pai que "já virou mocinha" (no linguajar constrangedor dos adultos). Tampouco gosta de usar absorvente e acha a menstruação incômoda.
"Parece que estou suando no meio das pernas!", diz.
Na opinião dos ginecologistas, um pouco de vergonha é natural. Em fase de mudanças perceptíveis a olho nu, a menina sente-se exposta.
Flávia Gorgulho, 14, vê em sua menarca uma metáfora para seu amadurecimento. Quando seu sangue desceu pela primeira vez, aos dez anos, ela estava brincado de boneca. Depois disso, passou a "prestar mais atenção nos meninos."
E os garotos, por sua vez, ficaram curiosos para saber o que estava acontecendo com ela. "Um amigo viu minha calça manchada e perguntou se eu estava com hemorragia!", diz.
Eles têm mesmo dificuldade com o tema; veja o ponto de vista deles na próxima página.


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