São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

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comportamento

Bye, bye Brasil

Samba, novelas, feijoada e outros tesouros nacionais passam bem longe da vida de alguns adolescentes; saiba por que eles acham melhor o que vem de fora

Thiago Bernardes/Folha Imagem
CONTRA A CULINÁRIA Não gosto nem de feijão preto nem de nada. Já comi e odeio. Como feijão normal coado, não como os grãos. Nada de comida baiana, não gosto de acarajé, de frituras, de comida apimentada, nada, nada
ALEX MENDES PARRADO, 17


LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Motivo de orgulho nacional para muitos, a cultura brasileira sofre na mão de alguns adolescentes, que preferem a música, os programas de TV, as comidas e o cinema estrangeiros a qualquer coisa que seja produzida por aqui.
No último mês, o debate esquentou a seção de cartas do Folhateen, que ficou dividida entre uma maioria que ama e uma minoria que detesta aspectos tradicionais de nossa cultura: MPB e samba, novelas e até delícias da gastronomia, como vatapá, moqueca, bobó de camarão e feijoada.
O estopim foi uma carta do leitor Leandro Sarubo, 18. Comentando uma reportagem que listava as três piores séries em exibição na TV dos EUA, ele dizia que "nenhum produto nosso consegue ser menos medíocre que essas três séries".
Sarubo não está só. "Não gosto de acarajé e coisas assim, prefiro fast food. Gosto de comida australiana, porque fiz um ano de colegial lá. Escolhi a Austrália, mas poderia ser qualquer outro lugar fora do Brasil. Em geral eu não gosto daqui, acho a cultura péssima; foi uma maneira de sair um pouco dela", conta a estudante gaúcha Bruna Gil, 20.
O cinema e a TV brasileira também não são poupados por Bruna, que ainda prefere o som de artistas como Death Cab for Cutie (EUA), Franz Ferdinand (Escócia), Placebo (Inglaterra) e Arcade Fire (Canadá) a estilos como o samba, o axé e o pagode. "São todos um desastre."
Bruna conta: "Meus filmes favoritos são de Quentin Tarantino, de Stanley Kubrick, de David Lynch, de diretores que não são brasileiros. Procuro evitar os filmes nacionais. "Cidade de Deus", por exemplo: dão mais valor do que ele realmente merece. Tem os do Didi... São produções terríveis".
Na TV, a gaúcha assiste apenas a seriados americanos, como "Seinfeld", "Grey's Anatomy" e "America's Next Top Model": "Se são melhores? Acho que é outra cultura e tem outras temáticas. Eles abordam essas temáticas de um modo que o Brasil não faz. Até mesmo o humor é melhor".
A estudante Bárbara Vieira, 14, tem uma teoria sobre os problemas do cinema nacional. "Tenho um pouco de preconceito com os atores brasileiros. Há muitos que são muito ruins, e os consagrados eu não acho bons. Parece que nos EUA é mais difícil ser ator, então eles são melhores. Aqui parece que chamam qualquer um."
Mas para Bárbara, o que pega mesmo é a música. "Eu realmente ouço muito. Só tenho um CD nacional, dos Mutantes; o resto é estrangeiro. Não sou patriota, mas não sou contra o Brasil. O mercado daqui é fraco, não tem rock. Ou tem as bandas de metal e o pop rock, que não é rock. Precisa de mais Chuck Berry na veia", sugere.

Fast food
Se, quando era criança, odiava a música brasileira, hoje o estudante Alex Mendes Parrado, 17, é bem mais tolerante. Mas as comidas típicas do Brasil passam longe da mesa dele.
"Não gosto nem de feijão preto nem de nada. Já comi e odeio. Como feijão normal coado, não como os grãos. Nada de comida baiana, não gosto de acarajé, de frituras, de comida apimentada, nada, nada. É muito forte, sei lá. Não sei se é porque sou do Sul, mas prefiro mesmo uma churrascada."
"Não como feijoada, vatapá, moqueca, meus prediletos são batata frita e hambúrguer, estilo fast food. Se não tem isso, ou não como nada ou como só bife ou algo do tipo", afirma Thiago Rodrigues Silva Cunha, 19.
O estudante de administração também não curte música brasileira. "Gosto de rock dos anos 60, 70 e 80, Led Zeppelin, Pink Floyd, The Doors, Cure... Hoje em dia eu odeio a Calypso e qualquer coisa de funk carioca, de axé, e de pagode, principalmente. Não dá. Não freqüento esse tipo de lugar."
Em caso de emergência, Thiago tem um plano de fuga: "Sempre ando com meu walkman e coloco os fones no ouvido caso toque algo nacional nas redondezas".
Uma atitude parecida tem Stephanie de Cássia Sant'Anna Dias, 17. "Minhas amigas ficam me enchendo para ir a lugares como barzinhos com banda ao vivo. Sempre chega a hora em que tocam músicas nacionais. Então, vou sentar; não curto."
Amiga de Stephanie, Bruna Andrade Lanzeloti, 17, também é da turma do rock e da TV internacionais. "Só via novelas quando era pequena, mas fui percebendo que não gosto."


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