São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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ESPORTE

A menina que veio do frio

Adotada por europeus, esquiadora brasileira Maya Harrisson, 17, disputa os Jogos Olímpicos de Inverno

Olivier Morin - 12.fev.2009/ AFP Photo
Maya, 17, mostra o que sabe; e pode apostar, não é mole!

MARCELLO CHAGAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Passa o Carnaval e é hora de voltar às aulas. Não para Maya Harrisson, 17.
Desde o início das férias, a estudante sabia que fevereiro terminaria mais gelado do que uma brasileira pode pensar: nos Jogos Olímpicos de Inverno, que começaram no dia 12/2, em Vancouver (Canadá), e acabam para a jovem esquiadora nas provas de slalom gigante (dia 24) e slalom (dia 26).
Férias com lição de casa! "Esse é o motivo pelo qual estou nessa escola", diz a única brasileira matriculada no Lyceé du Mont Blanc, na França.
E ela está nesse tradicional colégio dos Alpes por mérito. Afinal, é a primeira da classe quando a disciplina em questão é o esqui alpino no Brasil.
"Maya possui um talento extraordinário, por isso a atenção tem sido proporcional. Não é normal irmos atrás de uma vaga em uma escola para um atleta", conta o presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, Stefano Arnhold.
O que a fez conseguir bolsa de estudos em uma escola que tem, basicamente, franceses que sonham com as Olimpíadas de Inverno? Seu currículo: uma dos cinco atletas do Brasil em Vancouver; recordista e campeã brasileira e continental; além de ser fluente em três línguas: inglês, francês e italiano.
Espere aí! Ela é brasileira e não fala português? Isso mesmo, não fala. Ainda não.
Recém-nascida, no Rio de Janeiro, Maya foi adotada pela médica ítalo-suíça Letizia Toscani e pelo sociólogo canadense Pierre Harrisson -que, na época, trabalhava para as Nações Unidas no Brasil.
Logo que a levaram para Genebra, na Suíça, os pais a apresentaram aos esquis e à neve, pois moram próximo à montanha mais alta da região, a famosa Mont Blanc.
Aos três anos, ela já sabia esquiar. Aos oito, competia. Passados cinco invernos, foi convidada a usar verde e amarelo em suas descidas de montanha.
Na concorrida Lyceé du Mont Blanc, Maya não tem aulas de dezembro a fevereiro justamente para treinar. Afinal, é temporada de inverno no hemisfério Norte.
"Vou à escola pela manhã e, à tarde, faço treinos físicos. Nos finais de semana, descanso, faço meus deveres, vejo amigos, mas só quando não vou esquiar. Tudo com horários adaptados", conta a suíço-brasileira, que ainda tem mais dois anos até concluir o ensino médio.
"Depois, quero ir para uma universidade nos Estados Unidos ou no Canadá". Sonha morar em Nova York.
E o Brasil? Maya ainda quer conhecer melhor o país onde nasceu. A única visita -uma semaninha em São Paulo- foi no ano passado, nas férias do verão europeu, quando veio competir em Ushuaia, na Argentina, e em Vale Nevado, no Chile.
Foi um período para treinar o pouco que sabe da língua portuguesa, ensinada pelos pais.
Há outra lição de casa a fazer: dançarina de balé desde pequena, ela ainda quer aprender a sambar. Por enquanto, gingado só para acompanhar os passos de Chris Brown, de quem se nomeia "fã número um".
Mas, por enquanto, o foco fica na Olimpíada de Inverno. Depois, após outros Carnavais, volta à lição: ser brasileira.


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