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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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BALÃO

Nas HQs, a história conta outra história

VALDOMIRO VERGUEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em aulas de história, o professor deve atentar que nem todas as HQs retratam fielmente ambientes, costumes, vestimentas ou hábitos. Como produtos de entretenimento, elas têm finalidades lúdicas. A fidelidade histórica não é a motivação maior. "Asterix", por exemplo, usa a ambientação histórica para criticar a realidade atual. Já "O Príncipe Valente" fica longe da perfeição.
Valente torna-se cavaleiro em 433 d.C., cercado por pessoas da época, como o general romano Aécio, o imperador Valenciano 3º e Átila, o Huno. No entanto, a ambientação das histórias destoa do período: cavaleiros como paradigmas da nobreza montada e defensores dos lugares santos, característica dos cruzados (e isso séculos antes de o papa Urbano 2º ter proclamado a primeira Cruzada ou de Maomé ter nascido), armamentos dos séculos 14 e 15, mulheres vestindo brocados renascentistas, egípcios trajados à moda faraônica (de 3.000 anos antes) ou guerreiros vikings com capacetes de chifres (que jamais usaram).
Ainda que a saga tenha elementos bem documentados, a mistura de personagens de momentos históricos distantes faz de sua aplicação didática um desafio. Ao utilizá-la, os professores devem estar atentos aos anacronismos. Um conselho, aliás, válido para toda HQ.


Waldomiro Vergueiro é professor associado e coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP

@ - balao@folha.com.br


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