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BALÃO
Nas HQs, a história conta outra história
VALDOMIRO VERGUEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em aulas de história, o professor deve
atentar que nem todas as HQs retratam fielmente ambientes, costumes, vestimentas ou hábitos. Como produtos de
entretenimento, elas têm finalidades lúdicas. A fidelidade histórica não é a motivação maior. "Asterix", por exemplo, usa
a ambientação histórica para criticar a
realidade atual. Já "O Príncipe Valente"
fica longe da perfeição.
Valente torna-se cavaleiro em 433 d.C.,
cercado por pessoas da época, como o
general romano Aécio, o imperador Valenciano 3º e Átila, o Huno. No entanto, a
ambientação das histórias destoa do período: cavaleiros como paradigmas da
nobreza montada e defensores dos lugares santos, característica dos cruzados (e
isso séculos antes de o papa Urbano 2º
ter proclamado a primeira Cruzada ou
de Maomé ter nascido), armamentos dos
séculos 14 e 15, mulheres vestindo brocados renascentistas, egípcios trajados à
moda faraônica (de 3.000 anos antes) ou
guerreiros vikings com capacetes de chifres (que jamais usaram).
Ainda que a saga tenha elementos bem
documentados, a mistura de personagens de momentos históricos distantes
faz de sua aplicação didática um desafio.
Ao utilizá-la, os professores devem estar
atentos aos anacronismos. Um conselho,
aliás, válido para toda HQ.
Waldomiro Vergueiro é professor associado e
coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias
em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP
@ - balao@folha.com.br
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