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Brasil
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Talvez nenhuma banda de rock brasileiro tenha feito tanto sucesso em 2003
quanto o Charlie Brown Jr. -os garotos-propaganda da Coca-Cola-, embora o
CPM22 tenha chegado perto. O chamado hardcore melódico, que fez a cabeça
de muita gente durante o ano, produziu
alguns hits inescapáveis, mas as idéias
dessa turma não são criativas nem originais o suficiente para ficar na memória.
O mesmo aconteceu com os grandes
nomes do BRock. Os sobreviventes dos
anos 80 mostraram pouco, com a exceção de Nando Reis, que, em "A Letra A",
criou canções envolventes.
Mas de onde saíram, então, os bons
discos de 2003? Aqueles que foram além
do samba de uma nota só? Basicamente,
de duas frentes: uma que privilegiou a
canção e outra que se dedicou à experimentação. Nos dois casos, os melhores
trabalhos foram aqueles que estabeleceram um diálogo inteligente com a MPB,
digerindo o passado para criar propostas
musicais alternativas.
Los Hermanos foi a banda-síntese desse primeiro grupo, do qual fazem parte
também Nando Reis, Maria Rita e Otto.
"Ventura", terceiro disco dos cariocas, é
excepcional ao unir a tradição do rock
independente com a MPB e o samba. E
ninguém hoje escreve letras com a mesma sensibilidade de Rodrigo Amarante e
Marcelo Camelo, este último autor das
melhores faixas do disco de Maria Rita,
de longe o lançamento brasileiro que fez
mais barulho no ano.
O último integrante desse grupo é Otto. "Sem Gravidade" pode ser considerado o menos experimental dos discos do
pernambucano, mas é, sem dúvida, o
mais lírico e pessoal. E tem um trunfo
nas letras aparentemente difíceis, que se
tornam cristalinas a cada nova audição.
Domenico + 2 e Marcelo D2 foram os
grandes mestres do estúdio em 2003, e os
principais nomes numa lista de inovadores que conta ainda com BNegão e Bonsucesso Samba Clube. D2 foi atrás da batida perfeita e a encontrou na fusão de
hip hop e samba, principalmente o de
partido-alto. Domenico, mais eclético,
usou da eletrônica e de grandes músicos
em "Sincerely Hot" para reler e atualizar
a música dos anos 70, de Marcos Valle a
Miles Davis. Situado entre os dois, BNegão retorceu o hip hop e foi atrás de suas
raízes no reggae e no funk em "Enxugando Gelo". Também partindo do reggae,
principalmente o dub, o Bonsucesso
Samba Clube criou um disco repleto de
texturas, na melhor tradição do mangue
beat. Só falta tocar no rádio e na TV.
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