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saúde
não é frescura
Forte cólica
menstrual atinge 15% das jovens e compromete o rendimento escolar
DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Nos dias problemáticos,
Amanda Alencar, 15, chora,
toma antiinflamatórios e desmarca compromissos. Alguns deles não
podem ser adiados, como aulas
e provas -então ela falta à escola. "A dor é tão forte que não
dá pra ficar em pé", diz. Os dias
problemáticos? Os dois primeiros da menstruação.
Amanda sofre de dismenorréia primária, síndrome comum na adolescência, que tem
como maior característica a
forte cólica menstrual -uma
dor que vem todo mês e muitas
vezes é vista como "frescura".
"O estudo da dismenorréia só
ganhou maior importância nas
últimas décadas, devido às conseqüências socioeconômicas
que ela acarreta. Junto com a
tensão pré-menstrual, é a principal responsável pela ausência
da mulher e adolescente ao trabalho e à escola", diz a ginecologista Mara Carvalho Diegoli,
coordenadora do Centro de
Atenção à Mulher com Tensão
Pré-Menstrual do HC da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo Mara, 75% das adolescentes têm cólica, que pode
ser leve, mediana ou intensa, e
15% enfrentam dores tão fortes
que não conseguem fazer suas
atividades habituais. A dismenorréia primária atinge as adolescentes; já a secundária geralmente surge após os 25 anos e é
causada por algum problema
no sistema reprodutor.
"Muitas adolescentes acreditam que a dor é um processo
natural de quem está ficando
mulher", observa a ginecologista. E o sofrimento sempre foi
associado, na cultura dos diferentes povos, com a transformação da menina em mulher,
ela explica. Conceitos antigos,
como "para ficar bonita, a mulher tem que sofrer", passaram
de geração a geração.
"Essa crenças foram transmitidas durante décadas, mas
hoje a menina não precisa sofrer para menstruar. Há tratamento, só que a maioria não
procura auxílio", diz.
Amanda falta à escola e cancela programas, mas nunca
procurou um médico. "Todo
mundo fala que ter cólica é uma
coisa normal. Não adianta ir
atrás de um médico, cólica é cólica. Tem que agüentar", acha.
"É comum meninas faltarem
à aula ou terem baixo rendimento escolar por causa da dismenorréia. Mas isso não deve
ser encarado como normal",
diz José Maria Soares Jr., chefe
do Ambulatório de Ginecologia
da Infância e da Adolescência
da Unifesp. "Se a dor atrapalhar
a vida social e escolar, a jovem
deve procurar ajuda médica."
Provas e festas
Sofrendo com a cólica desde
os 14 anos, Jéssica dos Santos
Guimarães, 17, foi a um ginecologista e começou a tomar anticoncepcional neste mês -ela
espera que o primeiro ciclo
menstrual com o novo remédio
seja menos penoso. "Eu tinha
que ficar deitada com bolsa de
água quente, sem sair de casa
nos dois primeiros dias", diz.
"Tenho cólica de chorar. Eu
não estava agüentando mais,
faltava a provas, não conseguia
ir a festas. Então, minha mãe
me levou a um ginecologista",
conta Tainá Laxe, 16.
Depois de passar um ano e
meio tomando antiinflamatórios, Tainá começou, em janeiro, a usar pílula. Ela comemora:
"A pílula diminuiu o meu fluxo
menstrual e aliviou bastante a
dor da cólica. A diferença é
muito grande, eu não deixo
mais de fazer as coisas".
Se a cólica continuar forte
após os 20 anos, é preciso investigar possíveis problemas
que seriam a causa da dismenorréia secundária, como cistos e miomas -que, se não forem tratados, podem prejudicar o futuro reprodutivo.
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