São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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música

Vampiros das neves

Da terra de Papai Noel vem a cena mais sombria do rock atual, a finlandesa; leia nestas páginas o que pensam seus principais expoentes

MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se Papai Noel for realmente finlandês, vai deixar muitos CDs de rock em chaminés nesta quinta-feira.
Pelo menos no lugar de onde ele vem, é um plano infalível.
No Rio talvez causasse desprezo; desdenhariam o presente e se jogariam no pagodinho e nas belas praias, a fim de celebrar a vida na cidade maravilhosa.
Cada cultura com seu mérito, a finlandesa tem se provado uma das mais rock'n'roll do mundo. Em um papo com alguns músicos de lá, dá para entender o cenário melhor.
Por exemplo, o humor dos finlandeses é oscilante, assim como sua sorte. Suécia e Rússia lutaram por 450 anos pelo controle do Mar Báltico, e as conseqüências dessa disputa estão impressas na personalidade nacional: uma combinação da melancolia eslava com o liberalismo escandinavo.
A Finlândia, país do norte da Europa, é principalmente conhecida pelos seus invernos longos, gélidos e escuros, quando a luz do sol radia no céu por três ou quatro horas somente.
A estação é deprimente e solitária, pois isola os jovens e os obriga a manter amizades virtuais. Muitos entram e saem da escola em plena escuridão, muitos enfrentam a depressão, e muitos formam bandas- o país esteve por muito tempo no topo da lista de maior incidência de suicídio e consome por ano dez litros de álcool por pessoa. Recentemente, um jovem de 22 anos matou dez estudantes numa escola e se suicidou. Há seis anos, outro jovem tirou a própria vida em um shopping de Helsinque, capital do país, depois de explodir uma bomba.
A Finlândia é o terceiro país mais armado do mundo, mas tem uma das taxas de homicídio mais baixas. O padrão de vida é alto.
"A Finlândia é melancólica, mas os finlandeses não são", diz Pete Honkamaki, nascido em Helsinque, mas atual residente de Londres. "Os invernos são só entediantes. Há tempo de sobra para escrever músicas e tocar numa banda." Pete é baixista do grupo punk The Vibrators e vocalista e baixista de um novo projeto, o No Direction. "Eu comecei a amar a música em 1976, quando o rockabilly atingiu a Finlândia. Depois veio o punk e o Hanoi Rocks. Eles acenderam o pavio para mim."
Hanoi Rocks, influenciado por New York Dolls e Rolling Stones, foi o primeiro grupo de rock finlandês a quase atingir o sucesso internacional. A jornada ao estrelato, porém, foi interrompida pela trágica morte do baterista Razzle. Ele estava embriagado em um carro com Vince Neil, vocalista da banda californiana Motley Crüe, quando Neil bateu em outro veículo e tirou a vida de Razzle. O baixista Sami Yaffa então deixou a banda, e tudo começou a desmoronar.
Depois do Hanoi Rocks, outros músicos finlandeses chegaram ao holofote mundial: Nightwish, HIM, Children of Bodom, 69 Eyes. E o país não parou mais de se destacar pelas suas bandas de rock. "Somos o elo perdido entre o Hanoi Rocks e o HIM. Somos goth'n'roll", gaba-se Jyrki69, vocalista do 69 Eyes.
A banda, que se autodenomina "os vampiros de Helsinque", iniciou uma campanha ambiental para salvar o Mar Báltico da poluição e conta com a ajuda de Michael Monroe, vocalista do Hanoi Rocks.
Também está se preparando para tocar no Helldone, tradicional festival organizado pelo HIM, realizado nos últimos dias do ano, no famoso Tavastia Klubi, na capital. "A Finlândia é 100% rock'n'roll."
"Todos são apresentados à música na escola", conta Marco Hietala, baixista da banda Nightwish, que mistura heavy metal melódico com música clássica. "Eu não era como os outros. Comecei a estudar de verdade no segundo grau. Fiz teoria musical, guitarra, e voz. A música me cativou de tal maneira que comecei a seguir a carreira na adolescência. Se tivesse ficado na beira do mar, teria sido um pescador."
Marco adiciona que o frio e o escuro talvez possam ter influência no grande número de bandas de rock que existem no país. Contudo deixa claro que isso é algo bom e que mora na Finlândia até hoje.
"Passei algum tempo em Benin, na África, para encontrar a verdadeira escuridão", conta Jyrki69. "Você pode ouvir as vibrações do vodu no nosso álbum "Devils". O vocalista detesta responder perguntas sobre o clima de seu país.
"A escuridão nunca incomodou a mim ou a outro finlandês. Além disso, eu toco heavy metal. Estou no negócio de espalhar a escuridão, não estou?", finaliza Marco.



FINLANDESES NO MYSPACE

>> No Direction: myspace.com/nodirectionhq
>> Nightwish: myspace.com/nightwish
>> 69 Eyes: myspace.com/theofficial69eyes
>> Helldone: myspace.com/helldone

Frases

"Somos o elo perdido entre o Hanoi Rocks e o HIM. Somos goth’n’roll"
Jyrki69, vocalista do 69 eyes

"Os invernos são só entediantes. Há tempo de sobra para escrever músicas e tocar numa banda"
Pete Honkamaki, vocalista e baixista do No Direction

"A escuridão nunca incomodou a mim ou a outro finlandês. Além disso, eu toco heavy metal.
Estou no negócio de espalhar a escuridão, não estou?"

Marco, baixista do Nightwish


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