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MÚSICA
Álbum clássico dos Smiths faz 20 anos, influenciando bandas e fazendo a trilha sonora de corações dilacerados
A rainha está viva
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Os jornalistas que fazem este caderno
tinham apenas 13 aninhos quando
saíram da loja de discos com o vinil
"The Queen is Dead" debaixo do braço.
Mal sabíamos que, nas dez faixas daquela
bolacha preta, estariam a originalidade musical, o jeito de se vestir, de
namorar e de encarar o mundo daquela geração que foi ficando adulta
nos anos 80 -década que está tão
na moda nos dias de hoje.
Os Smiths já eram uma banda conhecida naquele mês de junho de
1986, quando lançaram o álbum de
capa verde que trazia Alain Delon
(em cena do filme "L'Insoumis",
1964) na capa.
Tanto o disco de estréia do quarteto de
Manchester, "The Smiths" (84), como o segundo álbum, "Meat Is Murder" (85), já tinham tornado populares entre os adolescentes melancólicos deste planeta canções
como "What Difference Does It Make" e
"That Joke Isn't Funny Anymore".
Mas foi apenas com "The Queen Is
Dead", que completa agora 20 anos, que a
banda se tornou um verdadeiro fenômeno
transformador no pop, tanto nas letras como na música, amadurecendo um estilo
único que ditaria influências para bandas e
cantores de diferentes estilos até hoje.
Primeiro, porque os Smiths tinham um
guitarrista chamado Johnny Marr, responsável por testar o formato tradicional de
uma banda de rock em diferentes estilos,
como o pós-punk, o pop e o folk, produzindo tanto melodias tristíssimas como peças
épicas ou hinos enfurecidos.
Depois, porque um poeta e intérprete
único dava cara, alma e voz para angústias
universais. As letras de Morrissey, influenciadas pela obra de Oscar Wilde (1854-1900) e a atitude de James Dean (1931-1955), falavam de frustrações amorosas irreversíveis, excesso de desejo e indecisão
sexual, de desilusão com a existência e com
as coisas do dia-a-dia. Morrissey também
falava de política, e criticava a então primeira-ministra britânica, a conservadora Margaret Thatcher, e a família real.
As faixas de "The Queen Is Dead" exploraram todos esses sentimentos de maneira
vigorosa e variada. A começar pela faixa-título, que abre o disco com uma batida violenta e versos como "a vida é muito longa/
se você está sozinho". O disco contém hits
que até hoje martelam no rádio, como a divertida "Bigmouth Strikes Again" ou a romântica-suicida "There Is a Light That Never Goes Out". O humor inteligente está na
"cabeça" "Cemetery Gates", cheia de citações literárias, enquanto toda a tristeza do
universo é destilada em "I Know It's Over"
("o mar quer me levar/ a faca quer me cortar/ você acha que pode me ajudar?").
Como esta, as perguntas dos Smiths seguem por aí, sem resposta.
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