São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ACONTECEU EM IACANGA

VÁRIOS VETERANOS DO 'WOODSTOCK BRASILEIRO' VIRARAM CINQUENTÕES CARETAS


Jovens em direção a Iacanga, em foto sem data

BRUNO MOLINERO
ENVIADO ESPECIAL A IACANGA (SP)

A maioria encaretou. Os jovens que andavam nus ao som de Raul Seixas, Gilberto Gil e Mutantes, no festival conhecido como Woodstock tupiniquim, viraram médicos, economistas e engenheiros.
O Folhateen procurou gente que foi aos festivais de Águas Claras. Eles reuniam por três ou quatro dias, nos anos 1970 e 1980, vários bichos-grilos sob a filosofia do amor livre. Foram quatro edições, em Iacanga (SP). Difícil foi achar veteranos de Iacanga que... bom, que lembrassem do que aconteceu.
"Só tinha maluco. A gente usava muita maconha e chá de cogumelo, dormia na barraca de desconhecidos, ninguém era dono de ninguém", diz Marcelo Alvarenga, 48, que hoje é médico em Taubaté, não usa drogas e é pai de dois meninos, de 5 e 9 anos.
Marcos Oliveira, 45, também tomou juízo. Pai de um menino de 13, hoje é economista e professor universitário em Montes Claros (MG).
Não foi só ele que mudou: "Fui com um amigo que só caçava cogumelos. Quando voltou para São Paulo, virou evangélico. Deve ter encontrado Jesus no meio do chá."
Milton Herd, 49, não virou evangélico, mas engenheiro. Sua história ilustra bem o que foi Águas Claras.
"Quando cheguei, roubaram minha barraca e minhas coisas. Fiquei só com a roupa do corpo." Primeiro Herd dormiu na barraca de uma estranha, depois sob um caminhão atolado. A lama não foi nada, porém, perto da "nave espacial" de uma garota chamada Estrelita, onde dormiu na terceira noite.
"Ela era doida. Falava que tinha vindo da constelação de Orion", diz. Quando Herd chegou na barraca de Estrelita, descobriu que ela já estava cheia de gente de Órion.
Sem espaço, dormiu com os pés para fora da barraca. "Aí levaram meu All Star..." No último dia, foi salvo por um casal de canadenses. Ganhou comida, abrigo e alguma substância estranha. "Não lembro o que houve, mas, quando acordei, no dia seguinte, eu estava pelado, do lado da mulher! Pensei: "canalha, te abrigam e você come a esposa do cara?'"

PARA SEMPRE IACANGA
Nem todos deixaram de ser bichos-grilos, porém.
Há exceções, como Maria Abdala, 56, e Rosa Cheixas, 49, as "hippies de Iacanga", que foram ao festival e ficaram até hoje na cidade. Mesmo Herd (da nave espacial) acabou largando a engenharia. Nas próximas páginas, você lê mais sobre ele e os outros veteranos de Iacanga, usem hoje terno ou chinelo.


Texto Anterior: Alunos árabes driblam desde revolução até visto enrolado
Próximo Texto: Maconha e chá de cogumelo oferecem riscos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.