São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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NA ESTRADA

Mayra Dias Gomes - mayradiasgomes@uol.com.br

Pais e ervas

Sentada em um Starbucks de Los Angeles, estaciono os olhos em um jovem que atravessa a rua. Ele parece ter uns 21 anos e está entrando em uma "farmácia de maconha". Essa visão é normal por aqui. Vejo lugares que vendem maconha por todos os lados. Para comprar a erva, é preciso conseguir uma receita médica. Cerca de 250 mil californianos possuem receitas que autorizam o consumo de "maconha medicinal".
Desde 1996, é permitido usar a droga legalmente desde que se prove ter alguma doença que pode ser aliviada ao fumar. Ansiedade ou insônia estão incluídas. Muitos californianos continuam debatendo o assunto, pois temem pelo bem-estar de seus filhos. Fumar maconha durante a adolescência pode ser um perigo. Apesar de o efeito da droga variar de organismo para organismo, numa época tão turbulenta, pode gerar um impacto negativo no aprendizado, no pensamento crítico e nos relacionamentos. Pode também abrir a porta para outras drogas, como muitos acreditam, mas tanto quanto o cigarro ou até o café podem.
Conheço muitos usuários. Alguns começaram por curiosidade ou tédio, e a maioria por vontade de se encaixar em algum grupo social específico. Outros para lidar com sentimentos como raiva ou depressão, e uma minoria por ter seguido o exemplo dos pais.
O pai da Bia fumava e dizia: "Pode fumar dentro de casa, mas não pode fumar na rua". A limitação naturalmente acontecia dentro de um espaço, pois fora de casa tudo se tornava válido para ela. Como as regras impostas dentro de casa não batiam com as regras da sociedade -nesse caso, brasileira-, Bia se tornou uma menina liberal. Viciada? Não necessariamente. Assim como muitos bebem e não se viciam. Nesse caso, uma adulta com vontade de proteger a própria intimidade, portadora da opinião de que é desnecessário punir os que são vítimas da droga ou proibi-la para os que usam com moderação.
Seu pai estava certo? Provavelmente não. Estava errado? Impossível julgar a criação de um pai que escolheu ser sincero. Citando a recente decisão da Argentina, eu digo: "As ações privadas dos homens que não ofendem a ordem e a moral pública, nem prejudicam um terceiro, estão reservadas a Deus". Então, se a Bia é feliz assim, não serei eu que irei condená-la.

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