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Beavis e Butt-Head vão deixar de ser cool
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
Criado pelo físico texano Mike
Judge, "Beavis and Butt-Head"
não é apenas mais um desenho
animado. Resume como nunca se
tinha visto a condição de ser moleque e estar fora do mundo.
Perdidos em um subúrbio terra-do-nada, longe de tudo, os
dois são burros na escola, incapazes de juntar A com B, mas praticam com verve incomparável
uma espécie de crítica absoluta da
indústria pop.
Eles ignoram as aulas do professor, o hippie tardio Van Driessen, só que aprenderam muito
bem as lições do mestre Kurt Cobain: roqueiro bom é roqueiro
que não finge, faz muito barulho,
leva o estilo de vida rocker às últimas consequências.
E é com esses parâmetros na cabeça que a dupla desbocada ridiculariza todo videoclipe com pretensões artísticas. Imagens em
preto e branco e letras de músicas
que, além de cantadas, aparecem
escritas, são combustível certo
para ironias.
Vocalistas cabeludos, tipo Sebastian Bach e Axl Rose, merecem os comentários mais ácidos.
Beavis e Butt-Head têm direito
a ser tão irônicos. Afinal, representam o ápice do cool. Gostam
de guitarras pesadas, vocais gritados, rock and roll básico. Tudo
aquilo que, sabemos, a chamada
cultura jovem produz de melhor.
Mas será que é isso mesmo?
Era.
O fato é que, pela primeira vez,
desde que o rock foi inventado,
segurar uma guitarra na frente
dos fãs e se esgoelar até cair morto está perdendo a graça.
As bandas barulhentas vêem o
público rarear e lutam contra a
escassez criativa. Até o Pavement,
atual número um das rádios independentes americanas, nada
faz além de autoplagiar músicas
de quatro anos atrás.
As meninas iradas do L7 lançam um novo disco, que balança,
contagia... mas poderia ter saído
em 1993.
David Bowie se mostra perdido
no espaço, U2 rasteja atrás da onda trip-hop.
As bandas de "vanguarda",
depois de verem a fórmula do
rock "alternativo" se esgotar,
acabaram afundadas no formato
experimental. Há coisas interessantes, como o Labradford e o
Harry Pussy, mas que claramente
não apontam para lugar algum,
exceto uma radicalização cada
vez maior da barulheira desconexa.
O terreno pop está portanto vago, pronto para ser ocupado pelos muitos nomes e nenhuma face
da dance music.
Mas, ao contrário do que se
possa avaliar do ponto de vista da
cena independente inglesa, o domínio dance ainda está longe de
ser total.
Perdidas entre Pantera e Tricky,
há infinitas trilhas à espera de que
alguém as descubra.
O britânico Prodigy, ex-tecno
radical, está fazendo isso, ao mergulhar cada vez mais fundo no
rock. Se não por convicção, pelo
menos por constatar que o mercado americano ainda resiste ao
dance "puro".
Resumo da ópera: o futuro é ou
terá algum tipo de superposição
com a forma dance, o ato de escutar música em casa foi condenado
à morte (você ouviria um CD inteiro de drum and bass no sofá da
sala?) e as guitarras estão virando
peça de museu.
Talvez fosse melhor não viver
para ver isso, mas aproxima-se o
dia em que Beavis e Butt-Head
vão deixar de ser cool.
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