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esporte
Judô na luta
A modalidade tem hoje no Brasil 2 milhões de praticantes,
mas só 14 vão ter a chance de participar da Olimpíada de Pequim
JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"E
m qual faixa você está?" Há 20
anos, era bem
comum ouvir
essa pergunta
nos corredores das escolas. Assim como o balé ou o jazz eram
obrigatórios para as meninas,
na década de 80, o judô era o esporte preferido dos meninos.
Embora atualmente o esporte
enfrente a concorrência de outras modalidades como o jiu-jítsu, o número de filiados às federações de judô tem aumentado muito nos últimos três anos,
e isso se reflete no número de
medalhas que o Brasil vem ganhando, explica o coordenador
técnico da seleção olímpica
brasileira, Ney Wilson. O judô é
o terceiro esporte com mais vitórias no país, atrás apenas do
iatismo e do atletismo.
Para conseguir superar essa
colocação, foi escalado um time
de 14 atletas, cuja média de idade é de 24 anos. Deles, apenas
Edinanci Silva e Leandro Guilheiro já participaram de Jogos
Olímpicos. Para o coordenador
técnico, a pouca idade dos judocas pode ser uma vantagem.
"Eles têm mais espontaneidade, versatilidade e amplitude
motora. Os atletas já formados
já vêm com qualidades, mas
trazem também defeitos", diz.
Espontaneidade era o que
não faltava para João Gabriel
Felizardo, 23, quando, aos seis
anos de idade, ganhou a faixa
branca. "Eu ia assistir a meu irmão treinar judô e ficava atrapalhando. Invadia o tatame e
fazia a maior bagunça. Aí meus
pais me matricularam na aula."
João, que tem 1,99 m e 110 kg,
vai disputar a categoria de atletas acima dos 100 kg. No início,
não gostava de judô. "Eu costumava fugir dos treinos para jogar videogame." Ele acredita
que só não abandonou o esporte por ser muito competitivo.
"Gosto muito do contato direto e da conquista. Passei a
curtir os treinos depois que entendi que, para competir, era
preciso treinar." Para estar na
Olimpíada, João treina em média cinco horas por dia.
Familiarizada com a rotina
puxada, Danielle Yuri, 24, dorme, come e respira judô. Filha
de um professor da arte marcial, ela costuma dizer que nasceu num tatame. "Aos seis, eu já
estava competindo", conta.
Danielle treinou com o pai
até os 11 anos, quando a família
se mudou para o Japão. Lá, deu
continuidade no aprendizado
durante oito anos, quando resolveu voltar ao Brasil.
A concorrência acirrada no
Japão também foi outro fator
que a trouxe de volta às terras
tupiniquins. "Lutar judô no Japão seria como um japonês entrar na seleção de futebol", diz.
Sem olhar para trás, a descendente de japoneses juntou
dinheiro, pôs a mochila nas
costas e veio para São Paulo.
Hoje mora em uma república
do clube São Caetano, junto
com outras seis lutadoras.
"Quando estão todas com TPM,
sai briga", confessa. Mas nada
de golpes de judô. Isso, só no tatame, onde recebe conselhos da
veterana Edinanci.
Dos desafios que a judoca
tem que superar, o mais difícil é
adaptar seu estilo clássico à
malícia brasileira e à força européia. "Meu judô é bastante
japonês. Na Europa eles usam
muita força. Se tiverem que
quebrar um dedo para finalizar
um golpe, elas quebram."
A mais nova representante
da modalidade em Pequim,
Mayra Aguiar, 16, também teme as moças do Hemisfério
Norte. Adepta do "judô brasileiro", ela credita seu sucesso à
família. "Meu pai praticava
taekwondo; minha mãe, caratê,
e minha irmã também faz judô." Com o apoio deles, ela não
desistiu. "Às vezes fico cansada
e bate um pessimismo."
Assim como os outros, Mayra
fez uma série de concessões para chegar ao topo. "Sinto saudade de ir ao shopping e dos amigos do colégio." Mesmo assim,
nada abala a recompensa de subir ao pódio. "Fecho os olhos e
vejo todo meu trabalho e meu
suor", diz a judoca, que, esperamos, deixe Pequim com uma
medalha de ouro no pescoço.
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