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CINEMA
Conheça as mentiras e as verdades de "O Dia Depois de Amanhã", que estréia na sexta
Hollywood contra a natureza
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
O verão começa na próxima sexta-feira.
Pelo menos em Hollywood. E a previsão é de tempo frio, com tempestades de
gelo, chuva de granizo, enchentes, furacões, desastres e muito exagero.
Estréia no próximo dia 28 o filme "O
Dia Depois de Amanhã", megaprodução
que encabeça a lista de lançamentos das
férias de verão dos EUA, que ainda terá
as continuações de "Homem-Aranha",
"Shrek" e o novo Harry Potter.
Produzido pela mesma equipe de "Independence Day", "O Dia Depois de
Amanhã" mostra as conseqüências do
aquecimento global, causado pelo efeito
estufa, no clima do planeta Terra. O problema é que cem anos para o planeta
Hollywood é o mesmo que dez dias.
A natureza, por mais que a mão do homem acelere suas transformações, não
funciona dessa maneira, como explica
Tércio Ambrizzi, chefe do departamento
do Ciências Atmosféricas do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo
(IAG-USP), que, a convite do Folhateen,
assistiu a uma pré-estréia do filme.
"Cientistas afirmam que essas conseqüências acontecerão entre 50 e cem
anos, e o filme acaba acelerando isso.
Apesar de a escala de tempo poder ser
um pouco menor do que os cientistas falam, isso não acontecerá em termos de
semanas ou mesmo em alguns anos.
Mudanças climáticas demoram centenas
de anos e, algumas vezes, milhares."
O filme conta a história de um climatologista (Dennis Quaid), que, após analisar pesquisas próprias e de outros colegas, descobre que a natureza vai se revoltar contra o homem e causar uma nova
Era do Gelo no Hemisfério Norte, que terá de ser totalmente evacuado, enquanto
milhões de pessoas morrerão. Como os
governantes nunca acreditam na previsão do tempo, o pior, é claro, acontece.
EUA, Europa e Ásia são tomados por
três furacões gigantes que congelam tudo por onde passam. Americanos são
obrigados a fugir para o México e outros
países da América Latina, que, em troca,
têm suas dívidas externas perdoadas.
Entre os excessos de "O Dia Depois de
Amanhã" está uma ocorrência de vários
tornados em Los Angeles. "Poderia haver tornados simultâneos, mas nunca
cinco ou seis na mesma cidade, porque
tornados em grandes cidades são muito
difíceis de acontecer, pois ocorrem geralmente em regiões mais descampadas."
Há também uma cena em que blocos
de gelo desabam do céu sobre a cabeça
de japoneses em Tóquio. "Granizo pode
cair com tamanhos razoáveis, mas são
muito menores que os do filme, no máximo do tamanho de uma bolinha de golfe.
Não dá para cair um tijolo, porque a atmosfera não comportaria um peso desses lá em cima", explica Ambrizzi.
As três tempestades, com características de furacão, em proporções gigantescas, que pegam metade do Hemisfério
Norte, como mostra o filme, são também
realmente impossíveis, diz Ambrizzi.
"Três furacões, um do lado do outro,
praticamente fechando o globo, nunca
vão ocorrer na vida real e nunca serão
daqueles tamanhos. Sempre que há uma
tempestade daquelas proporções tem de
haver uma compensação. Se você tem
uma massa muito grande subindo, tem
de ter uma região sem nuvens, por exemplo. O que se mostrou ali foi um Hemisfério Norte completamente tomado."
Mas nem tudo em "O Dia Depois de
Amanhã" é mentira. Os computadores e
equipamentos usados para as medições
climáticas, assim como imagens de satélites que são mostradas, são realmente
instrumentos importantes para a climatologia. Além disso, o filme serve de alerta para mostrar que o homem está, de
certa forma, destruindo o planeta.
"Os EUA são responsáveis por emitir
de 30% a 35% de gases, como o carbônico e o metano, que causam o efeito estufa. Seria muito importante a redução, como foi feito com o CFC, que interage na
camada de ozônio e foi proibido. Mesmo
tendo feito isso agora, o CFC ainda vai ficar na atmosfera por mais cem anos, mas
os efeitos serão minimizados no futuro.
É esse ponto que temos de trabalhar, no
Protocolo de Kyoto [acordo internacional destinado a combater o aquecimento
global], para que os países entendam que
alguma coisa tem de ser feita já."
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