São Paulo, Segunda-feira, 24 de Maio de 1999
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Evento Folhateen
Raimundos lançam CD modelo mainstream 99 e conversam com leitores

da Redação

Ormuzd Alvez/Folha Imagem
Nos detalhes, a partir da esq., Digão, Fred, Rodolfo e Canisso; ao fundo, a platéia que interrogou a banda


O cara a cara dos Raimundos com os leitores promovido pelo Folhateen na última sexta, aqui na Folha, não podia ter sido mais feliz. Os fãs escutaram, em primeira mão, o novo CD da banda, "Só no Forevis", que só chega às lojas na próxima quinta.
Depois, Digão, Fred, Canisso e Rodolfo, com mediação da editora do Folhateen, Bell Kranz, encararam a batelada de perguntas dos fãs. Leia abaixo um pouco do que rolou de melhor no encontro.
Denis Romani, 16 - Vocês pensam em mudar alguma coisa no álbum, já que foram roubados, para evitar que a galera compre de camelô?
Canisso -
Não, acho que qualquer mudança na capa ia gerar uma expectativa muito grande sobre os que foram roubados. Sempre vai existir aquele negócio: eu quero ter o CD roubado do Raimundos, vai virar uma coisa cult (risos).
Denis - Quando sai o novo clipe?
Fred -
Está chegando hoje em São Paulo, o da faixa "Mulher de Fases". O outro é de "A Mais Pedida", que deve entrar só em agosto.
Daniel Rocha, 19 - O que vocês acharam de terem abaixado o som do Sepultura no show do Metallica? Não deu nem pra escutar. E, em dezembro de 96, vocês fizeram o show da Brasil 2000 na Broadway e falaram que o Digão estava fora da banda. O que aconteceu?
Canisso -
O Digão teve uma fase meio turbulenta. Ele tinha parado pra ter filho, a gente estava brigando. Culminou com um problema com uma substância que ele ingeriu, e que não bateu legal. Então, a gente estava num clima brabo, mas isso a gente resolveu com a amizade da gente, que é mais importante até do que a banda. Sobre o Sepultura, é assim: sempre que houver uma banda brasileira e uma banda gringa juntas, até o hold da banda gringa vai valer mais que o da brasileira. As pessoas deveriam ter consciência: o Sepultura é mais que a banda gringa, chega lá fora e detona muito mais que o Metallica. Se o show for na Europa, na Indonésia, vamos ver qual é melhor: se o Metallica fazendo cover do Bon Jovi ou o Sepultura (aplausos).
Leandro, 18 - Queria saber sobre a banda em que o Rodolfo toca guitarra.
Rodolfo -
O nome é Royal Street Flash. É com a galera que eu andei a vida toda. No ano passado, a gente resolveu gravar uma fita. Gravamos cinco músicas e aí resolvemos lançar um CD, bancar por nossa conta. Inventamos até uma gravadora, a Domingos Discos.
Leandro - Como comprar o CD?
Rodolfo -
A gente vai vender esses discos no show da gente.
Leandro - Vocês acham que esse novo disco vai soar mais brasileiro do que "Lapadas", já que foi gravado aqui?
Canisso -
Com certeza, pelo fato de a gente estar no Brasil e estar perto dos nossos amigos.
Leandro - Existe algum endereço para mandar fita demo pra vocês?
Canisso -
Cara, o endereço é rockdemo.com, que hospeda o fã-clube dos Raimundos.
Ana Cláudia de Oliveira, 16 - O que vocês pensam sobre a violência entre os adolescentes daqui e dos EUA?
Rodolfo -
Acho que a propaganda é muito violenta. Na minha época, eu curtia desenho animado, e ninguém morria no desenho animado. Era o Pernalonga, o Patolino, aquelas paradas mais saudáveis. Hoje há muito medo, sacou? A sociedade é muito escrota. Você anda na rua, e é tudo escroto, as pessoas têm medo e se armam contra elas mesmas. Antes a galera saía para agitar, atrás de mulher, hoje sai atrás de macho (risos). Nos EUA, a sociedade é mais escrota. A gente esteve um tempo lá gravando "Lapadas" e deu pra sentir na pele. Um lugar onde você não pode tomar uma cerva na praia, às 2 horas você tem de ir pra casa... Ao mesmo tempo que você não pode, sei lá, se expressar, tomar cerveja, ficar até as 11 horas na rua, você pode ir numa loja e comprar uma AK-47 por US$ 700. Que tipo de moço você está criando?
Ana Cláudia - Vocês acham que uma música, um filme ou uma novela podem influenciar a vida de uma pessoa ou isso é ridículo?
Canisso - Depende da vida da pessoa. Quem não tem vida legal se espelha numas paradas pra poder viver e faz a maior merda.
Valério, 17 - Apesar de vocês serem uma banda popular no rock brasileiro, vocês encontram muita dificuldade na hora de fazer show, divulgação, por não fazerem um som mainstream, como pagode, axé, esses lixos?
Canisso - A principal crítica desse disco é isso. Vocês viram a capa. A gente está bonitão, modelo mainstream 99. Se o pessoal entender a piada, acho que vai dar um toque nas cabeças e abrir a oportunidade para outros tipos de som na mídia.
Fred - Eu já acho o seguinte: o próprio rock and roll se tornou uma coisa muito elitizada. Existe espaço para a gente chegar à grande mídia, à televisão, só que, por ter virado esse negócio elitizado, a gente não vai fazer play-back. E aí você acaba limitando as pessoas, que poderiam vir a conhecer o rock e discutir se é bom ou ruim.
Valério - Vocês encontram dificuldade para fazer show no interior, empresário que não quer levar vocês achando que vai ter prejuízo?
Canisso - Cara, existe gente que acha que rock é coisa do diabo. Tem medo mesmo.
Fábio Araújo Mill, 19 - Queria saber por que a falta de incentivo para o pessoal cantar em inglês, como o Sepultura. O Sepultura teve de fazer sucesso lá fora primeiro pra ser reconhecido no Brasil.
Rodolfo -
Acho que o povo brasileiro mal sabe falar o português. A música cantada em inglês fica mais distante ainda, mas a gente tem como cultura gostar muito das coisas que vêm lá de fora. O Raimundos teve essa penetração maior no público adolescente e de diversas classes exatamente porque a gente canta em brasileiro, não em português. O Sepultura conseguiu essa parada porque eles correram muito atrás, cara. Na época, pegaram vôo, deixaram a fita demo com não sei quem lá fora. Banda, no início, só rala, se você quer ser o bom naquilo que você faz, se você decidiu cantar em inglês, se a sua decisão é essa, prepare-se para ralar. Se você tiver valor um dia, você vai ser reconhecido em inglês, em português, na língua que for.
Fábio - O que vocês acharam de tocar com o Ramones?
Canisso -
É como fazer amor com a Cindy Crawford...
Digão - Existe uma historinha, conta essa historinha.
Fred - Eu estava na passagem de som do Ramones, em novembro de 94. E o Johnny Ramone me chamou e pediu pra eu tocar a guitarra. Comecei a tremer. Fui tremendo, e o cara falando em inglês, eu não sabia muito inglês, enrolava. Aí, ele falou pra eu tocar uma música. Eu pensei: "E agora, o que eu faço? Aí veio a "I Wanna Live" na minha cabeça. Eu falei: "I Wanna Live" eu sei. Comecei a tocar, e o C.J. começou a me acompanhar. Só que, na hora do refrão, eles normalmente fazem nas cordas mais grossas. Então, eu fiz numa corda embaixo, ali do outro lado, e o cara se atrapalhou, e o Johnny achou engraçado. Ele falou: "O cara sabe, e você não sabe?". Falou para o C.J. Isso ficou marcado na minha cabeça. Meu encontro com Deus foi esse, muito louco.
Edvana Vieira, 16 - O que vocês acham de a imprensa divulgar que o rock pesado instiga a violência?
Rodolfo -
Acho que música ruim instiga a violência. Show de axé tem muito mais porrada. Carnaval é tapa pra todo o lado. Camisinha no Carnaval é luva de box (risos).
Antônio Roberto Ernano, 17 -Quero saber se vocês vão fazer algum tipo de acústico.
Fred - Acústico é lance de banda que está acabando.
Digão - No Nirvana, o cara fez e morreu.
Rodolfo - Quando a gente tiver véinho, a gente vai lá e faz (risos).
Xando Espanhol, 18 - O que vocês acham de mais podre na sociedade brasileira e que banda nacional vocês estão ouvindo ultimamente?
Canisso - A elite brasileira.
Rodolfo - Podre é essa cúpula econômica, brother, que faz esses descalabros. Depois, vai tudo acabar em pizza. Acho que a gente deveria fazer uma pizzaria chamada CPI Pizzas.
Rodolfo - CPIzzas. Ia vender pra caramba.
Xando - E que banda vocês estão curtindo agora?
Rodolfo - O Rumbora é do caralho. Ratos do Porão pra mim é a melhor banda do mundo. A volta do Olho Seco achei legal pra cacete.
Carlos Roberto Machado - O lançamento do CD vai ter alguma noite de autógrafo em São Paulo?
Fred - Está marcado para o dia 26 (na loja Mirage, r. Iguatemi, 244, Itaim, à 0h começa a venda).
Digão - Mas, cuidado, não fala alto para os caras não saberem.
Folha - Vocês vão chegar de caminhão junto com os CDs?
Canisso - Cheio de segurança.
Digão - Polícia, canhão, Exército, vai ter tudo.
Fred - Se o cara for roubar o caminhão, leva a banda junto.



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