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"O metal é um vampiro
que precisa de sangue novo"
Lili Martins/Folha Imagem
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Bruce Dickinson bastante atento às questões no auditório da Folha
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da Redação
O cantor inglês de heavy metal
Bruce Dickinson esteve conversando com leitores do Folhateen
no último dia 13. Durante mais de
uma hora, o ex-vocalista do Iron
Maiden respondeu a perguntas de
fãs no auditório da Folha.
Dois dias depois, Dickinson se
apresentou diante de 25 mil pessoas em São Paulo, no Skol Rock.
Com outro ex-Iron Maiden em sua
banda, o guitarrista Adrian Smith,
Dickinson divulga seu novo CD,
"Accident of Birth".
Os outros álbuns da carreira solo
de Dickinson são "Tattooed Billionaire" (90), "Balls to Picasso"
(94) e "Skunkworks" (96).
A seguir, os melhores momentos
do encontro, mediado pelo jornalista e crítico musical Ivan Miziara.
Alex, 15 - Por que você não manteve a mesma banda com a qual
gravou "Balls to Picasso" para fazer o disco "Skunkworks"?
Bruce Dickinson - "Balls to Picasso" foi gravado com a mesma
banda que eu chamei para o novo
álbum, "Accident of Birth".
Quando eu encontrei esses caras,
Roy Z., Eddie e Dave, eles tinham
sua própria banda, Tribe of
Gipsys, e estavam tentando um
contrato com gravadora. Eles assinaram com a Mercury logo depois
que terminamos "Balls to Picasso". Então, para os shows seguintes, montei outra banda, com a
qual fiz "Skunkworks".
Com esse pessoal não consegui
criar um espírito de banda, as influências deles eram bem diferentes das minhas. O baterista tinha 19
anos, eu já nos 37... Mas acho
"Skunkworks" muito bom. Foi
recebido com suspeitas por uma
parte da comunidade do heavy
metal, porque não é bem um disco
de metal. Acabou não tendo muito
impacto. Aí, como a Tribe of
Gipsys não teve seu disco lançado,
voltamos a gravar juntos.
Rita, 22 - O que você acha do
heavy metal brasileiro?
Dickinson - Eu não sou um expert, mas é incrível para qualquer
país gerar uma banda como o Sepultura, que não é apenas um
grande sucesso comercial, mas
também uma banda influente em
todo o cenário. O Sepultura influencia muitas e muitas bandas na
Inglaterra, nos EUA...
Fernando, 18 - Existe alguma
possibilidade de você voltar para o
Iron Maiden?
Dickinson - Não. (aplausos)
Antônio, 18 - Você pretende continuar assim, sem um estilo fixo e
sem uma banda fixa?
Dickinson - Eu tento ter uma
banda fixa, mas as pessoas têm
suas carreiras. Eu quero convencer
o Tribe of Gipsys a tocar sempre
comigo, mas às vezes eles não podem sacrificar sua própria música
pela minha. Agora, estou feliz,
porque eles querem fazer a turnê.
Acho que eles podem ter seu próprio contrato para as coisas deles,
é só a gente organizar nossa agenda. E isso é bom, porque um dos
motivos que faz uma banda se separar ou começar a fazer música
chata é que as pessoas ficam cansadas umas das outras. Uma banda
deve ficar junta se quiser, não porque precisa ficar junta. Eu quero
ficar com essa banda o próximo
ano, e o outro, e... Bem, depois é o
ano 2000, que é o fim do mundo,
então... (risos)
Marcelo, 21 - Como foi a experiência de escrever um livro?
Dickinson - Foi um trabalho
muito duro. Você começa e, quando está na página 20, percebe que
ainda tem uma centena pela frente, talvez algumas centenas... "Oh,
o que eu fiz?" (risos) Eu achei que
nunca terminaria. Acabei conseguindo no meio de uma turnê. Durante um tempo, mostrei a muita
gente, à banda, e todos achavam
que deveria ser publicado, porque
era divertido. Quando saiu, vendeu 35 mil cópias na Inglaterra,
mas não foi fácil. Eu assinei o contrato para a publicação, e lá estava
escrito o prazo, dizia que deveria
ter 220 páginas... Pensei: "Merda!
Como vou fazer? Talvez se eu deixar bons espaços em branco entre
os capítulos..."
Rodrigo, 14 - O que você acha da
cena atual do metal?
Dickinson - Confusa, fragmentada. O estilo era mais forte nos
anos 80. Eu não gosto de ver bandas antigas reunidas, como Kiss,
Motley Crue, Ratt... Elas não vão
dar ao metal o que ele precisa para
ser encarado novamente com seriedade. O metal é como um vampiro, precisa de sangue novo.
Daniel, 17 - O que você acha do
Marylin Manson?
Dickinson - Muita gente parece
assustada com ele. Não o acho assustador, acho que ele segue a tradição de Alice Cooper, sabe, decapitação, bebês esfaqueados...
Marylin... Bem, não sei o que ele
pode fazer além disso. Musicalmente, ele faz aquela coisa industrial, e acho que não faz bem. Barulhos, chiados... Sei lá.
Aislan, 20 - Bruce, você foi influência direta de muitos vocalistas. Quais os que você prefere?
Dickinson - A melhor voz que
escutei no rock é a de Chris Cornell
(do extinto Soundgarden). Acho
que ele não vai mais cantar rock
pesado, mas ele pode superar
qualquer vocalista de metal.
Iran - Primeiramente, eu queria
falar para o Bruce. Toda vez que
ele vem aqui, eu vou atrás dele, e
ele nunca se lembra de mim, mas,
tudo bem! Eu queria saber sobre a
experiência maluca com os fãs que
você teve no ano passado, na Galeria do Rock (em São Paulo).
Dickinson - Fiquei preocupado,
achando que as pessoas podiam se
machucar. Havia 3.000 pessoas,
muitas, próximas a janelas. Tinha
medo de que alguém caísse. Mas
foi um grande evento.
Iran - Eu perdi um sapato. (risos)
Richard, 24 - Como é estar trabalhando de novo com Adrian Smith?
Dickinson - Ele vai estar no próximo CD. Nosso relacionamento
está melhor do que nos tempos do
Maiden, temos menos discussões.
Clayton, 20 - O que você acha dessas bandas de heavy metal que
traem o estilo por causa do modismo? Por exemplo, o próprio Metallica, que traiu o seu som.
Dickinson - Muitas bandas fazem coisas para ganhar dinheiro,
mas outras têm necessidade de fazer coisas novas. Às vezes, é difícil
diferenciar quem é autêntico. É
uma grande tentação para uma
banda de metal permanecer igual
durante anos, porque parece que
uma grande parte do público gosta
disso. Por isso, não entendo uma
banda como o Manowar, que gosta de dizer que tal coisa é "falso
metal". Eu não sei o que isso significa. Você gosta de uma banda ou
não gosta. É simples assim.
Alexandre, 19 - Há alguma chance de uma turnê por todo o Brasil?
Dickinson - Vir ao Brasil todos
os anos é uma grande idéia. Eu
tento fazer turnês cada vez maiores. Eu sempre peço para os organizadores incluírem o Brasil, porque eu gosto mesmo daqui.
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