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Michael Jackson está, mais uma vez, em maus lençóis
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Quando você ler está coluna, Michael Jackson estará: a) preso; b) livre, depois de pagar fiança de US$ 3 milhões; c) foragido.
Escrevo com cinco dias de antecedência,
por isso não tenho como saber. Mas não tem
escapatória -das três, uma. Novamente, Michael Jackson é acusado de abusar sexualmente de um menor de idade.
Trata-se de um destino embaraçoso para
um dos artistas mais conhecidos e bem pagos
de todos os tempos. Jacko, 45, acumulou mais
de meio bilhão de
dólares durante a
carreira. Deve ter
torrado mais do que
isso ao longo desse
"freak show", que,
no caso dele, hesitamos em chamar de
"vida".
Já fez dezenas de
plásticas no rosto, já
casou com a enfermeira do cirurgião plástico, já casou com a filha de Elvis Presley, já teve filhos que ninguém
sabe muito bem como e já pendurou um desses filhos -cuja existência era praticamente
ignorada- em uma janela de hotel em Berlim, na Alemanha.
A fama fritou os miolos de Jacko. Ele perdeu
o controle sobre a vida, as finanças e a carreira. No mundo atual, talvez só uma outra personalidade se equipare a ele em termos de
sandices autodestrutivas: o ex-campeão
mundial de boxe Mike Tyson. Não é a melhor
das companhias.
A pergunta inevitável: ser famoso e ter fortuna é ruim?
São muitos os exemplos de finais patéticos
para carreiras que eram puro êxito.
Elvis Presley morreu balofo, inerte na cama.
Nas raras vezes em que se levantava, era no
meio da tarde, depois que lhe enfiavam algodões com cocaína líquida nariz adentro.
O ultratatuado Dennis Rodman, rei dos rebotes no basquete americano, encerrou a carreira precocemente. Vive hoje em uma casa
apenas mais ou menos na Califórnia, afogado
em drogas, tequila e dívidas.
John Lennon, antes de ser assassinado, passou muitos anos recluso no megapartamento
do edifício Dakota, em Manhattan, improdutivo, subjugado pela heroína.
Seria preciso um espaço várias vezes maior
do que "Escuta Aqui" para listar todos os astros que tiveram (ou estão a caminho de ter)
um fim de vida e/ou carreira patético, em consequência direta da incapacidade de lidar
com a fama.
E você, jovem leitor que se prepara para ter
destaque em alguma área da atividade humana um dia, gostaria de ser fantasticamente rico? Fantasticamente conhecido? Os dois? Nenhum deles?
E, se você chegasse ao auge, saberia manter-se lá sem enlouquecer
ou se autodestruir?
Claro, não dá para
ter respostas agora.
Mas é bom já ir começando a pensar.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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