São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Tchau, Zé

Uma despedida para Zé Rodrix, que morreu no último dia 22

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Manhã de 14 de abril passado. Zé Rodrix sentou-se em um banco no quintal, debaixo de um limoeiro, e começou a dedilhar o violão.
Acompanhado da filha Bárbara, entrou em uma espécie de transe, um olhando para o outro e cantando baixinho. Palavras indecifráveis e melodias bonitas.
A cantoria só foi interrompida pelo alerta do fotógrafo da Folha, que acompanhava a reportagem e registrava a cena: "Zé, olha para a câmera!".
Ele se esqueceu de que estava só posando. Pai e filha se entreolharam, riram e continuaram tocando. É a cena que está aí no alto da página.
Aquele foi o meu segundo encontro com Zé Rodrix e, ao presenciar uma cena tão doce, me senti privilegiada.
Naquela manhã, fui recebida com um café fresquinho. Pai e filha me contaram os prazeres de estarem na mesma família.
"Se você criar os filhos de maneira repressora, estará jogando anos de convivência fora", disse ele.

"Não negue o que você é"
Nos anos 70, Zé foi o responsável por inventar o rock rural, a adaptação do rock à viola caipira brasileira.
Quando as gravadoras começaram a restringir suas composições, nos anos 80, ele foi para a publicidade, mas não perdeu a poesia. "Só tem amor quem tem amor pra dar", diz um jingle famoso que ele criou.
Zé disse a mim e à filha, naquela manhã: "A única transgressão possível é você negar aquilo que é". Ele voltou a tocar no começo dos anos 2000, mesma época em que Bárbara, então com 11 anos, subiu ao palco pela primeira vez.
Dali em diante, os dois se tornaram parceiros, dividindo palcos e composições. Naquele dia 14 de abril, Zé contou que lançaria, em breve, um novo disco com os antigos parceiros Sá e Guarabyra. Mostrou sua invejável coleção de LPs e contou que pretendia digitalizar as raridades para as novas gerações.
Na madrugada da última sexta, dia do fechamento desta reportagem, Zé Rodrix, 61, morreu, vítima de um ataque cardíaco. Bárbara concordou com a publicação deste texto. Ela ficou com a coleção de discos. (TMD)


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