São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

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ESCUTA AQUI

Fracasso e sucesso são quase iguais

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

Dois amigos inseparáveis, com gostos musicais parecidos. Cada um tem sua banda. São de Portland, Oregon, cidade verde e chuvosa dos EUA.
Um é Anton Newcombe, líder do grupo Brian Jonestown Massacre. Você provavelmente não conhece. O outro, Courtney Taylor, fundador dos Dandy Warhols, dos quais você já deve ter ouvido falar (principalmente se é leitor de "Escuta Aqui").
Anton é mais talentoso e criativo. Courtney, menos alucinado. Anton afundou-se na auto-sabotagem. Courtney fez dos Dandy Warhols uma das bandas americanas mais famosas do mundo.
Por que os caminhos tão diferentes, se A e C tiveram a mesma formação, excursionaram pelo mesmo circuito independente, com iguais oportunidades de sucesso?
Essa história é esmiuçada em um grande documentário, "Dig!", que tem passado com destaque em festivais estrangeiros e saiu agora em DVD na gringolândia. Se você quer ter alguma noção de como funciona a indústria da música, da linha finíssima que separa sucesso e anonimato, não deixe de ver.
"Dig!" impressiona porque as duas bandas, Brian Jonestown Massacre e Dandy Warhols, foram acompanhadas por sete anos! Como destaque, uma briga entre os próprios músicos, num show do Brian Jonestown Massacre que tinha por objetivo mostrar o grupo às gravadoras de Los Angeles. O couro come solto e os documentaristas entrevistam Anton depois da encrenca, com as roupas ainda cobertas de sangue.
A trajetória do Brian Jonestown Massacre é tão demencial que, naturalmente, o grupo recebe mais destaque no filme. Anton, filho de um pai alcoólatra e suicida, trata seus músicos como lixo. Diante qualquer possibilidade de sucesso, faz o que pode para botar tudo a perder.
Já os Dandy Warhols assinam contrato com uma grande gravadora, enfrentam o fracasso do primeiro disco, mas ficam unidos. Depois que emplacam uma música ("Bohemian Like You") como tema de um comercial de uma provedora de celulares, atingem o sucesso planetário. As conclusões de "Dig!" são simplistas: o BJM tinha tantos problemas porque seus músicos vinham de famílias despedaçadas, os Dandy Warhols deram certo porque sua origem familiar era mais estruturada. Mas isso não tira o brilho desse documentário indispensável para quem tenta entender essa entidade fantasmagórica chamada rock and roll.

CD PLAYER

PLAY - Arcade Fire no Brasil
Acredite. Arcade Fire, que vem para o Tim Festival, faz o melhor show de rock do mundo. Sete no palco, todos cantam e usam tudo como instrumento.

PLAY - Simon Reynolds no Brasil
Punk, ecstasy, pós-punk, poesia. Nada que é humano é estranho ao universo desse supercrítico inglês baseado em Nova York. Vem para o Campari Rock.

EJECT - Gang of Four e Mission of Burma fora do Brasil
Duas bandas dos anos 80 que voltaram a mil e viriam tocar aqui sem cobrar uma fortuna, ainda não estão na escalação de nenhum festival brazuca. Ficamos na torcida.


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