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Julgamento das estrelas
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Britney Spears se suicida e reencarna no novo
clipe; Eminem mete a boca em sua relação
com a mãe; Madonna cancela o vídeo em que
criticava a invasão do Iraque; uma das meninas
da dupla Tatu, que insinuava ser lésbica, arruma
namorado. Afinal, o que essas celebridades do
pop conseguem quando armam essas histórias?
A verdade é que pouca gente acredita nas polêmicas que eles criam para aparecer na mídia,
mas ninguém deixa de consumir os produtos
que esses caras fazem.
Saber exatamente o que se passa por trás das
intenções desses artistas é impossível, mas é certo que controvérsias alimentam de assunto fãs
ou aqueles que apenas gostam da música e não
se envolvem com a vida pessoal dos popstars.
Até a imprensa coloca mais lenha no círculo
vicioso que parece não ter começo nem fim, já
que criar escândalos para aparecer e vender não
é nenhuma novidade no pop.
"Everytime" é o nome do clipe. É uma das
poucas músicas escritas pela cantora Britney
Spears. Foi composta logo após o fim do relacionamento dela com o cantor Justin Timberlake.
No vídeo, ela está em uma limusine, com um
suposto namorado (seria um sósia de Justin, como resposta à sósia de Britney no clipe "Cry me a
River"?), em direção a um hotel em Las Vegas.
Após passarem pela barreira de fotógrafos, os
dois discutem. Ela vai tomar banho de banheira,
percebe que a cabeça sangra e, no pulso, há o que
parece ser sangue, como se tivesse sido cortado.
Ela se afoga na banheira. Como se fosse um espírito vagando livremente, Britney vê sua morte
no hospital ao mesmo tempo em que nasce um
bebê. No final, ela acorda na banheira com um
grande sorriso. Fala sério!
A total falta de sentido abriu espaço para dezenas de interpretações diferentes da mesma história. Além de suicídio, há hipóteses para sonho,
delírio artístico, reencarnação (segundo a versão
da cantora) e até uma crítica ao assédio da imprensa, como defende Leonardo Campos
Storch, 18, que mora no Rio e é webmaster do site www.britney.com.br, dedicado à artista.
"O que aparece no pulso de Britney não é um
corte, mas a pulseira da Kabalah, que ela usa
sempre. Se ela tivesse cortado o pulso, seria um
mau exemplo. Mas não acho que a pulseira quis
dar idéia de duplo sentido. Foi para mostrar
Britney como ela é na vida real, já que ela não usa
essa pulseira nos clipes", crê Leonardo.
Nem o casamento-relâmpago da cantora com
um amigo de infância, cancelado um dia depois,
é encarado como jogada de Britney para ficar em
evidência. "Os fãs não aceitaram isso numa boa,
pois ela sempre defendeu a família. Isso prova
que ela ainda é uma adolescente, que não pensa
como uma mulher adulta. Mostra também que a
cabeça dela estava confusa", diz Leonardo.
Catherine M. P. C. Barros, 13, que mora em
Santos (SP), gosta de Britney desde o primeiro
CD, "... Baby One More Time", de 1999, e não
concorda com Leonardo. Ela acha que o clipe de
"Everytime" e as atitudes polêmicas têm o objetivo de vender mais discos. "Ela deveria passar
boas mensagens. A letra de "Everytime" diz que
ela precisa de alguém. Talvez do Justin. Gostava
mais dela no começo da carreira. Acho que ela ficou vulgar, está mais atirada", diz Catherine.
Rainha da polêmica
Talvez Britney esteja aprendendo muito bem
os ensinamentos da rainha da polêmica, a cantora Madonna, que sempre se aproveitou de atitudes controversas para se promover.
No ano passado, às vésperas do lançamento do
vídeo de "American Life", que criticava a invasão
do Iraque, Madonna amarelou e suspendeu a estréia. O clipe acabou sendo exibido durante um
dia, inclusive no Brasil, e a polêmica conseguiu
despertar ainda mais o interesse de todo mundo
em vê-lo.
"Ela fez o clipe para falar do que estava acontecendo com os EUA e não para chamar a atenção.
Não foi só uma jogada de marketing", defende
Juliana Rosa, 15, que mora em São Paulo e faz
parte do fã-clube Minsane (www. minsane.
com.br), dedicado a Madonna.
"Apesar de o clipe ter sido proibido por ela,
praticamente o mundo todo o viu. Várias emissoras de televisão conseguiram autorização para
exibi-lo por um tempo, o que mostra que ela voltou atrás, mas nem tanto", defende o fã Marcus
Vinícius de Campos Ferreira, 18, de Jundiaí (SP).
Outro artilheiro da polêmica é o rapper americano Eminem, com suas letras que atacam todo
mundo: a MTV, os homossexuais e até a própria
mãe. Silvia Gomes D'Almeida, 13, que mora em
São Paulo, não é fã das idéias do Eminem, mas
gosta da música que ele faz.
"Acho meio ofensivo, pois ele usa a história da
vida dele para falar de problemas pessoais, como
dizer que a mãe o odiava. Ele quer mostrar para
os fãs que hoje é um vencedor, porque fez sucesso. Fico dividida entre gostar da música e não
concordar com a atitude ridícula dele", conta Silvia, que não compra discos do rapper, mas grava
CDs com músicas baixadas da internet.
Chamar a atenção parece também ter sido o
objetivo da dupla russa Tatu. As integrantes, Julia Volkova e Lena Katina, que estouraram com
uma letra sobre o relacionamento de duas garotas, apostaram no sucesso que a imagem de lésbicas teen fez e insinuaram um romance.
Para surpresa de muita gente que acreditou na
coragem das duas, Julia apareceu desfilando com
um namorado, Pavel, um lutador de caratê. Mais
heterossexual impossível.
"Foi um tipo de traição. Elas atraíram todo
mundo, porque as pessoas acharam corajosa a
atitude delas, e até incentivaram outras meninas
a fazer o mesmo, mas acho que ninguém deixou
de gostar delas por causa da mentira. Os artistas
fazem tanto isso que ninguém mais acredita neles", é o que pensa Bárbara Gonçalves de Oliveira
e Freitas, 14, de São Paulo, que continua achando
legal o som da Tatu e também o de Britney.
Manoela Frug Aschenbach, 14, também de São
Paulo, não gosta nem de Britney nem de Tatu,
mas acha que nos dois casos elas tentam de tudo
para aparecer. "Acho que a Britney é a maior modinha, uma Darlene [personagem de Deborah
Secco na novela "Celebridade'] da vida, que faz
tudo para subir", diz Manoela, que até chegou a
acreditar no namoro das meninas da Tatu.
"Elas nunca assumiram nada, mas apareciam
se beijando e passando a mão na outra. Não tenho preconceito, mas não é normal isso acontecer. Foi mesmo só para aparecer."
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