São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2004

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Julgamento das estrelas

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Britney Spears se suicida e reencarna no novo clipe; Eminem mete a boca em sua relação com a mãe; Madonna cancela o vídeo em que criticava a invasão do Iraque; uma das meninas da dupla Tatu, que insinuava ser lésbica, arruma namorado. Afinal, o que essas celebridades do pop conseguem quando armam essas histórias?
A verdade é que pouca gente acredita nas polêmicas que eles criam para aparecer na mídia, mas ninguém deixa de consumir os produtos que esses caras fazem.
Saber exatamente o que se passa por trás das intenções desses artistas é impossível, mas é certo que controvérsias alimentam de assunto fãs ou aqueles que apenas gostam da música e não se envolvem com a vida pessoal dos popstars.
Até a imprensa coloca mais lenha no círculo vicioso que parece não ter começo nem fim, já que criar escândalos para aparecer e vender não é nenhuma novidade no pop.
"Everytime" é o nome do clipe. É uma das poucas músicas escritas pela cantora Britney Spears. Foi composta logo após o fim do relacionamento dela com o cantor Justin Timberlake.
No vídeo, ela está em uma limusine, com um suposto namorado (seria um sósia de Justin, como resposta à sósia de Britney no clipe "Cry me a River"?), em direção a um hotel em Las Vegas. Após passarem pela barreira de fotógrafos, os dois discutem. Ela vai tomar banho de banheira, percebe que a cabeça sangra e, no pulso, há o que parece ser sangue, como se tivesse sido cortado. Ela se afoga na banheira. Como se fosse um espírito vagando livremente, Britney vê sua morte no hospital ao mesmo tempo em que nasce um bebê. No final, ela acorda na banheira com um grande sorriso. Fala sério!
A total falta de sentido abriu espaço para dezenas de interpretações diferentes da mesma história. Além de suicídio, há hipóteses para sonho, delírio artístico, reencarnação (segundo a versão da cantora) e até uma crítica ao assédio da imprensa, como defende Leonardo Campos Storch, 18, que mora no Rio e é webmaster do site www.britney.com.br, dedicado à artista.
"O que aparece no pulso de Britney não é um corte, mas a pulseira da Kabalah, que ela usa sempre. Se ela tivesse cortado o pulso, seria um mau exemplo. Mas não acho que a pulseira quis dar idéia de duplo sentido. Foi para mostrar Britney como ela é na vida real, já que ela não usa essa pulseira nos clipes", crê Leonardo.
Nem o casamento-relâmpago da cantora com um amigo de infância, cancelado um dia depois, é encarado como jogada de Britney para ficar em evidência. "Os fãs não aceitaram isso numa boa, pois ela sempre defendeu a família. Isso prova que ela ainda é uma adolescente, que não pensa como uma mulher adulta. Mostra também que a cabeça dela estava confusa", diz Leonardo.
Catherine M. P. C. Barros, 13, que mora em Santos (SP), gosta de Britney desde o primeiro CD, "... Baby One More Time", de 1999, e não concorda com Leonardo. Ela acha que o clipe de "Everytime" e as atitudes polêmicas têm o objetivo de vender mais discos. "Ela deveria passar boas mensagens. A letra de "Everytime" diz que ela precisa de alguém. Talvez do Justin. Gostava mais dela no começo da carreira. Acho que ela ficou vulgar, está mais atirada", diz Catherine.

Rainha da polêmica
Talvez Britney esteja aprendendo muito bem os ensinamentos da rainha da polêmica, a cantora Madonna, que sempre se aproveitou de atitudes controversas para se promover.
No ano passado, às vésperas do lançamento do vídeo de "American Life", que criticava a invasão do Iraque, Madonna amarelou e suspendeu a estréia. O clipe acabou sendo exibido durante um dia, inclusive no Brasil, e a polêmica conseguiu despertar ainda mais o interesse de todo mundo em vê-lo.
"Ela fez o clipe para falar do que estava acontecendo com os EUA e não para chamar a atenção. Não foi só uma jogada de marketing", defende Juliana Rosa, 15, que mora em São Paulo e faz parte do fã-clube Minsane (www. minsane. com.br), dedicado a Madonna.
"Apesar de o clipe ter sido proibido por ela, praticamente o mundo todo o viu. Várias emissoras de televisão conseguiram autorização para exibi-lo por um tempo, o que mostra que ela voltou atrás, mas nem tanto", defende o fã Marcus Vinícius de Campos Ferreira, 18, de Jundiaí (SP).
Outro artilheiro da polêmica é o rapper americano Eminem, com suas letras que atacam todo mundo: a MTV, os homossexuais e até a própria mãe. Silvia Gomes D'Almeida, 13, que mora em São Paulo, não é fã das idéias do Eminem, mas gosta da música que ele faz.
"Acho meio ofensivo, pois ele usa a história da vida dele para falar de problemas pessoais, como dizer que a mãe o odiava. Ele quer mostrar para os fãs que hoje é um vencedor, porque fez sucesso. Fico dividida entre gostar da música e não concordar com a atitude ridícula dele", conta Silvia, que não compra discos do rapper, mas grava CDs com músicas baixadas da internet.
Chamar a atenção parece também ter sido o objetivo da dupla russa Tatu. As integrantes, Julia Volkova e Lena Katina, que estouraram com uma letra sobre o relacionamento de duas garotas, apostaram no sucesso que a imagem de lésbicas teen fez e insinuaram um romance.
Para surpresa de muita gente que acreditou na coragem das duas, Julia apareceu desfilando com um namorado, Pavel, um lutador de caratê. Mais heterossexual impossível.
"Foi um tipo de traição. Elas atraíram todo mundo, porque as pessoas acharam corajosa a atitude delas, e até incentivaram outras meninas a fazer o mesmo, mas acho que ninguém deixou de gostar delas por causa da mentira. Os artistas fazem tanto isso que ninguém mais acredita neles", é o que pensa Bárbara Gonçalves de Oliveira e Freitas, 14, de São Paulo, que continua achando legal o som da Tatu e também o de Britney.
Manoela Frug Aschenbach, 14, também de São Paulo, não gosta nem de Britney nem de Tatu, mas acha que nos dois casos elas tentam de tudo para aparecer. "Acho que a Britney é a maior modinha, uma Darlene [personagem de Deborah Secco na novela "Celebridade'] da vida, que faz tudo para subir", diz Manoela, que até chegou a acreditar no namoro das meninas da Tatu.
"Elas nunca assumiram nada, mas apareciam se beijando e passando a mão na outra. Não tenho preconceito, mas não é normal isso acontecer. Foi mesmo só para aparecer."


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