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Saiba agora como é o novo álbum do Massive Attack
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
"Bolsos vazios... Acordar foi escolha sua... Caso limítrofe... Respirando, respirando, respirando..."
São trechos da letra de "Future
Proof", trilha sonora para uma guerra que ainda está por vir e faixa de
abertura de "100th Window", o novo
e magnífico álbum do grupo inglês
Massive Attack.
"Suas idéias nunca vão mudar/ A
não ser que você queira/ Com carinho alterar/ Os pensamentos que
entristecem." Seguimos com "100th
Window", agora na canção "What
Your Soul Sings", hino de esperança
sussurrado com doçura inédita por
Sinéad O'Connor, vocalista convidada nessa e em outras duas faixas.
Massive Attack, que era um trio,
resume-se hoje a Robert Del Naja,
também chamado de 3-D, rompido
com seus ex-parceiros.
É seu primeiro disco desde 1998.
Dizia-se, como é comum em situações de tanta espera, que teriam
enlouquecido no estúdio, mergulhados em uma improdutividade patológica. Vê-se agora que esses rumores eram falsos.
"100th Window" é um lançamento
colossal. Como um presente que, coberto por várias camadas muito finas de papel, de cores e de formas
variadas, esconde, lá no meio, uma
surpresa doce e venenosa.
É grande a autoconfiança de Del Naja, o domínio que ele tem do meio em que se expressa. Só um artista muito seguro de si chamaria
Sinéad O'Connor para cantar em seu disco.
Ela que, de confusão em confusão, acabou se
transformando em piada na indústria, a antítese do "cool".
Mas Sinéad surge contida em "100th Window", desempenhando o papel que foi de
Tracey Thorn em "Protection" (1995) e de Elizabeth Fraser em "Mezzanine" (1998). Ou seja, de emprestar um contraponto suave aos climas ásperos de Robert Del
Naja. No álbum mais recente, também são vocalistas convidados o jamaicano Horace Andy (colaborador
frequente do Massive Attack) e Damon Albarn (Blur e Gorillaz).
Não há como classificar "100th
Window". O Massive Attack superou
o gênero que ajudou a criar, o chamado trip-hop. O que Robert Del Naja
faz hoje poderia ser denominado de
"dark reggae" em alguns instantes.
De rock sintetizado em outros. Ou,
simplesmente, o tempo todo, de arte.
"Quero ar/ Preciso, suplico/ A pele
escurecida/ Com medo de ver/ Irradiar/ Lábios abertos/ Não parem de
sorrir." Essa é "Butterfly Caught", o
desespero traduzido em notas eletrônicas. Quem canta é o próprio 3-D,
balbuciando as palavras como um
Bob Dylan saído de um pesadelo
"high-tech".
Não há um único momento fraco,
ou auto-indulgente, em "100th Window". Ainda que, em faixas como
"Name Taken", Del Naja siga um caminho arriscado, de privilegiar climas
e texturas, esquecendo a melodia, nada nos faz escapar do transe magnético a que o álbum induz.
O disco sai na Inglaterra no dia 10 de
fevereiro. Deve aparecer no Brasil logo depois. E vale o clichê: se você tem dinheiro
para um único disco
em 2003, que seja
"100th Window", a
nova obra-prima do
Massive Attack.
Álvaro Pereira Júnior, 39, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo E-mail: cby2k@uol.com.br
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