UOL


São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCUTA AQUI

Saiba agora como é o novo álbum do Massive Attack

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

"Bolsos vazios... Acordar foi escolha sua... Caso limítrofe... Respirando, respirando, respirando..."
São trechos da letra de "Future Proof", trilha sonora para uma guerra que ainda está por vir e faixa de abertura de "100th Window", o novo e magnífico álbum do grupo inglês Massive Attack.
"Suas idéias nunca vão mudar/ A não ser que você queira/ Com carinho alterar/ Os pensamentos que entristecem." Seguimos com "100th Window", agora na canção "What Your Soul Sings", hino de esperança sussurrado com doçura inédita por Sinéad O'Connor, vocalista convidada nessa e em outras duas faixas.
Massive Attack, que era um trio, resume-se hoje a Robert Del Naja, também chamado de 3-D, rompido com seus ex-parceiros.
É seu primeiro disco desde 1998. Dizia-se, como é comum em situações de tanta espera, que teriam enlouquecido no estúdio, mergulhados em uma improdutividade patológica. Vê-se agora que esses rumores eram falsos.
"100th Window" é um lançamento colossal. Como um presente que, coberto por várias camadas muito finas de papel, de cores e de formas variadas, esconde, lá no meio, uma surpresa doce e venenosa.
É grande a autoconfiança de Del Naja, o domínio que ele tem do meio em que se expressa. Só um artista muito seguro de si chamaria Sinéad O'Connor para cantar em seu disco. Ela que, de confusão em confusão, acabou se transformando em piada na indústria, a antítese do "cool".
Mas Sinéad surge contida em "100th Window", desempenhando o papel que foi de Tracey Thorn em "Protection" (1995) e de Elizabeth Fraser em "Mezzanine" (1998). Ou seja, de emprestar um contraponto suave aos climas ásperos de Robert Del Naja. No álbum mais recente, também são vocalistas convidados o jamaicano Horace Andy (colaborador frequente do Massive Attack) e Damon Albarn (Blur e Gorillaz).
Não há como classificar "100th Window". O Massive Attack superou o gênero que ajudou a criar, o chamado trip-hop. O que Robert Del Naja faz hoje poderia ser denominado de "dark reggae" em alguns instantes. De rock sintetizado em outros. Ou, simplesmente, o tempo todo, de arte.
"Quero ar/ Preciso, suplico/ A pele escurecida/ Com medo de ver/ Irradiar/ Lábios abertos/ Não parem de sorrir." Essa é "Butterfly Caught", o desespero traduzido em notas eletrônicas. Quem canta é o próprio 3-D, balbuciando as palavras como um Bob Dylan saído de um pesadelo "high-tech".
Não há um único momento fraco, ou auto-indulgente, em "100th Window". Ainda que, em faixas como "Name Taken", Del Naja siga um caminho arriscado, de privilegiar climas e texturas, esquecendo a melodia, nada nos faz escapar do transe magnético a que o álbum induz.
O disco sai na Inglaterra no dia 10 de fevereiro. Deve aparecer no Brasil logo depois. E vale o clichê: se você tem dinheiro para um único disco em 2003, que seja "100th Window", a nova obra-prima do Massive Attack.


Álvaro Pereira Júnior, 39, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo E-mail: cby2k@uol.com.br

Texto Anterior: Mito: "Hobbit" Tolkien ganha festa de 111 anos em SP
Próximo Texto: Brasas
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.