São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2001

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Tudo bem ler Machado de Assis aos 15 anos; o problema é parar por aí

LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um grande comentador de literatura, o canadense Northrop Frye (1912-1991), recomendava a seus alunos que, para se tornarem bons leitores e críticos, quem sabe mesmo bons escritores, seria bom conviver com a obra de um grande escritor. Ler tudo o que ele escreveu, ler o que ele leu, frequentar seu universo de referências. Ler para ganhar intimidade e para entendê-lo.
Sim, mas o que é um grande escritor, exatamente? Para Frye, o grande escritor é aquele com cuja obra se pode conviver por longo tempo sem sentir claustrofobia. Bingo. É só fazer o teste: pense num escritor que pareça grande e submeta o cara à prova. Por quanto tempo dá para manter uma convivência íntima com ele? Um ano? Dois? Ou só dois meses?
Porque existem autores que parecem grandes e, ao serem vistos de perto, são fraquinhos. Daqueles cujo universo produzido dá para atravessar com água pelo tornozelo e cujo universo de referência se limita, por exemplo, ao universo pop. Caras assim, mesmo que talentosos, a gente só tolera por uns dias.
Não é o caso, definitivamente, do maior gênio das letras nacionais, Machado de Assis (1839-1908). Sim, você já o leu para o colégio, talvez tenha lido mal e pouco, o que é típico. Não se assuste: Machado requer certa maturidade existencial, que é raro ter aos 15 anos. Dá mesmo para dizer que Machado precisa de um leitor maduro, para ser fruído em detalhe. Nada contra começar a lê-lo digamos na oitava série, é claro; o problema é parar por aí a leitura.
Só depois é que a gente começa mesmo a perceber a fineza do cara. Como é o caso de Luciano Trigo, que de leitor assíduo passou a membro efetivo da confraria dos apaixonados pela obra do cara, tendo publicado faz pouco um livro inteligente, agradável e muito interessante para a formação do leitor de Machado: "O Viajante Imóvel - Machado de Assis e o Rio de Janeiro de Seu Tempo". O título explica a abrangência do tema, a cidade que viu nascer e morrer o autor de "Dom Casmurro", cidade de que Machado quase nunca se ausentou. E precisava?
E-mail: fischerl@uol.com.br

"O Viajante Imóvel - Machado de Assis e o Rio de Janeiro de Seu Tempo"
Autor: Luciano Trigo
Editora: Record
Quanto: R$ 34, em média



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