São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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esportes

Ralando no asfalto

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Kelvin Hoefler Rodrigues, 14, que anda ganhando todas as competições


ALAN DE FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Slides, shovits, flips, rotações e ollies. Estranhas para muita gente, essas palavras, que se referem a algumas manobras do skate, são constantes nas conversas e nos encontros de skatistas.
E não são poucos: de acordo com a CBSk (Confederação Brasileira de Skate), existem mais de 300 competidores profissionais e cerca de 10 mil nas categorias de base no país.
O crescimento desse esporte radical se deve, principalmente, ao reconhecimento dos skatistas Bob Burnquist, Sandro Dias ("Mineirinho ") e Rodil de Araújo Júnior ("Ferrugem"), campeões mundiais da modalidade. Entre as garotas, a brasileira Karen Jones é o principal destaque. Ela, que é campeã mundial na categoria vertical feminina, chega a disputar torneios entre os homens quando não há competidoras.
Sonhando em se tornar um profissional, Kelvin Hoefler Rodrigues, 14, já começa a despontar entre os skatistas amadores. No ano passado, nas 11 etapas que participou do Sampa Skate, evento promovido pela Prefeitura de São Paulo em várias regiões da cidade, o garoto ficou em primeiro lugar em cinco delas.
E, no TOP40, competição que reuniu os 40 melhores da categoria amadora e ocorreu no último dia 20 no ginásio do Pacaembu, ele se sagrou campeão. "Fiquei surpreso, porque o nível estava espetacular", afirmou o estudante.
Kelvin mora no Guarujá, litoral sul de São Paulo, mas tem que ir até Santos treinar a execução das manobras. "Lá no Guarujá não tem pistas de skate", lamenta.
O estudante começou a praticar o esporte por influência de seu pai, Eneas de Souza Rodrigues, 45, que, nos anos 1970, também andava de skate. "No começo, eu não queria que ele competisse e levasse esse esporte a sério, porque desejava que o Kelvin fosse jogador de futebol", confessou Eneas, que atualmente é também o técnico do filho.

O chão é o limite
Os amigos João Pedro Dantas ("Anjinho"), 17, e Ricardo Ceipolla ("Pic"), 17, apesar da pouca idade, desejam se tornar profissionais e têm bastante experiência sobre as rodinhas do skate. Aos dez anos de idade já arriscavam manobras perigosas. E a tentativa de um flip, de um ollie ou de pular um obstáculo já deixou marcas em seus corpos.
Ricardo, que começou a andar de skate pegando emprestado o do irmão, conta que sofreu uma ruptura de ligamento no tornozelo esquerdo.
Não é à toa que sua mãe morre de medo que ele se machuque. "Ela sente isso porque o meu irmão quebrou o braço esquerdo e colocou treze pinos e duas placas de platina depois de cair andando de skate", conta.
Vestindo camisa e calça largas e ao som de rap norte-americano -moda comum entre os skatistas-, João Pedro costuma andar de skate no vale do Anhagabaú (centro) e no terminal da Lapa (zona oeste).
"O único problema é que nós ainda somos bastante discriminados. Muita gente ainda acha que todo skatista é maloqueiro", reclama. Pic mostra o seu talento no parque da Juventude (zona norte) ou na praça Roosevelt (centro).

Diversão e educação
Ciente de que o caminho até o profissionalismo é difícil e reservado a poucos atletas, o organizador do Sampa Skate, Marcio Tanabe, tenta mostrar muito mais o lado da diversão e da educação do que o da pressão da competição.
"Claro que é importante querer se tornar um Mineirinho ou um Bob Burnquist, mas os jovens skatistas não podem perder o foco na educação", afirma.
Por essa razão, mesmo com a segunda colocação no TOP40, o estudante Lucas Silva de Almeida, 16, prefere manter os pés no chão. "O que vale mesmo é a diversão e encontrar a galera do skate."


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