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Soundgarden foi vencido pelo tédio
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
A notícia veio há duas semanas.
Pela Internet, o leitor Christiano
Barros, de Belo Horizonte, me
avisava do fim do Soundgarden, a
banda de Seattle que provou ainda ser possível fazer hard rock
com vigor e inteligência.
Foram seis álbuns oficiais entre
1987 e 1996. O sucesso de massa
só veio com a balada "Black Hole
Sun", de 1994, mas muito antes
eles já faziam rock de primeira,
sempre mais ou menos à margem
da cena grunge capitaneada pelo
conterrâneo Nirvana.
O grunge vivia da pegada punk,
e simplesmente ninguém acreditaria em uma banda punk que tivesse, como o Soundgarden, a
coragem de botar na guitarra o
tiozinho hiponga Kim Thayil.
Lembro da primeira vez em que
ouvi Soundgarden. Foi em 1989,
época de lançamento do disco
"Louder Than Love". Liguei o
rádio na então venerada WFNX,
rádio alternativa de Boston
(EUA), onde eu estudava.
Peguei a música na metade e fiquei esperando o final, para saber
de que se tratava aquela barulheira toda. Por cima dos últimos
acordes da guitarra, veio a voz do
locutor fazendo um trocadilho:
"This is the garden of sound, and
I'm the sound gardener" ("este é
o jardim sonoro, e eu sou o jardineiro do som"; em inglês soa
mais legal).
Virei fã, acabei perdendo um
show deles logo depois (esgotou
rápido, na época eles tocavam em
clubes pequenos) e só fui ver o
Soundgarden ao vivo no festival
Lollapalooza de 1992, junto com
Lush, Pearl Jam, Jesus and Mary
Chain, Ministry e os Chili Peppers (não preciso dizer que foi o
melhor Lollapalooza de todos os
tempos).
O show deles não chegou a contagiar os jecas da platéia, loucos
para acender isqueiros na apresentação melosa dos Chili Peppers. Mas eu adorei.
Como apontou o Christiano na
mensagem que recebi, o fim da
banda não poderia ser mais melancólico. Ao que tudo indica,
eles não brigaram, continuam
chegados. Foi tédio mesmo.
O comunicado oficial é um curto tratado de espírito anti-rock
and roll. "Depois de 12 anos, os
membros do Soundgarden decidiram, amigável e mutuamente,
se separar em busca de outros interesses. No momento, não há informações sobre planos para o
futuro."
Só isso. Nem mesmo a inevitável desculpa: "diferença artísticas".
Conversando sobre "aquele"
assunto (o fim do rock) com um
amigo, concluímos o que já escrevi aqui algumas vezes: o rock,
hoje um gênero em que grandes
bandas acabam pelo bom motivo
de não ter mais o que fazer, está
condenado, como o jazz, à condição de morto-vivo.
As lojas vão continuar a ter prateleiras de rock. Barrigudos carecas vão seguir apreciando o tipo
de música de sua juventude. Vai
haver concertos em casas de
shows "específicas".
Mas o rock como veículo de inquietação jovem acabou. Igual ao
Soundgarden.
Álvaro Pereira Júnior, 34, é editor-chefe do
"Fantástico" (Rede Globo)
cd player
`This is a Long Drive
for Someone with Nothing to Think About',
Modest Mouse
A idade nos faz ficar
benevolentes. Em
outros tempos, um
CD com um título cabeça desses iria direto para o Eject. Mas
o Modest Mouse, queridinho
das rádios universitárias americanas, ganha o Play porque
pelo menos parece Pixies.
`The Normal Years',
Built to Spill
Atenção: este não é o
álbum do Built to
Spill que está arrebentando nas paradas alternativas americanas. "The Normal Years" é de 1996 e foi lançado pelo selo K, o que costuma ser garantia de qualidade.
Com uma frase, resume-se o
som do Built to Spill e de quase
todas as bandas novas americanas: parece Pavement.
`Now, More Charm
and More Tender', Pee
A primeira faixa deste CD é só para fazer
a gente pensar que
acabou a pilha do aparelho de
CD. Depois vem um monte de
gracinhas, como aparecer no
visor que o CD tem 51 faixas.
Não dá para aguentar. Eles podiam deixar de ser metidos e
parar de imitar o Superchunk.
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