São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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MÚSICA

Com o corpo do Guns N" Roses e a cabeça do Stone Temple Pilots, o Velvet Revolver quer abalar o rock

Quem tem medo de Axl Rose?

Associated Press
A partir da esq., Slash, Duff McKagan, Scott Weiland, Dave Kushner e Matt Sorum, integrantes do Velvet Revolver


LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

A era "monstros do rock" ganha real sentido agora, quando finalmente vem à luz o muito misterioso Velvet Revolver, seu primeiro disco sujo, seus integrantes de comportamento explosivo, as caras de maus, as frases para assustar e sua tacada ambiciosa para derrubar todo mundo das paradas de sucesso.
O "monstro" não é força de expressão. Banda-frankenstein formada com o corpo do Guns N" Roses e a cabeça do Stone Temple Pilots, o Velvet Revolver já chega abalando o rock atual, mas com prazo de validade incerto. Ninguém sabe o quanto vai durar a reunião do auto-destrutivo Scott Weiland (STP) com o guitarrista Slash, o baixista Duff McKagan e o baterista Matt Sorum, ex-companheiros de Axl Rose, aquele. Completa a banda o guitarrista Dave Kushner, ex-Suicidal Tendencies.
"Não sei se você vai entender, mas o Velvet Revolver é uma verdadeira banda real de rock", disse Scott Weiland à Folha, em entrevista por telefone, de Los Angeles.
"Viemos para mudar algumas coisas", acredita o roqueiro, conhecidíssimo na música alternativa americana tanto quanto nas clínicas de desintoxicação californianas, desde que o Stone Temple Pilots seguia a trilha do Nirvana, nos anos 90.
Weiland foi o último "pedaço" a entrar no Velvet Revolver. O projeto começou com ensaios algo secretos em 1992, quando os "gunners" da banda resolveram tocar a vida e desencanar de Rose e do "roses". E foi exatamente por causa da entrada do vocalista que a banda não ficou com cara de Guns n" Roses 2.
"Sabia que havia muito tempo que os caras estavam ensaiando. Aí, teve um dia em que Duff me ligou. Disse que eu era o vocalista que eles queriam. Mas eu não podia aceitar. Ainda estava envolvido com o Stone Temple Pilots."
"A coisa estava embaçada. Não sabíamos se o STP acabava ou não. As conversas com a gravadora não chegavam a lugar nenhum. Passaram alguns meses e eu pensei: "Preciso fazer alguma coisa", porque estava definhando. Encontrei com Duff e, quando ele esboçou um novo convite, disse: "Estou nessa!"."
Mudar algumas coisas no rock, como proclama Weiland, talvez não seja o caso, já que o recém-lançado álbum "Contraband" não faz mais do que sacudir o mofo grunge, aplicar bons, mas comuns, hard rock e escalar as indefectíveis baladas. Mas, sobre o "impacto maciço", esse já pode ser sentido no resultado das vendas do desencantado CD, que teve seu lançamento adiado pelo menos três vezes.
"Contraband", que foi às lojas americanas no dia 8 de junho e chega agora às brasileiras, vendeu lá 250 mil cópias na primeira semana, marca considerada a melhor estréia de uma banda de rock na "Billboard" em anos. O disco entrou no top dez de onze países, fora os EUA.
"Estamos nessa pelo rock. Se vai vender, se vai tocar no rádio, não me interessa", disse Weiland. O reloginho do Velvet Revolver foi disparado.


GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Todo mundo sabe que a cabeça foi mesmo a última parte do corpo a ser colocada nesse frankenstein furioso que é o Velvet Revolver. O que não se sabe é que o coração da banda, o guitarrista Slash, não tinha noção do que passava por aquela cabeça até ouvir os seus trinados.
"Eu não tinha percebido o quanto a gente precisava do Scott Weiland até ouvi-lo cantar. A gente já tinha feito um monte de músicas, mas precisava de um vocalista. Ouvimos uma porção de gente boa, mas nenhuma dessas pessoas tinha a personalidade que a gente precisava", disse Slash, 38, de Los Angeles (EUA).
"Quando o Scott chegou e começou a cantar, a voz dele era diferente de tudo o que a gente esperava. O jeito como ele canta não é nada previsível, isso só fez com que ficássemos mais excitados de tê-lo na banda. Ele se mostrou o cara certo e deu às músicas que a gente escreveu um tipo de selo de originalidade."
Essa surpresa é mais do que justificada, pois a idéia de levar Weiland para fazer um teste com a banda foi do baixista Duff McKagan. "Conhecia algumas músicas, mas nunca tinha visto o Stone Temple Pilots ao vivo ou tive um disco deles em casa. Achava que o STP tinha um pouco essa coisa de rock de vanguarda, por um lado, mas, por outro, parecia um cruzamento de John Lennon com Billy Idol", comentou o ex-Guns N" Roses.
Com Weiland no Velvet Revolver, foram criadas as músicas de "Contraband", mas antes do CD, a banda fez dois testes. O primeiro foi incluir um cover de "Money", do Pink Floyd, na trilha de "Saída de Mestre", de F. Gary Gray, e "Set Me Free", lançada na trilha de "Hulk", de Ang Lee. "Havia muita expectativa em torno da banda, então achei que seria mais legal lançar primeiro um cover. E foi ótimo, porque tirou a pressão de cima de nós", disse Slash.
A música "Set Me Free" foi outro tiro certeiro. Na semana em que foi lançada, bateu o recorde de downloads no iTunes. Mas Slash diz nem se importar com isso.
Só que, não fosse a internet, o barulho em torno da banda teria sido menor. Há mais de ano, sites de fãs dão palpites e chutes de como o novo supergrupo deveria chamar. Entre os nomes, há alguns hilários como Guns N" Roses Minus Axl.


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