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COMPORTAMENTO
Emprestar ou trocar peças temporariamente, para ir à balada ou à escola, passa a ser mania entre meninos e meninas
Minha roupa, sua roupa
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Campos do Jordão, sexta-feira, 21h. É
feriado, a cidade está bombando. As
meninas começam a se arrumar para a balada. Qual calça combina mais com
essa blusa? Esse casaco fica legal com esse
cachecol? Depois de uma hora e muitas
opiniões, elas estão prontas para a noite:
quase nenhuma delas, no entanto, está
usando os próprios modelitos. Na verdade,
é difícil dizer qual é a dona de cada peça de
roupa, tamanho o troca-troca.
"Muitas vezes, a gente usa a roupa inteira
da amiga", diz Fernanda Junqueira, 16, que
passou o feriado de Corpus Christi em
Campos do Jordão. Ficou em uma casa
com seis amigas (era a "casa das sete mulheres"). "A gente experimentava as roupas
40 vezes e pedia a opinião de todas. Se a
maioria achava que estava bom, ótimo."
O hábito de emprestar roupas para os
amigos e de pegar emprestado não é só da
turma de Fernanda, pelo contrário: é mania entre os adolescentes. De certa forma, é
como se a brincadeira de trocar a boneca de
roupa várias vezes passasse para a vida real.
Só que, como o próprio guarda-roupa é limitado, elas acabam recorrendo às amigas.
"Há uma loja que vende calças de veludo
lindas, de várias cores. Como não dá para
comprar todas, cada amiga comprou a calça de uma cor, e aí a gente troca, empresta
para as outras", diz Fernanda.
Eliza Grunglasse, 16, amiga de Fernanda,
também passou o feriado em Campos do
Jordão, só que em outra casa, com duas
amigas. "Na hora de arrumar o armário,
misturamos todas as nossas roupas. Colocamos todas as calças juntas, todas as blusas juntas e assim por diante. Quando a
gente ia sair, nem precisava pedir para a
outra, era só pegar."
O troca-troca de roupas é mais intenso
quando a galera viaja para algum lugar diferente, mas também acontece quando as
meninas vão à casa de alguém estudar, conversar ou se arrumar antes de ir para a balada. Às vezes, elas até perdem a noção de onde está determinada roupa, porque a amiga
empresta para a amiga, que empresta para
a amiga e por aí vai.
"De vez em quando acontece de uma
roupa sumir, mas ela sempre acaba voltando. A gente pergunta para as amigas quem
foi a última que usou", conta Luiza Lopes
da Silva Peixoto, 16. "Uma vez, uma blusa
minha sumiu. Eu já tinha até desistido de
encontrar, quando fui à casa de uma amiga
da minha amiga, que eu nem conhecia, e a
blusa estava lá."
Os meninos também estão na onda. "É
bom para variar mais, a gente acaba enjoando das próprias roupas", diz José Claudio Damasceno, 19, que costuma emprestar camisetas, bermudões e blusões para o
vizinho Álvaro Felipe Vietri Castello, 18,
que também empresta as roupas para ele.
As roupas vão rodando, mas os seus donos não parecem sentir o menor ciúme.
"Eu sou muito sossegada com essas coisas,
empresto até roupa nova, na boa. Já emprestei uma sandália que eu nem tinha usado ainda", diz Eliza.
Quem mais parece ter ciúme, na verdade,
são as mães. A maioria reclama. "Acho que
é uma coisa da nossa geração, os adultos
não entendem, acham que é falta de educação. Minha vó ficou chocada quando disse
que eu usava a roupa das minhas amigas",
afirma Eliza. "Quando minha mãe vê algum amigo meu usando minhas roupas,
diz: "Larga de ser besta!'", diz Álvaro Felipe.
E quando a roupa volta estragada? Aí, é
claro, ninguém gosta. "Uma vez, um amigo
pediu para passar um tempo com uma jaqueta minha e ficou com ela a maior cara.
Um dia, vi uma menina que estava com ele
deitada no chão em cima da minha jaqueta.
Quando ele foi me devolver, estava toda detonada. Falei: "Pode ficar com ela!". Acabei
ficando com uma jaqueta dele, mas a minha era de marca, tinha custado uns R$
250", lembra José Claudio.
"Eu acho que é falta de consideração
quando a gente empresta a roupa e a pessoa
estraga ou perde", diz Eliza. Ela nunca estragou roupa de ninguém, mas uma sacola
cheinha de roupas da amiga que estava na
sua casa desapareceu. "Na verdade, a minha amiga tinha esquecido a sacola na minha casa, ou seja, não estava sob a minha
responsabilidade." A garota havia voltado
de viagem, e as roupas estavam em um saco
de lixo. Provavelmente, segundo ela, a empregada jogou fora, pensando que era lixo.
Como não dava para recuperar tudo, elas
acabaram entrando em um acordo. "A única coisa que ela fez questão de ter de volta
foi uma sandália e um vestido de marca,
que tinha acabado de ganhar." O vestido
custou R$ 150, e a sandália, cerca de R$ 80.
O pai de Eliza pagou a conta. "Ele ficou superbravo, disse que era a primeira e a última vez que faria isso." "Quando as roupas
sumiram, minha amiga ficou supernervosa. Achei até que ela foi meio estúpida, mas
depois ela pediu desculpas, e eu aceitei. Era
uma amiga muito importante, e eu não ia
ficar brigando por causa de roupa." Amizade em primeiro lugar.
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