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ESTANTE
A dureza de ser uma criança e um adolescente no mundo dos adultos
Não sei bem quando é que a gente
começa a reinventar a infância,
atribuindo a ela ares de paraíso. O
certo é que, a partir de certo momento, a gente passa a pensar nos
primeiros anos da vida como em
um tempo de pura felicidade.
Não é nada disso, pelo contrário.
Na infância, a gente sofre pra burro.
Sofre por solidão, por não entender
os movimentos do mundo adulto,
por não poder fazer coisas que nos
são vetadas. Um sofrimento com o
qual a gente tem de aprender a lidar.
Daí vem um grande autor e nos
põe em contato direto com as durezas de nosso passado individual,
com as dores de ser uma criança e
um adolescente sensível. O nome
dele: Dylan Thomas (1914-1953).
Foi um poeta muito expressivo, um
escritor capaz de comover muita
gente (sabe o Bob Dylan? Passou de
Robert Zimmerman a Bob Dylan
por causa do nosso Thomas), autor
do belo livro "Retrato do Artista
Quando Jovem Cão".
O título cita explicitamente um
romance do irlandês James Joyce
(1882-1941), mas acrescenta a palavra "cão", numa espécie de auto-retrato impiedoso. Os contos de Thomas são parte ficção e parte autobiografia, sempre colocando em cena passagens de sua vida, as expectativas de ser poeta (ele escrevia desde a adolescência), e registrando,
em textos relativamente difíceis,
mas compensadores, as dores de
crescer, de viver, de existir neste
mundo que nos cabe.
E-mail: fischerl@uol.com.br
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