São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2004

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ESCUTA AQUI

Nem os Pixies sabem que o Brasil gosta deles

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Ninguém esperava que os ingressos para o show da banda americana Pixies, a ser realizado no dia 8 de maio em Curitiba, fossem tão procurados. Nem os organizadores do evento nem os fãs dos Pixies e, com certeza, nem a própria banda (apesar de que eles não devem fazer a mínima idéia do que está acontecendo aqui no Brasil).
Os Pixies, para quem não sabe, são um dos grupos mais importantes/influentes da história recente do rock.
Lançaram o primeiro álbum em 1987, acabaram em 1992. Voltam agora com uma turnê mundial sem nenhuma discurseira hipócrita: não escondem que só estão reunidos pelo dinheiro.
"Escuta Aqui" da semana passada deu um "play" para os promotores do evento curitibano por conseguirem desviar a rota dos Pixies e trazê-los para tocar no Brasil. Foi o bastante para que minha caixa postal explodisse com mensagens de gente que não conseguiu comprar ingressos nem ao vivo nem pela internet. Todo mundo furioso com os organizadores do show, acusados de aprontar uma lambança gigantesca por absoluta falta de planejamento.
O fato é que a lambança realmente existiu -o tal site que deveria vender os ingressos vivia fora do ar, e a compra no guichê único de Curitiba mostrou-se mais complicada do que a busca por Osama Bin Laden nas montanhas do Paquistão.
O primeiro impulso, portanto, seria descer a lenha nos donos do evento, por causa do despreparo. Porém muita gente do ramo -como o amigo Lúcio Ribeiro, colunista da Folha- defende posição oposta. Para esse pessoal, o que importa é a cara e a coragem dos curitibanos, capazes de atrair um grupo tão importante ao Brasil. Segundo esse raciocínio, problemas acontecem, paciência.
Na verdade, ambos os lados têm razão, porque a gente, aqui no Brasil, vive uma situação perversa: por causa da falta de público e dos altos custos, poucas bandas vêm para cá. E, porque poucas bandas vêm ao Brasil, não se cria uma cultura, um "modus operandi", que viabilize shows gringos sem grandes trapalhadas.
Dá desespero constatar que toda essa confusão aconteceu exatamente do mesmo jeito há 18 (!!) anos, quando a banda inglesa Siouxsie and the Banshees se apresentou no Brasil (São Paulo, Santos e Rio). Eu estava lá, na fila no Anhembi, na hora em que deveriam abrir os guichês. A abertura atrasou, a fila era enorme e, de repente, depois de serem atendidas umas poucas pessoas, os ingressos "acabaram". Claro que reapareceram, magicamente, minutos depois, nas mãos dos cambistas.
Era uma época muito parecida com a de hoje. Com a economia do país em frangalhos, quase nenhum show internacional acontecia por aqui. E, de repente, a vinda de Siouxsie transformou-se num evento maior do que a vida, atraindo muito mais gente do que se esperava. Como em 2004, os fãs ávidos por ingressos foram recebidos em clima de bagunça total.


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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