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ESCUTA AQUI
Nem os Pixies sabem que o Brasil gosta deles
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Ninguém esperava que os ingressos para o
show da banda americana Pixies, a ser realizado no dia 8 de maio em Curitiba, fossem
tão procurados. Nem os organizadores do
evento nem os fãs dos Pixies e, com certeza,
nem a própria banda (apesar de que eles não
devem fazer a mínima idéia do que está acontecendo aqui no Brasil).
Os Pixies, para quem não sabe, são um dos
grupos mais importantes/influentes da história recente do rock.
Lançaram o primeiro álbum em
1987, acabaram em
1992. Voltam agora
com uma turnê
mundial sem nenhuma discurseira
hipócrita: não escondem que só estão
reunidos pelo dinheiro.
"Escuta Aqui" da
semana passada deu um "play" para os promotores do evento curitibano por conseguirem desviar a rota dos Pixies e trazê-los para
tocar no Brasil. Foi o bastante para que minha
caixa postal explodisse com mensagens de
gente que não conseguiu comprar ingressos
nem ao vivo nem pela internet. Todo mundo
furioso com os organizadores do show, acusados de aprontar uma lambança gigantesca
por absoluta falta de planejamento.
O fato é que a lambança realmente existiu
-o tal site que deveria vender os ingressos vivia fora do ar, e a compra no guichê único de
Curitiba mostrou-se mais complicada do que
a busca por Osama Bin Laden nas montanhas
do Paquistão.
O primeiro impulso, portanto, seria descer a
lenha nos donos do evento, por causa do despreparo. Porém muita gente do ramo -como o amigo Lúcio Ribeiro, colunista da Folha- defende posição oposta. Para esse pessoal, o que importa é a cara e a coragem dos
curitibanos, capazes de atrair um grupo tão
importante ao Brasil. Segundo esse raciocínio, problemas acontecem, paciência.
Na verdade, ambos os lados têm
razão, porque a gente, aqui no Brasil, vive uma situação perversa: por
causa da falta de público e dos altos custos, poucas bandas vêm para cá. E, porque poucas bandas
vêm ao Brasil, não se cria uma cultura, um "modus operandi", que
viabilize shows gringos sem grandes trapalhadas.
Dá desespero constatar que toda
essa confusão aconteceu exatamente do mesmo jeito há 18 (!!)
anos, quando a banda inglesa
Siouxsie and the Banshees se apresentou no Brasil (São Paulo, Santos e Rio). Eu estava lá, na fila no
Anhembi, na hora em que deveriam abrir os guichês. A abertura
atrasou, a fila era enorme e, de repente, depois de serem atendidas
umas poucas pessoas, os ingressos
"acabaram". Claro que reapareceram, magicamente, minutos depois, nas mãos dos cambistas.
Era uma época muito parecida
com a de hoje. Com a economia do
país em frangalhos, quase nenhum show internacional acontecia por aqui. E, de repente, a vinda
de Siouxsie transformou-se num evento
maior do que a vida, atraindo muito mais
gente do que se esperava. Como em 2004, os
fãs ávidos por ingressos foram recebidos
em clima de bagunça
total.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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