São Paulo, Segunda-feira, 29 de Março de 1999
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Entenda esta guerra

RODRIGO CASTRO
free-lance para a Folha

A região dos Bálcãs (leste da Europa) volta a ser palco de conflitos armados. Desta vez, entre a Iugoslávia e potências ocidentais lideradas pelos EUA. O motivo: Kosovo.
Na última quarta-feira, forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar encabeçada pelos norte-americanos) iniciaram ataques contra a Iugoslávia.
Na quinta e sexta-feira, quando esta edição foi fechada, mísseis e bombas voltaram a atacar. A operação não tinha prazo para terminar.
Os bombardeios são o último capítulo de um conflito que se arrasta há um ano na Província de Kosovo e já deixou 2.000 mortos e 400 mil refugiados -a luta contra o domínio sérvio. Os projetos de independência de Kosovo são antigos. Dos 2 milhões de habitantes, 90% são muçulmanos de origem albanesa, contra 10% de sérvios (etnia majoritária no restante da Iugoslávia).
Em 89, a luta pela independência ganhou novo fôlego depois de o governo ter revogado a autonomia de Kosovo.
No início de 98, frente ao fortalecimento dos separatistas, o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic (que é sérvio), contra-atacou, iniciando os conflitos que duram até hoje e que fizeram dos civis de origem albanesa suas principais vítimas.
O Ocidente, temendo que a violência em Kosovo desembocasse em uma guerra étnica de grandes proporções, como ocorreu na Bósnia e na Croácia, conseguiu, sob ameaça de usar a força, convencer separatistas e sérvios a negociar a paz.
Os representantes muçulmanos concordaram em abrir mão da independência em troca de uma autonomia limitada. Mas os diálogos fracassaram, depois de Milosevic se recusar a permitir a presença, em Kosovo, de tropas da Otan para monitorar a execução das medidas. Restou a Milosevic enfrentar a força das armas.
Segundo o governo iugoslavo, que cortou relações diplomáticas com EUA, Reino Unido, Alemanha e França, só no primeiro dia de ataque houve 10 mortos e 38 feridos.
A Otan diz estar tendo sucesso em sua missão, que é diminuir o poderio militar dos sérvios. Entre os alvos estão sistemas de defesa antiaérea e instalações militares.
A ação, porém, não conta com um respaldo internacional unânime. Entre os que se opuseram estão a Rússia, a China e o Brasil. Mesmo membros da Otan (Itália e Grécia) sugeriram o fim dos bombardeios.
Os russos, aliados históricos dos sérvios (ambos povos eslavos), foram os mais enérgicos nas críticas aos EUA e seus aliados. A crise entre o país e o Ocidente é considerada a mais grave desde o fim da Guerra Fria.
A Otan foi criticada porque iniciou a ação militar sem consultar a ONU, órgão internacional responsável por autorizar um ataque como este.
Alguns analistas ainda contestam a eficácia da operação. Segundo eles, uma ação limitada a ataques pelo ar, como a iniciada na quarta, não é suficiente para abalar o poder de Milosevic e forçá-lo a recuar. Há relatos de que as forças sérvias, mesmo após os bombardeios, continuam a atacar civis e separatistas em Kosovo.


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