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Entenda esta guerra
RODRIGO CASTRO
free-lance para a Folha
A região dos Bálcãs (leste da
Europa) volta a ser palco de
conflitos armados. Desta vez,
entre a Iugoslávia e potências
ocidentais lideradas pelos
EUA. O motivo: Kosovo.
Na última quarta-feira, forças
da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar encabeçada pelos
norte-americanos) iniciaram
ataques contra a Iugoslávia.
Na quinta e sexta-feira, quando esta edição foi fechada, mísseis e bombas voltaram a atacar. A operação não tinha prazo para terminar.
Os bombardeios são o último
capítulo de um conflito que se
arrasta há um ano na Província
de Kosovo e já deixou 2.000
mortos e 400 mil refugiados
-a luta contra o domínio sérvio. Os projetos de independência de Kosovo são antigos.
Dos 2 milhões de habitantes,
90% são muçulmanos de origem albanesa, contra 10% de
sérvios (etnia majoritária no
restante da Iugoslávia).
Em 89, a luta pela independência ganhou novo fôlego depois de o governo ter revogado
a autonomia de Kosovo.
No início de 98, frente ao fortalecimento dos separatistas, o
presidente iugoslavo, Slobodan
Milosevic (que é sérvio), contra-atacou, iniciando os conflitos que duram até hoje e que fizeram dos civis de origem albanesa suas principais vítimas.
O Ocidente, temendo que a
violência em Kosovo desembocasse em uma guerra étnica de
grandes proporções, como
ocorreu na Bósnia e na Croácia,
conseguiu, sob ameaça de usar
a força, convencer separatistas
e sérvios a negociar a paz.
Os representantes muçulmanos concordaram em abrir
mão da independência em troca de uma autonomia limitada.
Mas os diálogos fracassaram,
depois de Milosevic se recusar
a permitir a presença, em Kosovo, de tropas da Otan para
monitorar a execução das medidas. Restou a Milosevic enfrentar a força das armas.
Segundo o governo iugoslavo, que cortou relações diplomáticas com EUA, Reino Unido, Alemanha e França, só no
primeiro dia de ataque houve
10 mortos e 38 feridos.
A Otan diz estar tendo sucesso em sua missão, que é diminuir o poderio militar dos sérvios. Entre os alvos estão sistemas de defesa antiaérea e instalações militares.
A ação, porém, não conta
com um respaldo internacional
unânime. Entre os que se opuseram estão a Rússia, a China e
o Brasil. Mesmo membros da
Otan (Itália e Grécia) sugeriram o fim dos bombardeios.
Os russos, aliados históricos
dos sérvios (ambos povos eslavos), foram os mais enérgicos
nas críticas aos EUA e seus aliados. A crise entre o país e o Ocidente é considerada a mais grave desde o fim da Guerra Fria.
A Otan foi criticada porque
iniciou a ação militar sem consultar a ONU, órgão internacional responsável por autorizar um ataque como este.
Alguns analistas ainda contestam a eficácia da operação.
Segundo eles, uma ação limitada a ataques pelo ar, como a
iniciada na quarta, não é suficiente para abalar o poder de
Milosevic e forçá-lo a recuar.
Há relatos de que as forças sérvias, mesmo após os bombardeios, continuam a atacar civis
e separatistas em Kosovo.
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