São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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Tiozinho toma Ecstasy e divide com os filhos

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

E nós que achávamos que Ecstasy era a droga da rapaziada de 20 e poucos anos que dança até se acabar em raves espalhadas pelo mundo...
Um documentário que passou ontem à noite no canal HBO, dos EUA, mostra uma realidade bem diferente. É o dia-a-dia de um tiozinho do pacato norte da Califórnia que, aos 40 anos, pira ao descobrir as pastilhas de "E".
Enfrentando a chamada "crise da meia-idade", divorciado, ele passa a viver em função da droga. Tinge o cabelo e começa a frequentar raves da região de San Francisco, consideradas as mais radicais (leia-se: menos desanimadas) dos EUA. Com ele, a prole -uma filha de 15 anos e dois meninos, de 13 e de 18.
O homem só revela o primeiro nome: Scott. Sua rotina familiar faz "The Osbournes", o programa que mostra a rotina na casa do metaleiro Ozzy Osbourne, parecer um documentário sobre o convento da Madre Teresa de Calcutá.
Segundo o crítico do jornal "San Francisco Chronicle", que viu a fita, o filme da HBO é de um realismo brutal. Numa determinada cena, Scott e os filhos estão em uma festa fumando maconha, cheirando cocaína e tomando Ecstasy aos baldes. Quando parece que o estoque de entorpecentes vai acabar, ele dá dinheiro para o filho caçula ir buscar mais na rua.
Os realizadores do filme, Arnold Shapiro e Allison Grodner, disseram ao "Chronicle" que o objetivo não foi fazer apologia do Ecstasy e do uso de drogas, digamos, "em família". Ao contrário, eles pretenderam mostrar que o "E", tido muitas vezes como inofensivo, provoca grave dependência e profundos distúrbios familiares.
Segundo dados divulgados pelo "Chronicle", 3,3% dos americanos acima de 35 anos usaram alguma droga ilegal, pelo menos uma vez, em um período de 30 dias no ano 2000.
E 8.000 americanos de 26 anos ou mais usaram alucinógenos, também no ano 2000, entre cem e 299 dias!
"Conheço gente de mais de 50 anos que toma MDMA [nome técnico do Ecstasy]", disse ao "Chronicle" o especialista Steven Fowkes, do Instituto de Pesquisa para a Intensificação Cognitiva, também na Califórnia. Segundo ele, em certos círculos, o Ecstasy é uma droga popular há 30 anos, e "pessoas que começaram a usar aos 20 continuam tomando aos 50 anos".
Os autores do documentário são firmes ao dizer que não quiseram de modo algum glorificar o uso do "E". Para reforçar seu ponto de vista, lembram a cena em que a polícia dá uma batida e encontra drogas na casa de Scott. Ele vai preso (depois é solto, pagando fiança).
Um dia passa no Brasil, e a gente confere.

E-mail:
cby2k@uol.com.br


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