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Tiozinho toma Ecstasy e divide com os filhos
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
E nós que achávamos que Ecstasy era a droga da rapaziada de 20 e poucos anos que
dança até se acabar em raves espalhadas pelo
mundo...
Um documentário que passou ontem à noite no canal HBO, dos EUA, mostra uma realidade bem diferente. É o dia-a-dia de um tiozinho do pacato norte da Califórnia que, aos 40
anos, pira ao descobrir as pastilhas de "E".
Enfrentando a chamada "crise da meia-idade", divorciado, ele passa a viver em função
da droga. Tinge o cabelo e começa a frequentar raves da região de San Francisco, consideradas as
mais radicais (leia-se: menos desanimadas) dos EUA.
Com ele, a prole
-uma filha de 15
anos e dois meninos,
de 13 e de 18.
O homem só revela o primeiro nome: Scott.
Sua rotina familiar faz "The Osbournes", o
programa que mostra a rotina na casa do metaleiro Ozzy Osbourne, parecer um documentário sobre o convento da Madre Teresa
de Calcutá.
Segundo o crítico do jornal "San Francisco
Chronicle", que viu a fita, o filme da HBO é de
um realismo brutal. Numa determinada cena,
Scott e os filhos estão em uma festa fumando
maconha, cheirando cocaína e tomando Ecstasy aos baldes. Quando parece que o estoque
de entorpecentes vai acabar, ele dá dinheiro
para o filho caçula ir buscar mais na rua.
Os realizadores do filme, Arnold Shapiro e
Allison Grodner, disseram ao "Chronicle"
que o objetivo não foi fazer apologia do Ecstasy e do uso de drogas, digamos, "em família". Ao contrário, eles pretenderam mostrar
que o "E", tido muitas vezes como inofensivo,
provoca grave dependência e profundos distúrbios familiares.
Segundo dados divulgados pelo "Chronicle", 3,3% dos americanos acima de 35 anos
usaram alguma droga ilegal, pelo menos uma
vez, em um período de 30 dias no ano 2000.
E 8.000 americanos de 26 anos ou mais usaram alucinógenos, também no ano 2000, entre cem e 299 dias!
"Conheço gente de mais de 50 anos que toma MDMA [nome técnico do Ecstasy]", disse
ao "Chronicle" o especialista Steven Fowkes,
do Instituto de Pesquisa para a Intensificação
Cognitiva, também na Califórnia. Segundo
ele, em certos círculos, o Ecstasy é uma droga
popular há 30 anos, e "pessoas que começaram a usar aos 20 continuam tomando aos 50
anos".
Os autores do documentário são firmes ao
dizer que não quiseram de modo algum glorificar o uso do "E". Para reforçar seu ponto de
vista, lembram a cena em que a polícia dá
uma batida e encontra drogas na casa de
Scott. Ele vai preso (depois é solto, pagando
fiança).
Um dia passa no Brasil, e a gente confere.
E-mail:
cby2k@uol.com.br
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