São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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Sexo & saúde

Jairo Bouer

Uma questão bi

"Tenho uma filha de 14, inteligente e madura e que, talvez até por isso, sente dificuldade em se relacionar com os meninos de sua idade. Agora ela tem dito que é bissexual e que tem namorada. As opções são de cada um e não ficaria extremamente infeliz caso ela fosse mesmo bi. Mas acho que é uma fase passageira e gostaria que ela se permitisse mais tempo antes de assumir essa posição (porque ela não tem o menor constrangimento em falar sobre isso com a família toda). Parece que esse tipo de comportamento é comum entre os "emos", grupo a que ela diz pertencer."

Embora a maior parte dos jovens tenha uma orientação heterossexual predominante desde cedo, uma parcela dessa população ainda não se definiu sexualmente aos 14. Alguns porque percebem uma orientação homossexual, mas ainda têm dificuldade em lidar com esse desejo distinto, e outros porque estão confusos com as diversas possibilidades.
Com a flexibilização dos hábitos sexuais nas últimas décadas, muitas pessoas que tinham dúvida, sentiam desejo ou estavam curiosas se permitiram experimentar o mesmo sexo. Alguns especialistas enxergam hoje até um certo "modismo" nessa tendência das múltiplas experiências. E esse fenômeno apareceu de forma ainda mais comum entre as garotas, que, em geral, lidam com sua sexualidade de uma maneira mais tranqüila do que os garotos.
Os emocores, ou emos, fazem parte de um grupo com alguns códigos de identificação próprios, como o visual meio punk, meio gótico, uma referência musical distinta e com uma certa androginia. Nesse contexto, muitos deles se dizem bissexuais.
Sua filha se diz bissexual e não esconde essa situação de ninguém. É como se ela não tivesse dúvidas e fizesse questão de mostrá-la. Talvez, para uma adolescente inteligente e madura, assumir que tem dúvidas é mais difícil do que afirmar uma "suposta" certeza.
É claro que isso pode ser apenas uma fase. Mas também pode ser que, no futuro, ela venha a ter um comportamento homo ou bissexual. Difícil saber! Talvez o mais importante neste momento seja estar ao lado dela, mostrar que na vida nem sempre a gente consegue certeza em relação a temas complexos como afeto e sexualidade tão cedo e que isso geralmente exige trabalho e maturidade. Se ela quiser, uma terapia pode ser importante neste momento.
jbouer@uol.com.br

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