São Paulo, segunda, 29 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

som

Marcelo D2 mistura hip hop e música brasileira em seu 1º álbum solo

DANIEL POMPEU DE TOLEDO
free-lance para a Folha

Depois do enorme sucesso do Planet Hemp com "Os Cães Ladram Mas A Caravana Não Pára", Marcelo D2 retorna, misturando hip hop e música brasileira em seu primeiro álbum solo: "Eu Tiro É Onda".
O CD deve ser lançado em agosto. Foi gravado quase inteiramente no estúdio caseiro de D2, com a produção dos DJs Zé Gonzales e Rodrigo Nuts e mixado em Nova York. As bases foram feitas a partir de samples de música brasileira e são recheadas de diálogos de filmes nacionais clássicos, como "O Bandido da Luz Vermelha" e "Pixote".
Para desespero da moral e dos bons costumes do brasileiro, tudo isso serve de apoio para a língua afiada de D2, que pela primeira vez teve seu vocal registrado em alto e bom som. Ele e Zé Gonzales explicaram para a Folha o que está por trás de "Eu Tiro É Onda".


Folha - Por que você resolveu gravar um disco solo agora, no momento em que o Planet Hemp vive sua maior popularidade?
Marcelo D2 - A onda desse disco é provar que é possível gravar um disco em casa, com qualidade de fita demo. Além disso, eu queria ter a experiência de fazer um disco de hip hop, misturando samples nacionais. A onda de gravar um disco em casa é que você não tem muita responsabilidade de vender muito. Não foi para competir com o Planet, para entrar no top 10. Pelo contrário.
Folha - Por que você escolheu o americano Carlos Bass para mixar o disco, que foi feito só com samples de música brasileira?
Marcelo D2
- Sendo um disco de hip hop, eu achei legal chamar um engenheiro especializado nisso. Eu conheci o trabalho dele por meio do Wu Tang Clan. Ele trouxe uma textura muito legal ao som. Eu queria um som sujo, podre.
Folha - No disco vocês tiveram a participação do pianista João Donato. Como foi gravar com ele?
Zé Gonzales
- Dirigir o João Donato foi engraçado: "Dá para o senhor fazer assim e assim?". O cara é o maior mestre, e a gente ficava meio sem jeito. Mas ele também entrou na onda. No final, quando a gente já tinha desmontado tudo, ele falou: "Dá pra ajeitar o microfone de novo? Eu tive uma idéia". Aí ele gravou mais um take, que foi o definitivo na nova versão de "Mantenha o Respeito". Depois, ficou contando histórias até as quatro da manhã.
Folha - Você finalmente fez um cover. Por que escolheu Thaíde e DJ Hum?
D2 -
Na verdade a gente queria uma participação do Thaíde, mas não rolou, pois a gente estava tirando uma onda em casa. Quem aparecia, gravava. E o Thaíde não mora no Rio, não tinha como aparecer. Nunca fiz um cover. Fiz porque acho Thaíde e DJ Hum uma coisa muito forte, pena que não tenha o reconhecimento merecido. Eu também pensava isso dos Racionais antes de eles estourarem.
Folha - E a situação do Planet Hemp?
Zé Gonzales -
A gente nunca desiste. É muito difícil. Quando a gente consegue dar um show, a banda fica muito feliz. Todo show é muito bom porque a gente passa muito tempo sem tocar.
D2 - Nesses seis anos juntos, a gente foi para a cadeia, teve de fugir da polícia, sair na mão. Isso cansa. Onde chegamos, somos recebidos como os marginais que vieram destruir as famílias. Por isso resolvi dar um tempo, fazendo um disco sem muito compromisso. Devemos começar a trabalhar no novo do Planet no final do ano.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.