São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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No fundo do copo

O consumo abusivo do álcool provoca graves problemas de saúde. A quantidade para uma pessoa se prejudicar varia de acordo com cada organismo. Veja o que o álcool pode fazer com você:

Cérebro - Na adolescência, o uso abusivo pode causar a destruição de neurônios e impedir a realização de sinapses, fundamentais a processos como o de aprendizagem. É nessa fase que o cérebro tem mais condições fisiológicas de armazenar e de processar informações. O álcool causa alteração da memória e perda de reflexos, o que pode contribuir para acidentes de trânsito. Bêbado, o adolescente fica mais vulnerável a relações sexuais sem proteção e se expõe a DSTs. O álcool pode aumentar a pressão arterial e provocar derrame cerebral.

Esôfago - O álcool danifica as células do esôfago, causando uma inflamação, chamada esofagite. Pode causar sensação de queimação e dores quando um alimento for engolido. Em casos graves, provoca hemorragia e vômitos de sangue.

Estômago - O álcool contribui para o desenvolvimento da gastrite, uma inflamação da camada interna do estômago. Quando é muito grave, pode causar úlcera, ferida na parede do estômago que provoca dores fortes. Essas alterações, somadas a deficiências no pâncreas, impedem o órgão de absorver corretamente nutrientes (síndrome de má absorção), o que pode resultar em anemia. Além disso, mais de 80% dos cânceres de boca, laringe, faringe e estômago estão relacionados ao álcool.

Fígado - É o único órgão que metaboliza o álcool no organismo. Quando a pessoa bebe demais, ele é sobrecarregado e suas células ficam inflamadas, provocando a hepatite. A cirrose, conseqüência mais grave da hepatite, que pode ocorrer após dez anos de uso abusivo, provoca a degeneração do órgão. As células são destruídas e viram cicatrizes. Um fígado cirrótico perde a capacidade de metabolizar nutrientes e impede a passagem de sangue e de água pelo órgão, provocando, num estágio grave, a ascite, ou "barriga d'água".

Pâncreas - O pâncreas é responsável pela produção de insulina e de enzimas digestivas. Em excesso, o álcool provoca a inflamação desse órgão, a chamada pancreatite, que pode resultar na destruição das células que produzem insulina (levando a uma diabetes) e das que produzem as enzimas digestivas (levando a uma síndrome de má absorção). Provoca dor abdominal e vômitos.

Coração - O álcool provoca um alargamento das fibras do coração, resultando em uma doença cardíaca que pode provocar até a insuficiência do órgão.

Intestino - Assim como o estômago, o intestino pode desenvolver uma úlcera por conta da inflamação das células ou ainda um câncer, além da síndrome de má absorção.

Músculos - O álcool interfere na absorção de vitaminas do complexo B, importantes na transmissão nervosa entre o nervo e a placa motora. Isso provoca uma atrofia muscular, a chamada polineurite alcoólica. Com isso, os músculos ficam enfraquecidos, mais finos, e o usuário crônico passa a ter dificuldade de andar.

Ossos - O álcool enfraquece os ossos, provocando a osteoporose.

Aparelho reprodutor - O uso crônico do álcool provoca alteração nos vasos sangüíneos de todo o corpo. Nos homens, ele pode ter ação nos vasos do pênis, provocando a impotência. Além disso, pode inibir a produção de hormônios que ajudam a produzir os espermatozóides, causando infertilidade no homens. Mulheres que bebem durante a gravidez podem gerar bebês com síndrome fetal alcoólica, uma alteração genética que provoca deformações físicas e retardo mental.

O álcool e as mulheres
As mulheres são muito mais vulneráveis ao álcool do que os homens. Elas têm mais gordura e menos água no organismo, o que dificulta a metabolização da substância no caso de uma intoxicação de álcool. Além disso, há hormônios femininos que reagem mais rapidamente com o álcool e provocam o aparecimento de doenças mais cedo do que nos homens.

Tem o lado bom...
>> Além do prazer proporcionado pelo sabor e até pelo efeito levemente entorpecente que o álcool em pouca quantidade provoca, há teorias sobre os benefícios que ele poderia trazer ao coração. Estudos europeus identificaram que uma ou duas taças de vinho por dia poderiam proteger de doenças cardíacas. A bebida provocaria uma discreta dilatação dos vasos sangüíneos, evitando o aumento da pressão arterial.

>> Esses dados, no entanto, estão longe de ser consenso médico. "Esse tipo de estudo foi realizado com homens jovens europeus sem predisposição para doenças cardíacas. É um universo muito específico, não poderia ser generalizado para toda a população", contesta a psiquiatra Ana Cecília Marques.

Dicas para reduzir os danos
- Não beba álcool para matar a sede
- Entre uma dose e outra, beba água
- Prefira bebidas com baixa dosagem alcoólica
- Não encha seu copo até ele estar vazio; dê goles pequenos
- Coma antes de beber. A bebida vai demorar mais para ser absorvida
- Não beba se você estiver grávida. Pode prejudicar seriamente a saúde do bebê
- Não beba se você for dirigir. Você pode colocar a sua vida e a de outras pessoas em risco
- Se você bebe com regularidade, tenha pelo menos dois dias sem bebida por semana
- Não beba para lidar com o estresse. Exercícios físicos, meditação e conversas com os amigos são maneiras mais seguras


Fonte: Arthur Guerra (presidente do Centro de Informações Saúde e Álcool), Ana Cecília Marques (pesquisadora da Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp), Anthony Wong (toxicologista da faculdade de medicina da USP), The Liver Center (organização australiana sem fins lucrativos que reúne gatroenterologistas)

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